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24 de setembro de 2008

O BRASIL FORA DE SI


O título é uma sacanagem. Quis dizer: o Brasil fora de suas fronteiras, mas funciona melhor assim. O mote é o discurso inaugural da ONU de ontem, que, como sempre, desde que Oswaldo Aranha fez o primeiro discurso em 1947, ficou a cargo de um brasileiro. Neste caso, do presidente Lula, que disse um monte de obviedades anódinas, desmascaradas hoje na Folha pelo Clóvis Rossi. A reportagem do jornalão diz que Lula “pediu ontem, na abertura da 63ª Assembléia Geral da ONU, maior participação de órgãos multilaterais na regulação dos mercados financeiros. Ele fez críticas ao que chamou de anarquia especulativa".

Rossi foi no osso: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acertou no diagnóstico, mas errou no timing, em seu discurso de ontem na ONU.Lula disse que chegou a hora da política. Sempre foi hora da política, mas os políticos, inclusive Lula, demitiram-se da tarefa de pensar e executar políticas públicas que contrariassem os mercados, ainda que minimamente”. E arremata: “Não foram só as grandes financeiras que foram para o brejo. Junto com elas foram o FMI, o Banco Mundial, o G8 e cia. limitada. Você tem lido alguma idéia, uma que seja, vinda dessas instituições antes onipresentes nas crises?”

Converso com a enciclopédia José Antônio Severo, que tem um currículo que já beira a biografia histórica, e ele me fala das happy-hour com o presidente do Uruguai Julio Sanguinetti, que adorava bater papo ao cair da tarde sobre assuntos variados, especialmente as guerras no Cone Sul do século 19, especialidade de ambos. Esse é o Brasil que conta, a de cidadãos brasileiros que tratam estadistas estrangeiros com maior consideração (sem falar abobrinhas) e vice-versa. Severo é de 1943, foi criado na era Vargas. É cidadão do mundo. Foi, entre outras mil coisas, diretor da Gazeta Mercantil Sul americana. Trabalhou no Uruguai, em Miami, em Nova York, editou o Jornal da Globo e escreveu vários livros, entre eles um que está na boca do forno e que vai ser um estouro (detalhes daqui a algum tempo, paciência).

Outro brasileiro internacional é o diplomata Flavio Helmold Macieira, que me foi apresentado pelo Paulo Paiva, jornalista mineiro (e, portanto, mundial) que trabalha em Brasília. Flavio acaba de publicar artigo sobre o Brasil no mundo, mais precisamente "Perspectivas para o Brasil no Cenário Internacional”, que está neste endereço. Macieira, civilizadíssimo, é bala: formado em direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense/RJ (UFF) e mestre em Relações Internacionais pela Universidade da Cidade de Dublin (Irlanda). Foi Assessor da Divisão das Nações Unidas em 1992 e trabalhou como Conselheiro da Embaixada em Paris em 1994. Foi nomeado Ministro de Segunda Classe, por merecimento, em 1999, e nomeado Ministro-Conselheiro da Embaixada em Berna em 2003. Já em 2007, tornou-se Grande Oficial da Ordem de Rio Branco e Ministro de Primeira Classe. Atualmente é Chefe de Gabinete da Secretaria-Geral do Ministério das Relações Exteriores.

Veja como ele vê o país, com grandeza: "O Brasil é um país com uma capacitação razoável, por sua capacidade produtiva, sua população, pela área de que dispõe, por seus recursos naturais, por sua matriz energética em expansão, sua produção fantástica de alimentos, seu agronegócio, pelas empresas que estão se multinacionalizando, por sua democracia representativa, pelas parcerias que temos, ao mesmo tempo, com o norte e com o sul, por sua tradição de pacifismo, por seu principismo jurídico internacional, pela defesa de princípios fundamentais de civilidade internacional de não interferência, de igualdade entre os estados e de princípios da solidariedade. É preciso não ter medo do futuro e administrá-lo da forma que for possível.”

Descubro que está sendo produzido um documentário sobre Oswaldo Aranha. Veja o belíssimo video promocional . Detalhes neste endereço. O título é "Oswaldo Aranha - O Voto e a Revolução". Escrito e dirigido por Julio Wohlgemuth. Trata-se da "primeira produção audiovisual de longa metragem sobre Oswaldo Aranha (1884-1960), um homem que mudou os rumos do país. O documentário que se justifica por ter sido Aranha uma personalidade fundamental do seu tempo (as revoltas regionais do início do século 20, a Primeira Guerra Mundial, a Coluna Prestes, a Revolução de 1930, a industrialização brasileira, o comunismo e o nazi-fascismo, o Estado Novo, a Segunda Guerra Mundial, o Pan-americanismo, a partilha da Palestina, etc.)".

RETORNO - Imagem de hoje: Aranha (no centro) chama o presidente Roosevelt de tchê loco. Com todo o respeito. Mútuo.

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