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16 de julho de 2008

CHICO BUARQUE, DA ERA VARGAS

Chico Buarque de Hollanda nasceu em 1944, quando Getúlio Vargas era presidente do Brasil. É filho de Sérgio Buarque de Hollanda, um dos intelectuais brasileiros que foram revelados pela grande explosão cultural ocorrida depois da revolução de 1930, que sepultou a República Velha e inaugurou a era Vargas. Quando o presidente Vargas se suicidou, em 1954, Chico já tinha dez anos de idade, ou seja, sua personalidade estava pronta, seus parâmetros definidos, seu ethos consolidado. Em 1966, quando emergiu de maneira soberba com seu mega-sucesso A Banda, seu recado foi explícito: o Brasil estava sendo destruído e era preciso resgatá-lo, era preciso que a Banda passasse novamente, que o Brasil retomasse seu rumo. Que Brasil perdido era esse? O Brasil da Era Vargas.

Notem que depois de 1954 não foi formada uma quantidade gigantesca de gênios. Foi revelada, o que é diferente (e que fez a fama do colhedor da seara varguista, o matreiro JK). Apenas foi revelado esse número monumental de pessoas geniais, de Chico a Pelé, de Glauber a Caetano, todos formados nos anos 40, quando o presidente do Brasil Soberano estava no poder. Foi um baby boom de gênios porque existia no país o ambiente propício para que eles se formassem. Existia o país, que não estava na mão de energúmenos como hoje. O presidente americano vinha aqui pedir a bênção. Nosso diplomata em Washington, Oswaldo Aranha, encantava o mundo. Chamava rei de tchê loco.

É impressionante que verdade tão cristalina, a de que devemos tudo ao gênio político de Vargas, seja tratado como crime de lesa consciência. Vi recentemente uma série de filmes brasileiros absolutamente horrendos, como é o caso de O Vestido, de Paulo Thiago. A certa altura, o Renato Borghi fazia piada sobre o Barão de Itararé, que teria apanhado muito na “ditadura de Getúlio”. O Barão publicou toda sua obra na era Vargas. O que se conhece dele era conhecido naquela época. Vargas ria junto com os artistas que debochavam dele, ria junto com quem o criticava. Vargas inaugurou o riso do estadista no Brasil. Antes dele, todos eram uns encasacados com cara de cabrito empesteado.

Vargas é destruído no atacado e na ponta do varejo. Ditadura é sempre getulista, jamais a ditadura civil da República Velha e a atual, comandada por mega-especuladores e instrumentada pelo coronelismo do sertão, os capitães do mato dos grotões. É fundamental reiterar todos os dias que Getúlio foi esse monstro asqueroso que teve a ousadia de inventar o Brasil. Pois estamos em pleno sucateamento do país, entregue à sanha imperialista e à brutalidade interna. Vejam a Quarta Frota, que os americanos reativaram para tomar conta do quintal. Estamos ainda em plena operação Brother Sam.

Por que insisto nesse tema? Porque simplesmente os críticos não dormem. Estão sempre alertas, demolindo o mito Getúlio. O mal que o grande estadista fez para essa canalha não tem perdão, é preciso derrotar Vargas todos os dias. Senão o Brasil é capaz de acordar novamente, de gerar música brasileira de alta qualidade, literatura que deslumbra o mundo, arquitetura de vanguarda (que começou antes de JK, no prédio do MEC do governo Vargas, no Rio). É um perigo. É provável que, se Vargas ressuscitar, venha uma nova operação Xingu, que coloque os irmãos Villas Boas na Amazônia. Talvez aí a Amazônia volte a ser nossa.

Já imaginou? Deixar a Amazônia para os brasileiros? Impensável!

RETORNO - Imagem de hoje: o garoto Chico e seu sucesso, A Banda. Atenção: Chico pertence à Era Vargas à revelia de suas opiniões sobre o grande presidente, à revelia de suas posições políticas. Pode achar o que quiser, gostar de Lula como bem entender, mas quando desfila na Mangueira, de chapéu palhinha, sabemos a qual mundo ele pertence. Ao mundo do Brasil Soberano. E atenção: gosto de toda a obra de Chico e não quero, com este post, confiná-lo à Banda. Nem poderia, já que Chico sobra.

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