Os editores estão estragando o cinema. Parece que, nos Estados Unidos, eles têm poder total sobre o resultado final do filme. Se encerram numa ilha de edição e fazem as maiores estripulias, prejudicando a narrativa e jogando as obras no lixo. É verdade que o diretor que permite isso não merece muito crédito. Você sabe do que estou falando. São firulas metidas as besta, como se vanguarda fosse fazer arabescos para a platéia. Começa com o que chamo de câmara esperta. No lugar de deixar a câmara em paz, filmando a ação, eles colocam a câmara como protagonista, fazendo zooms desnecessários, e mais essa infinidade de recursos permitidos pelas novas tecnologias, com cenas tremidas, closes, retrocessos, replays e não sei o que mais.
Depois vem a mania de colocar tudo em flash back. É que pretendem chocar o espectador na primeira tomada, como se isso fosse possível. Nossos olhos exaustos, de qualquer idade, não suportam mais os excessos visuais da indústria. Então eles colocam primeiro o assalto, pois é preciso fisgar o espectador no impacto e não na sedução da história a ser contada, e em seguida vem a chamadinha: 30 horas antes. Aí vai lá nas 30 horas antes, e daí a pouco: três dias antes. Quando não chegam ao cúmulo de colocar: quatro anos before. Parem com isso. Porque não contam a história direito e deixem a vanguarda, as inovações, para quem é do ramo?
Vejam o caso de Gus Van Sant, um dos mais radicais cineastas da atualidade: vai ver se tem câmara esperta nos filmes dele. É aquele olho fixo, em lento movimento por longos corredores, tomadas intermináveis. Godard também sempre foi assim. Mudou tudo ao manter a câmara fixa diante dos diálogos. Não queria que a edição se transformasse no que é agora, a grande proprietária da nossa percepção. Não se pode mais ver um policial decente que não esteja lá as não sei quantas horas antes do assassinato. Porra, mostra primeiro como a coisa aconteceu e não o troço pronto. Querem o quê? Parece aqueles caras que colocam no texto: isso veremos depois. Ou seja, migra para outro espaço o que deveria estar ali presente. Quando me prometem abordar novamente o que está sendo colocado, desisto de ler.
Estou desabafando porque tenho tirado filmes das locadoras que voltam quase intactos, pois não suporto as cambalhotas dos editores visuais. Tem um recente do Sidney Lumet, que decidi que é um chato asqueroso, com bons atores como o Philip Seymour Hoffman, Oscar pelo filme Capote, e Ethan Hawk, que desde menino milita no cinema, além da excelente Marisa Tomei e até o grande veterano e maravilhoso ator Albert Finney. Pois não é que, além das tais horas antes várias vezes (tanto, que as cenas se repetem até a exaustão) ainda tem, para provar que virá o flash back, aquela tremidinha da imagem. Isso se fazia no cinema antigo e com muito mais charme: a tela se derretia para mostrar que haveria um flash back.
Mas desta vez, no filme esse (antes que descubram que você está morto, ou algo assim), fica aquela coisa chata, repetitiva. E tudo acaba numa brutalidade total. Lumet não gosta de cinema. Se gostasse, não cagaria assim em cima da Sétima Arte. Lembro O Homem do Prego, que ele dirigiu, filme chatíssimo. Termina idêntico ao atual, com o velho se retirando com as mãos pesadas para o nada absoluto. Parece que o mau conteúdo tem a ver com a péssima edição.
Outra bomba é Ligações criminosas (Last Hour, 2008). É impossível ver. Os caras tentam inventar tanta merda que não dá para perceber o que estão querendo mostrar. Tem briga de kung fu misturado com outras crueldades, como o ex-monge que incendeia o mosteiro entre outras barbaridades. Tudo pontuado pela câmara esperta e pelas horas antes. É muita sacanagem. Daqui a uns 30 ou 40 anos, da nossa época (que vai dos anos 50 até agora) o que vai ficar serão obras-primas como Play Time, de Jacques Tati, em que a câmara é amiga do nosso olhar e o civiliza pela grandiosidade do talento inigualável. E não essas merdas que vão tudo para o lixo.
