Nei Duclós
The Night of the Hunter, o celebrado filme de Charles Laughton de 1955, que ultimamente tem sido considerado melhor e mais importante do que Cidadão Kane, é um conto de fadas bizarro e assustador, levemente inspirado no clássico João e Maria, uma lenda de tradição oral alemã recolhida e reescrita pelo irmãos Grimm. Trata-se de um filme de extrema atualidade, pelo que vemos no noticiário, em que as crianças são vítimas de todas as espécies de crimes, desde o leite contaminado com melanina vindo da China, o cartel da máfia que manipulava merenda estragada nos colégios públicos de São Paulo e a morte em massa de crianças na Nigéria em função do consumo de um remédio dental.
No filme, baseado na novela de Davis Grubb, com roteiro de James Agee e sob a magnífica direção de fotografia de Stanley Cortez, o casal de crianças é perseguido por um falso pastor, interpretado por Robert Mitchum, antológico, porque conhecem o segredo do roubo de uma fortuna escondida pelo pai, um condenado à forca. Abandonados pela mãe, que se torna fundamentalista por excesso de culpa, pelo tio, que tem medo de ser acusado de um assassinato que não cometeu, os dois acabam se refugiando num orfanato mantido por uma senhora religiosa.
A sociedade e as autoridades negam-lhe o apoio e a presença, que era tão explícita na hora de perseguir o pai ladrão. Eles rolam rio abaixo, perseguidos pelo assassino psicopata, que age impunemente, escudado no fascínio religioso gerado pela repressão e a ignorância. É o que temos hoje: as autoridades são cúmplices da perseguição e morte das crianças, enquanto todos falam em ética e bons costumes. O sujeito que decidia sobre as licitações das merendas terceirizadas (ah, as privatizações, que crime!) , mudou de lado e acabou formando um cartel que usufruía da bufunda pública investida na alimentação infantil. O governo chinês, que só pensa no lucro (e se dizem comunistas, ha ha ha), permite que suas empresas distribuam falsos alimentos contaminados para todo o mundo.
Segundo a Folha, “o escândalo surgiu em setembro, quando autoridades chinesas denunciaram que o leite em pó da companhia Sanlu estava causando pedra nos rins de bebês. A melamina é uma substância tóxica utilizada na fabricação de colas e resinas. A adição do produto faz com que o percentual de proteínas do leite pareça mais elevado e oculta a adição de água na bebida.” Enquanto isso, “um medicamento dental com uma substância tóxica causou a morte de 84 crianças na Nigéria, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira pelo ministério da Saúde”.
Na história infantil, João e Maria são abandonados pelos pais e acabam chegando numa casa feita de doces e chocolates, habitada por uma bruxa que devorava crianças. A bruxa, no filme, é o falso pastor, que com seus salmos e rezas promete a salvação. Ele encarcera as crianças e as tortura para obter a informação. Mata a mãe para conseguir o que quer, ter os dois à disposição. No filme, a mulher que acolhe as crianças é a fada boa, religiosa de verdade, que acredita na resistência das crianças, que irão sobreviver. Um conto de fadas com lição de moral no fim, mas que denuncia a responsabilidade criminosa dos adultos em relação aos quem chegam ao mundo e são indefesos.
The night of the Hunter: o filme feito para nos alertar, é uma assombração magistral de Charles Laughton, o inteligentíssimo e supertalentoso ator, que numa só obra como cineasta fez História. Não poldemos deixar de destacar também as atuações, magníficas de Shelley Winters, bem mocinha e linda, como a mãe dos garotos, Lillian Gish, como a dona do orfanato, James Gleason como o velho marujo culpado e Evelyn Varden, como a execrável matrona que alcoviteia o casamento com o assassino.
RETORNO - Imagem desta edição: cuidado, que Robert Mitchum vai te pegar!
The Night of the Hunter, o celebrado filme de Charles Laughton de 1955, que ultimamente tem sido considerado melhor e mais importante do que Cidadão Kane, é um conto de fadas bizarro e assustador, levemente inspirado no clássico João e Maria, uma lenda de tradição oral alemã recolhida e reescrita pelo irmãos Grimm. Trata-se de um filme de extrema atualidade, pelo que vemos no noticiário, em que as crianças são vítimas de todas as espécies de crimes, desde o leite contaminado com melanina vindo da China, o cartel da máfia que manipulava merenda estragada nos colégios públicos de São Paulo e a morte em massa de crianças na Nigéria em função do consumo de um remédio dental.
No filme, baseado na novela de Davis Grubb, com roteiro de James Agee e sob a magnífica direção de fotografia de Stanley Cortez, o casal de crianças é perseguido por um falso pastor, interpretado por Robert Mitchum, antológico, porque conhecem o segredo do roubo de uma fortuna escondida pelo pai, um condenado à forca. Abandonados pela mãe, que se torna fundamentalista por excesso de culpa, pelo tio, que tem medo de ser acusado de um assassinato que não cometeu, os dois acabam se refugiando num orfanato mantido por uma senhora religiosa.
A sociedade e as autoridades negam-lhe o apoio e a presença, que era tão explícita na hora de perseguir o pai ladrão. Eles rolam rio abaixo, perseguidos pelo assassino psicopata, que age impunemente, escudado no fascínio religioso gerado pela repressão e a ignorância. É o que temos hoje: as autoridades são cúmplices da perseguição e morte das crianças, enquanto todos falam em ética e bons costumes. O sujeito que decidia sobre as licitações das merendas terceirizadas (ah, as privatizações, que crime!) , mudou de lado e acabou formando um cartel que usufruía da bufunda pública investida na alimentação infantil. O governo chinês, que só pensa no lucro (e se dizem comunistas, ha ha ha), permite que suas empresas distribuam falsos alimentos contaminados para todo o mundo.
Segundo a Folha, “o escândalo surgiu em setembro, quando autoridades chinesas denunciaram que o leite em pó da companhia Sanlu estava causando pedra nos rins de bebês. A melamina é uma substância tóxica utilizada na fabricação de colas e resinas. A adição do produto faz com que o percentual de proteínas do leite pareça mais elevado e oculta a adição de água na bebida.” Enquanto isso, “um medicamento dental com uma substância tóxica causou a morte de 84 crianças na Nigéria, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira pelo ministério da Saúde”.
Na história infantil, João e Maria são abandonados pelos pais e acabam chegando numa casa feita de doces e chocolates, habitada por uma bruxa que devorava crianças. A bruxa, no filme, é o falso pastor, que com seus salmos e rezas promete a salvação. Ele encarcera as crianças e as tortura para obter a informação. Mata a mãe para conseguir o que quer, ter os dois à disposição. No filme, a mulher que acolhe as crianças é a fada boa, religiosa de verdade, que acredita na resistência das crianças, que irão sobreviver. Um conto de fadas com lição de moral no fim, mas que denuncia a responsabilidade criminosa dos adultos em relação aos quem chegam ao mundo e são indefesos.
The night of the Hunter: o filme feito para nos alertar, é uma assombração magistral de Charles Laughton, o inteligentíssimo e supertalentoso ator, que numa só obra como cineasta fez História. Não poldemos deixar de destacar também as atuações, magníficas de Shelley Winters, bem mocinha e linda, como a mãe dos garotos, Lillian Gish, como a dona do orfanato, James Gleason como o velho marujo culpado e Evelyn Varden, como a execrável matrona que alcoviteia o casamento com o assassino.
RETORNO - Imagem desta edição: cuidado, que Robert Mitchum vai te pegar!
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