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21 de dezembro de 2008

VAMOS CHEGAR A UM ACORDO?


Tem coisa que precisa ser enfrentada com o verbo duro e a esperança de que tudo mude de fato. Vamos dar a resposta por itens:

Crise é crise, oportunidade é oportunidade. Uma coisa não gera a outra, pois ambas não tem nada a ver entre si. Você não enxerga tua casa no meio da lama como a grande oportunidade de aparecer no noticiário, por exemplo. Você enxerga a casa na lama, ponto. Se você passar no concurso, isso não vai gerar crise nenhuma, é a tua chance. Ponto final. Estamos então de acordo sobre isso? Chega de ideograma chinês? Só existe oportunidade na crise para os oportunistas. Você recolher um tênis do donativo para seu filhão, por exemplo.

O mundo não mudou em 2008. Só porque elegeram um americano formado em Harvard, senador democrata, com carreira normal na política do Império, que convoca para seus assessores as pessoas mais tradicionais do mundo, não quer dizer que o mundo mudou só porque ele é negro. Ele foi eleito porque faz parte do establishment do seu país, não porque faça parte de Burundi, Moçoca ou Congo profundo. E o mundo não mudou só porque a ciranda financeira foi desmoralizada. Para que ela acabe precisa de uma revolução, daquele tipo que toma conta das ruas e invade os palácios. “Tomamos Petrogrado!” É assim que a especulação financeira vai acabar, só assim.

O Natal é uma festa muito legal. Só porque você é contra o sistema, usa poncho e conga, coloca em diagonal a boina cheguevarista, ou investiu décadas contra as festas natalinas, ou só porque esta é uma época de consumismo besta desenfreado, só porque o Papai Noel substituiu o verdadeiro significado da data não quer dizer que uma árvore bem produzida, cheia de presentes, com uma ceia reunindo a família seja uma coisa a ser evitada. O Natal é maravilhoso, assim como todos, eu disse todos, os filmes de Natal. Esses dias passou na Globo "Sobrevivendo ao Natal", que eu já tinha visto em DVD, em que o cara milionário e solitário aluga uma família para poder cruzar o Natal. Filme absolutamente magnífico. Ver sem culpa. O Natal é muito, muito legal, viu? Pode continuar contra link no shopping ou na compra de porcarias chinesas em ruas populares do comércio. Mas deixe o Natal fora disso, ok?

O maior patrimônio do Brasil é o seu litoral. Não é o pré-sal, viu? Não é porque tem um burrilhão de miliolitros de óleo sujo a cem quilômetros da superfície que a gente deva emporcalhar essa maravilha da natureza e do Brasil soberano que são oito mil quilômetros de costa. Os europeus, que não tomam banho, acham o litoral um saco, pois qual a graça de mergulhar o corpo numa água maravilhosa em pleno verão tropical? Claro, nenhuma. Mas nós, brasileiros, morando ou não na praia, achamos que nossa costa é a coisa mais maravilhosa que Deus criou sobre a face da terra. Então, não leve seus cachorros, seus cocôs, suas latas de cerveja, seus caminhões em forma de caminhonete para o mar, que pega mal. Não ande de moto ou jet ski no meio dos banhistas. Desligue esse rádio de merda, jogue todo o som no lixo e escute o som das ondas. E veja, veja aquela ilha pontificando no horizonte. Grite de alegria de manhã, recolha-se do solaço à tarde e chore vendo o entardecer entre gaivotas. Deus fez isso para viver em paz. Não destrua o paraíso, seu.

RETORNO - Imagem desta edição: Praia de Ingleses, por Miguel Duclós.

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