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7 de agosto de 2009
PÁSSARO
Nei Duclós
É breve o pássaro
que ofusca a treva
e enfrenta a obscura
flor da ante-manhã
que antepõe o sol
à negra névoa
Por um instante o vôo
pousa o turvo manto
um relâmpago faz
o corpo estremecer
mas vence o véu da viúva
e tudo tarda
Por isso o pássaro
emudece o canto
depois de amanhecer
(Do livro "Partimos de Manhã")
RETORNO - 1. Imagem desta edição: Santo Antônio de Lisboa (praia aqui da ilha), foto de Ida Duclós. 2. O considerado Mestre Moacir Japiassu publicou como epígrafe, na sua festejada e importante coluna Jornal da ImprenÇa desta semana, no Comunique-se, um trecho deste poema e o colocou na íntegra no seu Blogstraquis. Diz Japi: "Leia no Blogstraquis a íntegra de Pássaro, cujo fragmento encima a coluna. Insere-se no livro intitulado Partimos de Manhã, obra-prima de um poeta que levanta com esforço as âncoras e parte nas naus sem volta do seu canto".
3. A imagem usada por Japi é outra citação de outro poema meu, "Apesar de tudo", que foi publicado no meu livro de estréia, "Outubro":
APESAR DE TUDO
Nei Duclós
Apesar de tudo
sou teimoso
e vivo
sou teimoso e visto
a pele dos soldados mortos
Neste carrossel de espanto
que carrego dentro dos olhos
toco melodias
que me ressuscitam
Levanto com esforço
as âncoras
e parto nas naus sem volta
do meu canto
E sempre tenho que mudar as velas
arrebentadas de vento
com remendos colhidos
dos violentos panos do tempo
O tempo é novo
e eu tenho a mania insone
de rebentar em pranto
Mas sou teimoso e insisto
sou teimoso e visto
a pele dos soldados mortos
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