RETORNO - Imagem de hoje: Jacques Tati em sua obra-prima, Play time. Vejam que imagem! É exatamente o oposto da câmara esperta. É a câmara no esplendor absoluto da arte. Ora, dirão, você vai querer arte em filmes comerciais! Quero arte todo o tempo das nossas vidas, cada segundo, cada minuto, cada hora, cada dia. Em todos os nichos, ninhos, cantos, ações, campos, cidades. Quero arte! Peguem os filmes noir, peguem Sindicato dos Ladrões, peguem Lawrence da Arabia: filmes que estiveram no mercado e são arte suprema. É isso. Quero gênios filmando. Chega de ruindade.
Depois vem a mania de colocar tudo em flash back. É que pretendem chocar o espectador na primeira tomada, como se isso fosse possível. Nossos olhos exaustos, de qualquer idade, não suportam mais os excessos visuais da indústria. Então eles colocam primeiro o assalto, pois é preciso fisgar o espectador no impacto e não na sedução da história a ser contada, e em seguida vem a chamadinha: 30 horas antes. Aí vai lá nas 30 horas antes, e daí a pouco: três dias antes. Quando não chegam ao cúmulo de colocar: quatro anos before. Parem com isso. Porque não contam a história direito e deixem a vanguarda, as inovações, para quem é do ramo?
Vejam o caso de Gus Van Sant, um dos mais radicais cineastas da atualidade: vai ver se tem câmara esperta nos filmes dele. É aquele olho fixo, em lento movimento por longos corredores, tomadas intermináveis. Godard também sempre foi assim. Mudou tudo ao manter a câmara fixa diante dos diálogos. Não queria que a edição se transformasse no que é agora, a grande proprietária da nossa percepção. Não se pode mais ver um policial decente que não esteja lá as não sei quantas horas antes do assassinato. Porra, mostra primeiro como a coisa aconteceu e não o troço pronto. Querem o quê? Parece aqueles caras que colocam no texto: isso veremos depois. Ou seja, migra para outro espaço o que deveria estar ali presente. Quando me prometem abordar novamente o que está sendo colocado, desisto de ler.
Estou desabafando porque tenho tirado filmes das locadoras que voltam quase intactos, pois não suporto as cambalhotas dos editores visuais. Tem um recente do Sidney Lumet, que decidi que é um chato asqueroso, com bons atores como o Philip Seymour Hoffman, Oscar pelo filme Capote, e Ethan Hawk, que desde menino milita no cinema, além da excelente Marisa Tomei e até o grande veterano e maravilhoso ator Albert Finney. Pois não é que, além das tais horas antes várias vezes (tanto, que as cenas se repetem até a exaustão) ainda tem, para provar que virá o flash back, aquela tremidinha da imagem. Isso se fazia no cinema antigo e com muito mais charme: a tela se derretia para mostrar que haveria um flash back.
Mas desta vez, no filme esse (antes que descubram que você está morto, ou algo assim), fica aquela coisa chata, repetitiva. E tudo acaba numa brutalidade total. Lumet não gosta de cinema. Se gostasse, não cagaria assim em cima da Sétima Arte. Lembro O Homem do Prego, que ele dirigiu, filme chatíssimo. Termina idêntico ao atual, com o velho se retirando com as mãos pesadas para o nada absoluto. Parece que o mau conteúdo tem a ver com a péssima edição.
Outra bomba é Ligações criminosas (Last Hour, 2008). É impossível ver. Os caras tentam inventar tanta merda que não dá para perceber o que estão querendo mostrar. Tem briga de kung fu misturado com outras crueldades, como o ex-monge que incendeia o mosteiro entre outras barbaridades. Tudo pontuado pela câmara esperta e pelas horas antes. É muita sacanagem. Daqui a uns 30 ou 40 anos, da nossa época (que vai dos anos 50 até agora) o que vai ficar serão obras-primas como Play Time, de Jacques Tati, em que a câmara é amiga do nosso olhar e o civiliza pela grandiosidade do talento inigualável. E não essas merdas que vão tudo para o lixo.
RETORNO - Imagem de hoje: Jacques Tati em sua obra-prima, Play time. Vejam que imagem! É exatamente o oposto da câmara esperta. É a câmara no esplendor absoluto da arte. Ora, dirão, você vai querer arte em filmes comerciais! Quero arte todo o tempo das nossas vidas, cada segundo, cada minuto, cada hora, cada dia. Em todos os nichos, ninhos, cantos, ações, campos, cidades. Quero arte! Peguem os filmes noir, peguem Sindicato dos Ladrões, peguem Lawrence da Arabia: filmes que estiveram no mercado e são arte suprema. É isso. Quero gênios filmando. Chega de ruindade.
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