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8 de outubro de 2008

A ROBUSTEZ HISTÉRICA


Nossa economia é “robusta”, ou seja, é suficientemente macha para peitar a crise internacional, que está quebrando as bolsas, encarecendo tudo e talvez leve de roldão todo esse sistema perverso que dominou por vinte anos as finanças mundiais e os regimes políticos a elas submissos? Todos sabem a resposta. O Brasil se entregou como um filho da mãe para esse sistema.

No lugar de promover o desenvolvimento sustentável, ou seja, real, concreto, fundado na nação e seus habitantes, no mercado interno em primeiro lugar, nas estratégias vencedoras de indústria e comércio, não, fez o contrário. Exportou o filé e vendeu aqui os refugos, como acontece com o frango, a carne, o camarão, café etc. Agora sai em socorro em primeiro lugar ...do povo que vê seu crédito abundante escassear? Não, exatamente dos exportadores em perigo.

É preciso garantir o filé dos gringos, senão eles vêem aqui e cagam todo mundo de pau. Porque isso é que são nossos estadistas: cagões. E todo cagão caga regra e vomita vantagens. Ontem vi na TV o presidente Lula aos berros em mais uma inauguração (ele vive em campanha), dizendo que fez tudo certinho e que o país ainda não quebrou. “Poderemos ter dificuldades” disse ele, admitindo o óbvio, de que vamos para as cucuias, já que estamos abraçados à jogatina financeira que está comendo os investimentos dos brasileiros que acreditaram em Papai Noel.

Se a economia é tão robusta assim, porque há tanto destempero no discurso? Ok, ok, fez tudo certinho, bom garoto, tap tap tap. Agora pergunto: se a economia brasileira virar sucata com seus trilhões em créditos podres, em suas compras em dólar, em seu endividamento mortal, para onde vai tanta arrogância?

Vi na Folha o ministro da Defesa Nelson Jobim explicando como foi feita a Constituição de 1988, a Cidadã, nome dado em oposição à outra, getulista, do Estado Novo, a Polaca. Pois a cidadã foi feita assim, segundo Jobim, que jura estar contando a verdade. Tinha dois livrinhos no senado, um de capa preta e outra com capa vermelha. A preta era com constituições de países democráticos, a vermelha dos comunistas. Então ele recortou com a tesoura os itens das tais constituições, colocou no chão e viu que alguns temas se repetiam em todas. Esses temas foram considerados constitucionais.

Outros se repetiam esparsamente. Esses seriam os parcialmente constituicionais. E outros ainda que apareciam de vez em quando. Esses foram considerados não constitucionais. Assim, de tesoura e caneta na mão, foi feita o arcabouço dessa carta magna no país das macaquices. Chuparam as constituições estrangeiras e encheram os itens clássicos com um milhão de demandas de grupos, nichos, interesses de todos os tipos. Não contentes, a toda hora modificam alguma coisa, remendam a torto e a direito. É idêntico aos planos diretores das cidades: basta um meganha querer colocar um megaputeiro nas dunas que mudam tudo.

A verdade é que não importa a Constituição, eles fazem o que querem e bem entendem. Fazem letra morta todos os direitos, que servem apenas de insumos para ONGs e publicidade governamental. Tudo é desviado em nome da lei. É uma democracia, digamos, robusta. Com a mesma robustez histérica da economia, que é sua fonte primordial. Por isso não discuto mais política e economia. Meu negócio é outro. Quero saber quem vai criar uma solução para a gigantesca quantidade de merda que a cidadania produz diariamente. Aí é que pega.

Quero andar de trem confortável por todo o país. Não quero monopólios na aviação ou na viação rodoviária. Não quero usinas nucleares. Quero o cruzeiro de volta, o samba verdadeiro de volta. Para onde foi parar a marcha rancho? “Olha que a vida é tão linda e se perde em tristezas sem fim”, diziam Geraldo Vandré e Fernando Lona (sempre achei que fosse Luna) em Porta Estandarte.

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