Nei Duclós (*)
A realidade não nos foi presenteada por ninguém. É fruto de árdua elaboração, que nossos sentidos, inventados pela vivência e a cultura, orientados pelos ancestrais e os contemporâneos, percebem em camadas superpostas. É idêntico a esses vestígios naturais gigantescos em forma de cálice, pirâmide ou coluna que existem por todo o Brasil: cada camada desses monumentos de terra e calcário conta uma história, revela um dilúvio, um incêndio, uma civilização perdida. Escavar para enxergar melhor é o trabalho arqueológico que ocupa os espíritos livres. Pois viver não é passar em vão pela terra, e sim aprender o que nos precedeu, ler o que existe ao nosso redor e ver o que o tempo prepara em cada curva do vento aragano.
Carlos Fonttes e Daniel Fanti são exemplos dessa linhagem. Historiadores uruguaianenses, acabam, de produzir um livro sobre os fundamentos urbanos da nossa cidade. O livro, “Uruguaiana na Linguagem Plástica e Histórica", é uma obra de percepção coletiva, construída a partir das antenas desses dois conterrâneos dedicados não ao passado, mas à perenidade da obra nacional aqui no sudoeste onde o Brasil começa. Os desenhos, em preto e branco, dos prédios privados e públicos, das principais ruas e praças, dos monumentos, de tudo o que existe ou existiu não são apenas reproduções da arquitetura, do design, dos vestígios. São muito mais do que isso.
O que é um prédio? É o fruto de uma concepção original desenhada, colocada no papel, na prancheta. Uma construção parte de uma planta, de uma arte, de uma idéia. Uma praça não brota como um cogumelo. Uma igreja não surge por acaso. Foi concebida, foi trabalhada. Houve mobilização, negociação, conflito. Até que, finalmente, aparece concretamente para os olhos dos habitantes. Começa a fazer parte da vida delas. Se apresenta de várias formas, sob a chuva, vista de maneira apressada, sob o sol, à noite, iluminada por um poste de luz, um farol, uma lanterna. Fica na memória e seus contornos se misturam. O que é que lembramos, qual era aquele prédio mesmo, onde ficava tal rua?
O que faz o artista? Enxerga essa obra com seu talento e o desenha, como faz Carlos Fonttes, esse historiador que tanto contribui para a cultura local e brasileira. Não reproduz a planta, não imita a concepção original. Simplesmente reporta o que vê e sente e assim se sintoniza com o que vimos ao longo da vida. Foi uma grande emoção reencontrar todos esses prédios, ruas e praças pelo traço de Fonttes e o texto de Fanti. O Clube Caixeiral, o Teatro Carlos Gomes, o Lanziani, o café Moka, a casa da Generina. Tudo faz parte do nosso imaginário, das lembranças, dos parâmetros. Foram esses instrumentos urbanos que formataram nossa vida, enquanto passávamos pela infância e juventude por todos eles, sonhando em morar ali, imaginando como seriam por dentro, criando histórias.
No texto, Daniel Fanti (e também Fonttes) trazem os nomes que formaram nossa cidade, a maioria já de pessoas que se foram, mas que continuam presentes. O livro assim se transforma num documento único, raro, fundamental, para que possamos viajar em nós mesmos, para que possamos mostrar a todos quem somos e do que somos feitos. Somos esses traços e esses textos, somos seres culturais, orgulhosos dessa obra grandiosa que é Uruguaiana, cidade onde moramos eternamente.
RETORNO - (*) Crônica originalmente publicada no jornal A Tribuna, de Uruguaiana. Agradeço aos autores e ao prefeito Sanchotene Felice por terem me presenteado com um exemplar deste livro emocionante. E agradeço ao futuro vereador, jornalista Rubens Montardo Jr., pelo convite de publicar uma coluna fixa na imprensa da minha terra.
A realidade não nos foi presenteada por ninguém. É fruto de árdua elaboração, que nossos sentidos, inventados pela vivência e a cultura, orientados pelos ancestrais e os contemporâneos, percebem em camadas superpostas. É idêntico a esses vestígios naturais gigantescos em forma de cálice, pirâmide ou coluna que existem por todo o Brasil: cada camada desses monumentos de terra e calcário conta uma história, revela um dilúvio, um incêndio, uma civilização perdida. Escavar para enxergar melhor é o trabalho arqueológico que ocupa os espíritos livres. Pois viver não é passar em vão pela terra, e sim aprender o que nos precedeu, ler o que existe ao nosso redor e ver o que o tempo prepara em cada curva do vento aragano.
Carlos Fonttes e Daniel Fanti são exemplos dessa linhagem. Historiadores uruguaianenses, acabam, de produzir um livro sobre os fundamentos urbanos da nossa cidade. O livro, “Uruguaiana na Linguagem Plástica e Histórica", é uma obra de percepção coletiva, construída a partir das antenas desses dois conterrâneos dedicados não ao passado, mas à perenidade da obra nacional aqui no sudoeste onde o Brasil começa. Os desenhos, em preto e branco, dos prédios privados e públicos, das principais ruas e praças, dos monumentos, de tudo o que existe ou existiu não são apenas reproduções da arquitetura, do design, dos vestígios. São muito mais do que isso.
O que é um prédio? É o fruto de uma concepção original desenhada, colocada no papel, na prancheta. Uma construção parte de uma planta, de uma arte, de uma idéia. Uma praça não brota como um cogumelo. Uma igreja não surge por acaso. Foi concebida, foi trabalhada. Houve mobilização, negociação, conflito. Até que, finalmente, aparece concretamente para os olhos dos habitantes. Começa a fazer parte da vida delas. Se apresenta de várias formas, sob a chuva, vista de maneira apressada, sob o sol, à noite, iluminada por um poste de luz, um farol, uma lanterna. Fica na memória e seus contornos se misturam. O que é que lembramos, qual era aquele prédio mesmo, onde ficava tal rua?
O que faz o artista? Enxerga essa obra com seu talento e o desenha, como faz Carlos Fonttes, esse historiador que tanto contribui para a cultura local e brasileira. Não reproduz a planta, não imita a concepção original. Simplesmente reporta o que vê e sente e assim se sintoniza com o que vimos ao longo da vida. Foi uma grande emoção reencontrar todos esses prédios, ruas e praças pelo traço de Fonttes e o texto de Fanti. O Clube Caixeiral, o Teatro Carlos Gomes, o Lanziani, o café Moka, a casa da Generina. Tudo faz parte do nosso imaginário, das lembranças, dos parâmetros. Foram esses instrumentos urbanos que formataram nossa vida, enquanto passávamos pela infância e juventude por todos eles, sonhando em morar ali, imaginando como seriam por dentro, criando histórias.
No texto, Daniel Fanti (e também Fonttes) trazem os nomes que formaram nossa cidade, a maioria já de pessoas que se foram, mas que continuam presentes. O livro assim se transforma num documento único, raro, fundamental, para que possamos viajar em nós mesmos, para que possamos mostrar a todos quem somos e do que somos feitos. Somos esses traços e esses textos, somos seres culturais, orgulhosos dessa obra grandiosa que é Uruguaiana, cidade onde moramos eternamente.
RETORNO - (*) Crônica originalmente publicada no jornal A Tribuna, de Uruguaiana. Agradeço aos autores e ao prefeito Sanchotene Felice por terem me presenteado com um exemplar deste livro emocionante. E agradeço ao futuro vereador, jornalista Rubens Montardo Jr., pelo convite de publicar uma coluna fixa na imprensa da minha terra.
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