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26 de setembro de 2009

A AVÓ DAS HAVAIANAS E A CENSURA


Tiraram o comercial das novas Havaianas, em que a avó sugeria à neta que “desse” para o galãzinho da Globo. O que rola no comercial? Um duelo entre as duas mulheres para provar quem é mais moderna. A garota acusa a velha de ser ultrapassada por reclamar o uso de uma sandália num restaurante chic. Isso diz que a avó em questão segue a etiqueta, o código normativo de comportamento coletivo. Senão, ela não reclamaria. Diria: “Olha que moderna você é, assim como eu. Usa sandália num lugar onde deveria usar sapato e eu só dou força”. Mas ela fez o contrário, reclamou do relaxamento da outra.

Isso significa que a avó se preocupa com a imagem da neta, quer que ela se vista bem, se apresente de maneira adequada num restaurante fino. Normalmente, essa exigência está ligada a um objetivo óbvio: a de que a neta, bem vestida e apresentada, possa arrumar alguém para namorar e casar. Ou seja, na hora que a avó se manifesta contra a displicência da adolescente, ela mostra de que lado está, do lado do casamento, do relacionamento duradouro e oficializado.

Há um consenso sobre isso, tanto é que na fala seguinte, quando a velha sugere o galã da Globo para um namoro, a moça observa que deve ser chato casar com celebridade. O casamento está implícito no conhecimento mútuo. A neta sabe que a avó se preocupa com o encaminhamento dela, neta, para a vida adulta, e isso se faz por meio de uma roupa apresentável, sapato certo na hora certa etc. Nem passa pela cabeça da adolescente que a avó , de uma hora para outra, vá mudar de time.

Mas é o que acontece e aí está o impacto do apelo publicitário. A vovozinha finge que nem se referia ao casamento, como estava implícito desde o primeiro momento. Ela, para se mostrar moderna, diz que só pensou em sexo, o que é, notoriamente, mentira. Só é verdade se invocarmos a sublimação: no fundo, era a velha que queria transar com o garotão e usou a neta e a chamada revolução dos costumes como álibis. Mas a avó só queria ganhar o duelo e por isso apelou. É lógico que ela pensou num bom partido, famoso, jovem, bonito e rico, para a neta anônima, mas bonita e bem vestida. Se pintasse casamento, a velha senhora poderia até, nos almoços de domingos, tirar uma lasquinha. Como a netinha aprontou, chamando-a de ultrapassada, ela chutou o balde.

A avó deve estar com uma idade acima dos 55 anos, portanto faz parte da minha geração, que tentou romper os paradigmas sexuais liberando geral. Acabou todo mundo casando, pois relacionamento não é uma festa, implica descendência, solidariedade, destino, dor, prazer, coisas sérias demais para levar na gandaia. Mas ficou o resquício, a imagem, a vontade de não dar o braço a torcer. Ficou a pose. Todo mundo que se considera revolucionário acha que meter a esmo “não tem nenhuma” porque isso está ligado com a imagem da modernidade.

O sexo sem responsabilidade é mais antigo do que andar de a pé. Existe desde sempre. Mas como as novas gerações encontram os adultos já ressabiados, convencidos de que sexo faz parte de algo mais profundo, que tem a ver com coisas pesadas como a sobrevivência, psicológica ou física, então lhes parece, aos jovens, que os adultos são uns babacas que ficam se podando, quando o negócio é sair metendo bronca. Sabemos que a gravidez precoce hoje é pandemia. Tem a ver com essa moda, que pegou, já que os adultos, muitos ex-jovens radicais da revolução dos costumes, não se convenceram ainda e disseminam pela mídia, as ruas e praças a boa nova de “vamos fazer isso em plena rua” como dizia John Lennon.

A gandaia virou negócio milionário e temos a Madonna, com 230 anos, se achando gostosa e sacudindo as partes em público. Nas novelas, o roça-roça permanente e explícito nas inúmeras variações, significa apenas uma coisa: apelação pura e simples para ganhar índices positivos no Ibope, já que, para um povo escravo, endividado, castrado, sexo fácil disponível gera uma grana fabulosa. Mas por que não proíbem essa putaria geral e se invocaram com a velhinha? Porque o comercial mostra como o último reduto do sexo seguro, o casamento com amor, está sendo desmoralizado pelos que deveriam dar o exemplo. Isso pegou forte.

Não deveriam proibir o comercial, mas decifrar suas inúmeras mensagens. Nem adiantou, porque agora o filminho está na rede para quem quiser ver. Censura é besteira. O que devemos nos perguntar é se vamos ficar fazendo pose de “jóóóvens” à custa das novas gerações, que precisam do nosso exemplo e não das nossas partes baixas, nem de conselhos sacanas disfarçados de modernidade.

RETORNO - 1.Imagem desta edição: Lucia Berta no papel da avó. 2. Parece que Obama não gostou da chavecada do Berlusconi para cima da primeira dama americana, nas fuças de todo mundo. O italiano escroto comportou-se como o abominável que é fazendo gracinhas para a mulher do outro, olhando-a de alto a baixo e exclamando: "Fantástica", como se tivesse o direito de fazer isso. Ué, quando olhou para a brasileira menor de idade no encontro de cúpula, Obama parecia à vontade. Não gostou? Sentiu como dói uma saudade?

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