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18 de julho de 2009
GRIPE SUÍNA: O PODER LAVA AS MÃOS
Nei Duclós
O Jornal Nacional ensina: a única prevenção contra a pandemia é lavar bem as mãos. É fácil: você deixa a água escorrer, diz a reportagem, molha as mãos e massageia com sabão, depois enxágua (é a pura verdade, eles foram bem didáticos). Viu? Assim você poderá evitar o vírus que, claro, circula livremente pelo país. Quem acreditava que eles poderiam monitorar o que quer que fosse?
Monitorar é o verbo da hora. Tem o mesmo significado de estado de alerta: todo mundo de olho parado, depois vão dormir. Quando uma cidade decreta calamidade pública, significa que não tem mais jeito, fodeu. Assim é a gripe mortal. Veio, se espalha e mata. Mas não invente de sentir medo. Nada de pânico, que o governo não gosta. Não saia gritando que nem louco. Não tem vacina, nem leitos, nem remédios suficientes. Fique frio. Cool, man, cool. Que isso passa. Ou, como disse o médico entrevistado, “se desdobra até o óbito”.
Primeiro, a culpa era do México. Depois, dos Estados Unidos. Não demorou e los hermanitos pegaram a dianteira. Aí veio vindo, veio vindo até o estado gaúcho. Mas já foi formada uma força-tarefa. Uma assessoria especial. Um conselho curador. Funciona assim. Você unge meia dúzia de apaniguados, todos sem conhecimento nem tempo para fazer qualquer coisa e isso transmite tranqüilidade à nação abandonada. Basta um deles dar uma entrevista de vez em quando e pronto. Está resolvido.
Mientras tanto, pessoas desesperadas, com pneumonia, precisam aguardar na fila, no frio, cruzar a madrugada ao relento, para ser internada ou atendida na manhã seguinte. Morre obeso, morre jovem, morre mulher, morre criança. Normal. Nada de se escabelar. O troço não tem cura. Soube que a Holanda comprou duas doses de uma vacina ainda em fase experimental (melhor do que nada) para cada habitante do país. Para isso servem os governos: para proteger, assistir a população. Para isso existem países: para que seus habitantes possam sobreviver.
Mas não aqui, em que sucessivos governos se esmeram no papel de serial killers. Policia mata oito numa blitz, mulher dá facada em marido, carro sobe na calçada e atropela até a morte três. Mas não tem perigo. Cada dia nasce um novo e gigantesco pedágio. O leite sobe cinco centavos ao dia. O pacote de pão é cada vez menor, limitado pelo poder aquisitivo. Mas a reportagem não cansa de provar quitutes. Hummm, está muito bom.
Já viram a carnificina das sete horas da noite na Band? Louco seqüestra funcionário que veio ler o relógio da luz e o tortura por um dia inteiro. Policiais fazem parte de quadrilhas gigantescas. Balas perdidas matam inocentes a torto e direito. Aí você passa para a Globo e a novela é Paraíso. A Globo dissemina o equilíbrio social: todos zen, mortos de fome mas se regalando com a comilança das novelas, imagem nítida e super-colorida, hare baba fio do demo ara.
Dá vontade de pedir minha cidadania de cachorro paraguaio, como dizia o Tarso de Castro.
RETORNO - 1. Imagem desta edição: Ecce Homo ("Eis o homem"), pintura de Antonio Ciseri, representando a apresentação de Jesus Cristo por Pilatos à população de Jerusalém. 2. Morre Walter Conkrite: o jornalismo clássico se despede. Volta, jornalismo, volta vocação das nossas vidas, venha informar, desmascarar de novo a tirania, venha ver o sangue sobre os campos e as cidades.
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