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22 de maio de 2009

SEPARATISMO


Nei Duclós

Costumam fazer enquetes sobre um novo país, formado apenas pelos estados do Sul, com expressivos índices de aprovação. Algumas pesquisas incluem São Paulo e só mesmo o desconhecimento mútuo poderia juntar paulistas e a indiada da fronteira. Parece que a idéia do separatismo ganha força à medida que cresce a decepção com essa coisa que nos cobra tanto imposto e que só serve para alimentar corruptos, defender direitos humanos de bandidos, encher os bolsos dos vagabundos com as esmolas do governo, liberar assassinos confessos, entre outros expedientes, como o índice pluviométrico de crimes.

Eu também vou aderir a idéia do separatismo. Acho bom que São Paulo seja incorporado às margens do rio Uruguai. Ou que a araucária seja o símbolo da região do Ibicuí. Seria maravilhoso que o chapéu de caubói do interior paulista fosse adotado em Itaqui, ou que as esporas fossem usadas no Bexiga. Teríamos um país de Primeiro Mundo, mas não seria o ideal. Sugiro algumas pequenas mudanças na idéia original, sem querer desfazer as bases dessa genial solução para todos os nossos problemas.

Esquecem de incluir Minas e seria de muito bom tom convidar não o Aecinho, mas Milton Nascimento. Seríamos compatriotas do Clube da Esquina, já pensou? Haveria problema em comer carne de búfalo xucro dos sertões mineiros, mas meus olhos faíscam só em pensar numa potência, com Minas sendo o famoso “plus a mais”, invenção suprema da linguística tautológica. Mas assim mesmo o separatismo, que não daria bola para esses botocudos horrendos que habitam as outras regiões, não seria assim de última geração se não comportasse ou convidasse o Rio de Janeiro.

Ah, o Rio do Tom, do Chico, do Cartola, do Vinícius. Bom lugar para uma capital, não é mesmo? Assim teríamos a bossa unida a Carlos Drummond de Andrade, as garotas de Ipanema tomando mate, o Pão de Açúcar sendo símbolo de uma nação que não se restringiria ao Itaimbezinho ou à praia da Joaquina. O Rio traria o charme necessário, mas a emenda não ficaria completa se não fosse incluído o Espírito Santo, que é o mar de Minas e praticamente uma continuação do Rio. E para não perder a pose e incrementar ainda mais o separatismo de Primeiríssimo Mundo, anexaríamos a Bahia, com Salvador e tudo.

Já pensou? Combinar Jayme Caetano Braun e Caetano Veloso? O Recôncavo e a região dos Lagos? Pelotas e Feira de Santana? O mundo se deslumbraria com esse lugar maravilhoso que criaríamos com nosso furor separatista. E para assombrar mais ainda os gringos, teríamos a manha de incluir no projeto o Nordeste inteiro, pois é de lá que vem as olindas, os mamulengos, os arrecifes, a Paraíba , o Luiz Gonzaga e toda aquela riqueza infinitamente fantástica que faria a glória de um novo membro das Nações Unidas.

E já que tem muita gente de olho na mata, anexaríamos a Amazônia, com Amapá, Roraima, Manaus, Ver-o-Peso e tudo o mais. E sendo assim, ainda, de quebra, colocaríamos no novo mapa os dois Mato Grosso, mais Goiás e Tocantins. Pronto. Estaria assim feito o carreto. Uma nação orgulhosa, à parte, que começaria tudo de novo e teria em praça pública seus grandes heróis, como o Andrada da Independência, que não deixou os ingleses comprarem a ilha de Santa Catarina, mais Caxias, Osório, Zumbi, princesa Isabel, Dom Pedro II e todos os cidadadãos que deram seu sangue para nos separar de franceses, holandeses, castelhanos, portugueses.

Proponho que batizem o novo território de Brasil. Soa bem. E quando a gente ouvir o hino que escolhermos para ele, não só levaríamos a mão no peito e cantaríamos a letra inteirinha, do Virandô ao Berço Esplêndido. Mas também choraríamos de emoção, pela honra de pertencer a um legado de tanta luta e tanta grandeza. E quando alguém quisesse vir com idéia de desmembrar o novo território, que chamaríamos de Pátria Amada, não teríamos dúvidas. Pegaríamos em armas.

RETORNO - Imagem desta edição: Batalha dos Guararapes, quadro de Vitor Meirelles. Foi quando essa impossibilidade teórica, o Brasil, começou a existir de fato. Os holandeses, que hoje nos adoram, segundo testemunho de Daniduc, que mora em Amsterdam, gostam de lembrar que foram expulsos daqui a pau. O que eles não perdoam são os alemães, que invadiram a Holanda na Segunda Guerra. Eis a diferença. O país que se defende, mora no coração até dos adversários. O que invade é odiado em qualquer parte do mundo.

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