Nei Duclós
Estão chamando o Avaí de esquadra azzurra . O motivo é que ambas as camisetas, a do chamado Leão da Ilha e da seleção italiana teatracampeã do mundo, teriam a mesma cor, azul. Só que a cor oficial do Avaí é o azul e a da Itália não é o blu, é o azzurro, que é outra coisa. O azzurro é uma cor base do azul, assim como o rosa é do vermelho. Chamar azul de azzurro seria o mesmo que chamar colorado de cor-de-rosa. Isso daria briga na certa. Numa definição da enciclopédia, “o azzurro é a cor do céu limpo, a do mar perto da costa e pode indicar um gama de tonalidades entre o celeste e o turquesa, ou ainda ser mais claro. A etimologia se reporta à cor da pedra lapislazuli”.
O céu pode ter vários tipos de azul. Conhecemos o blu di pinto de blu, o azul pintado de azul, do Domenico Modugno da canção Volare. Mas é melhor deixar os italianos com seu azzurro e manter o Avaí no azul tradicional, pois lá essa especificidade define uma nação, é sua grande representação, significa a unidade nacional italiana, que sempre foi um conjunto de nações independentes até que no século 19, a ferro e fogo, depois de séculos de guerra, virou o país que conhecemos. Como a Espanha, que luta contra o separatismo, a Italia também sofre dessa doença, basta ver como os sicilianos se sentem em relação ao norte do País, e vice-versa. Os italianos se definem mais pelo lugar de origem do que pela Italia propriamente dita.
É como aqui: ninguém é brasileiro até o momento em que o capitão Dunga levanta a taça e grita: “Está aqui esta merda, porra!” Aí somos brasileiros. A diferença é que lá, quando o Baggio joga a bola para os eucaliptos num lance decisivo da Copa do Mundo, ninguém cospe na bandeira nacional nem pede cidadania de cachorro paraguaio, como aqui, quando o Roberto Carlos vai arrumar as meias e os franceses entram com tudo. Bem, estava falando de um assunto sério, o azzurro como símbolo da Itália. Qual a origem disso?
A enciclopédia nos mostra que a origem da cor se refere ao 20 junho de 1366, quando o Conde Amedeo VI di Savoia, parte para uma cruzada, encomendada pelo Papa Urbano V, em auxílio do seu primo, o imperador bizantino John V Palaeologus. Di Savoia quis que a sua bandeira, a ser colocada numa frota de 17 navios e 2000 homens, fosse a cor do céu consagrado a Nossa Senhora, representada por sua imagem rodeada de estrelas de ouro. Esse azul específico, o azul di Savoia, sofreu diversas modificações ao longo do tempo até se transformar no atual azzurro, usado em todas as cerimônias oficiais da Itália.
É uma bela história, que define uma nação e seu povo. Não precisa ser copiada, num equívoco básico, passando por cima de tantos elementos históricos. É verdade que os azuis se atropelam na geléia geral da midia e insistir nisso poderia ser considerado pura perda de tempo, com repercussão zero. Mas pesquisei um pouco porque implico com a tendência de nos reportar a times e seleções de outros países. Isso virou moda de um certo tempo para cá. O futebol brasileiro pentacampeão do mundo acabou sendo punido, se transformou em celeiro de craques para times estrangeiros. Celeiro é uma palavra que se refere ao ambiente da roça e não a de uma civilização atlântica, como queria Glauber Rocha.
A garotada passou a usar a camiseta do Milan ou a do Real Madrid. Ou até mesmo a Azzurra quando alguém se considera “um bom italiano”, como dizem de sua linhagem os brasileirinhos desterrados, há muitas gerações, da Bota. Mas com a volta de Ronaldo e Adriano, e o Brasileirão pegando fogo, com exemplos heróicos como o do Avaí, que arrancou da lanterna para a décima posição em seis jogos, parece que a situação está revertendo. Os times brasileiros voltaram ao seu tradicional carisma e é bom que a cartolagem aproveite isso, pois há mais dinheiro em times consolidados com seus craques do que a venda compulsiva de talentos para qualquer transilvano que chegue sacudindo rúpias.
Há orgulho de vestir as cores do time. As do Avaí são a azul e o branco e não o azzurro italiano. O Avaí não precisa se mirar em exempos de fora. É time brasileiro, e de primeira grandeza. Quando aportei aqui vários amigos tentaram me empurrar para a torcida do Avaí. Mas não tenho mais time nenhumn, a não ser dois: o Esporte Clube Uruguaiana e o Guarani Futebol Clube, também da minha cidade e que ajudei a fundar quase cinquenta anos atrás. Já fui corintiano e gremista, não sou mais. Torço para todos os que mostrem o melhor futebol. É o caso do Avaí, que tem um baita equipe, um goleiraço e pode aprontar muita coisa ainda, o glorioso azul e branco aqui da ilha.
RETORNO - 1. Imagem desta edição: os azuis da Lagoa da Conceição e do céu da ilha, foto de Miguel Duclós. 2. Tinha errado o título desta edição. Agora está certo.
Colore | ||||||||||||||||||||||||
| ||||||||||||||||||||||||
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário