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21 de fevereiro de 2009

A SOLIDÃO EM PAULA OLIVEIRA


Como pode uma pessoa que está muda, ou seja, que ninguém vê ou ouve, apesar de se situar no centro de uma tragédia internacional, confessar alguma coisa? Como pode um marido não se pronunciar nem mesmo sobre a gravidez ou não da mulher? Como pode um argumento tão nefasto e pífio como a auto-imolação em troca de 200 mil reais colar e todo mundo sair repetindo como se pertencessem a um genoma de papagaios sinistros? Como podem colocar a culpa na vítima sem ter feito nenhuma investigação, dando tempo aos suspeitos armarem o álibi que bem entenderem?

Sem apoio do marido, do governo, da mídia, da opinião pública nos cinco continentes, sem acesso aos bilhões de canais existentes para a livre expressão e que num momento desses se revelam inúteis, Paula Oliveira hoje é o nome da solidão. Ferida, acuada, apavorada, ele tem na sua frente os verdugos, que vão interrogá-la na quarta-feira de cinzas, um pai presente, mas cheio de dúvidas, uma consulesa que parece ter saído de uma história infantil de horror porque fala como se estivesse dando apoio, mas emite um ar de desaprovação e indiferença assustadora, pontuada por roupas finas e um ar blasé.

Na internet, sobram exemplos dos novos catequistas, subitamente ungidos em arautos da isenção e do anti-patriotismo, em nome do bom mocismo da globalização informativa, a mesma que concentra tudo em monopólios, destrói a reportagem e manipula as notícias em infindáveis mídias. É de vomitar o tom advertinte e de dedinhos levantados de blogueiros e jornalistinhas anódinos a dar dizidas a torto e a direito, condenado um jornalista que agiu corretamente, que foi o Noblat, que fez uma denúncia baseado em fatos e evidências. Mas bastou um meganha suíço levantar a suspeita para todo mundo levar as mãos na cabeça.

O caso está praticamente encerrado, em detrimento da vítima. Não há como reverter, pois tudo já foi determinado. Agora é colocar panos quentes, pedir perdão, bater amigavelmente na cabeça da mulher estuprada, violentada, cortada, sangrada. Não permitir que ela continue insistindo nessa coisa fora de moda, a verdade. O que vale é a versão policial truculenta, que se ainda tivéssemos jornalismo não se sustentaria um segundo. Mas o que temos é uma rede de concordinos, replicantes, cloneiros, repetidores, com suas sacadas ungidas pela mesmice, a má fé, a ignorância e o medo.

Paula Oliveira, estamos contigo. Não sabemos o que dizer agora. Colocam palavras na tua boca, insinuam que és louca, alucinada, que sofres de lúpus, seja isso o que for. Mas a verdade é que colheram tua vida em pleno vôo. Que foste violentada sob os olhos do mundo e todos te acusaram de criminosa. Não te deram voz nem chance. Simplesmente te julgaram e ameaçam te colocar na cadeia.

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