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16 de maio de 2009

OBAMA VISITA O ARQUITETO


Nei Duclós

A mídia ficou surpresa com a decisão de Obama, o presidente com pinta de novidade, de manter os tribunais militares em Guantánamo. Menos o Diário da Fonte. Quando houve aquela euforia de “sem medo de ser feliz” e “sim nós podemos”, e que o mundo enfim tinha mudado, fizemos a advertência. Agora soubemos de mais detalhes sobre as concessões radicais do atual governo depois de alguns sinais aterrorizantes, como a crise financeira e a gripe suína. A capitulação aconteceu recentemente, quando Obama foi obrigado a visitar o Arquiteto.

Sim, é aquele mesmo do Matrix. A Força 1, o avião presidencial, se dirigiu ao local do encontro tripulado por pilotos designados pelo próprio Arquiteto. A substituição na cabine de comando foi feita depois que um comissário de bordo e uma aeromoça, que eram agentes infiltrados, tiraram as máscaras e, revelando as caratonhas assustadoras de Nixon e Reagan entraram na salinha do manche, eliminaram o comandante e seu sub a tiros de escopeta (para humilhar). Forçaram então o pouso em direção a uma região inóspita, em pleno Caucaso, num altiplano que eles chamam de Xangrilá. O ambiente lá é paradisíaco, tudo manipulado pelas técnicas de bombardeio da ionosfera, as mesmas que provocaram o furacão Catarina em 2003, o único evento ciclônico do hemisfério sul.

Obama desceu do avião meio ressabiado e quase aos empurrões foi levado para uma construção gigantesca, idêntico a um hangar que deveria abrigar aeroplanos do tamanho de transatlânticos. Permaneceu sentado por uma duas horas até que veio um gendarme com farda azul cerúlea e botões dourados, com um quepe que ostentava um penacho azul . O guarda levou o presidente até o fundo do hangar, onde existia enorme porta, que foi aberta de par em par. Obama entrou numa sala toda atapetada, com um trono ao fundo. Foi quando ele viu o Arquiteto.

- Como foi a viagem, presidente? perguntou o Arquiteto, que vestia um Armani de última geração.
- B-b-bemmm, disse Obama, com medo de dizer algo impróprio.
- Parece que o senhor enfim resolveu me ver. Fez bem, disse o Mestre, pois eu estava propenso a desencadear uma tempestade de neve em Washington tão gigantesca que formaria uma crosta polar por séculos.
- Não é preciso, Excelência, disse Obama. Já entendi quem manda no mundo. Além do mais, acredito que Vossa Majestade não faria isso de jeito nenhum, pois o considero um patriota.

O Arquiteto olhou o presidente eleito fuzilando-o com seus olhinhos azuis apertados e foi aos poucos levantando a cabeça para seu gesto poder abarcar a grande gargalhada que se seguiu e que durou uns vinte minutos. Refeito da demonstração de força, o Arquiteto foi explícito:
- Sabe o Bush, aquele cachorrinho que fazia tudo o que eu mandava? Pois ele precisa ser preservado.
- Como assim, Magnânimo?
- É o seguinte. Tudo o que ele fez vale, entendeu? Tribunal militar em Guantânamo, transferência de suspeitos sem julgamento para países distantes, tortura, massacres....Aliás, dê meus parabéns para a sra. Clinton, ela fez exatamente o que mandei e matou uns 500 civis afegãos.
- Foi horrível, ó Ogro do Universo.
- Foi nada. Espere para ver o que tenho preparado em termos de tornados, vírus mutantes, tsunamis e o escambau. Vou cercar tua presidência de tanta brutalidade que quero ver tu posar de comediante diante das câmaras. Ah, me lembrei: pára de debochar do Liula-là, nosso homem na South American Way. Ele merece respeito. É o sujeito mais desastrado e completo que conheço. Serve como uma luva. Tão bom quanto o Honoris Causa, aquele bocó.
- Ele é o cara.
- Pois não diga isso. Todos desconfiam.
- Desconfiam nada, Magnífico. Todos acham o máximo minhas piadas.
- Comporte-se. Olhe o que fizemos com o Kennedy. E o Lincoln, aquele protetor de negrinhos como tu.

O Arquiteto deu por encerrada a sessão. Suspirou fundo, olhou para o infinito e rodou sua cadeira de espaldar alto, ficando de costas para Obama.
- Posso ir, Meretíssimo? perguntou o presidente.
- Pode, bundão. Antes de tomar o avião, sirva um cafezinho para o guarda.

RETORNO - Imagem desta edição: o Arquiteto, da série Matrix. Dispensa apresentações. Matrix é um clássico.

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