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9 de maio de 2008

TERCEIRA IDADE

Completo 60 anos em outubro, se tudo der certo. É uma fase interessante. Há tolerância na fila dos bancos, já que minha aparência, segundo o depoimento de vários habitantes da ilha, é de oitenta anos. Mas não no posto de saúde, onde não alcancei o nível de privilégio para ganhar uma vacina contra a gripe de graça, por exemplo. Médicos, nem pensar. A medicina trabalha com copos perfeitos, sarados. É como faxina: só aceitam limpar tua casa se ela estiver limpa. Só concordam em cuidar de você se sua saúde for a de um touro. Assim mesmo, tenho sido bem tratado nas emergências, já que sou alérgico a picada de abelha e vivo aqui no ermo.

É mortal a maneira como te tratam. Você puxa a carteira de motorista e todos se assombram: “Mas você AINDA dirige? Com prudência, devagar e sempre, não é mesmo?” Se por acaso você não entende uma palavra ou frase, eles te repetem didaticamente, escandindo as sílabas. Se você desce do carro, sempre tem um boi corneta para te segurar o braço. Ter o peso errado também influencia as reações. Te convidam para almoçar e você escolhe sentar perto da parede. Então todos se levantam e puxam a mesa para o meio da sala, pois, claro, você não caberá naquele cantinho.

Todos os dias sou lembrado que já completei noventa anos (aumenta sempre). Falam de maneira diferente. Te dão tapas nas costas, como se fosse um gesto de solidariedade. Falam aos arranques, como se estivéssemos na varanda sentados na cadeira de balanço. Qualquer manobra do carro desperta um xingamento onde “gordo e véio” é apenas o início. Se você encontra alguém que não vê há anos, e que também exibe as marcas da idade (mas isso não conta), prontamente a pessoa diz: “Te reconheci pela voz!” É de uma fofura sem fim.

Como estás todo errado, então sobram conselhos, advertências e lições. Precisa caminhar é a mais freqüente. Praticar exercícios. Replico: não existe atleta com oitenta anos. Mas não desistem. Vi esses tempos um gordo gigantesco, com uns duzentos quilos, se abaixar todo até estalar os joelhos. Alguém falou para o coitado fazer esse tipo de alongamento. Corre o risco de romper os meniscos, mas isso não importa. O certo é demonstrar que estás com vontade de ser da tchurma.

Olho no espelho e vejo um guri. Relevo todas as marcas, as bolsas embaixo dos olhos, o início do enrugamento total. Presto atenção no rosto de menino que sobrevive. Ensaio um sorrisão daqueles e tudo se ilumina ao redor. Ninguém enxerga tua vivência, querem mesmo é denunciar que estás vivendo além da conta. Agora tem que deixar tudo para os outros. A juventude triunfante em todos os escaninhos da realidade. Enquanto isso, o depósito de velhos que é a fila das repartições, lotéricas e instituições financeiras fica maior do que a fila normal. Esses dias uma senhora abandonou a fila da terceira idade e pegou carona na agilidade da outra. Foi admoestada. Teve que mentir: “Mas eu estava nesta”, disse ela, pobrezinha.

Perseguem demais das pessoas. Tudo gira ao redor da aparência. Imagino como será daqui a alguns anos. A impaciência no trânsito, a barbárie do comportamento coletivo, o território cada vez mais coalhado de gente...deixa para lá. Nos últimos meses, estive em São Paulo. Só andei de táxi (não tive tempo para encontrar os amigos; foi barra). A cidade gigantesca assusta com seus milhares de novos edifícios, todos mais altos do que os outros. Engarrafamento em qualquer hora do dia. Mas há respiros. Um fim-de- semana perto da igrejinha do Divino, por exemplo, ali perto da Paulista. Lembrei quando cheguei em São Paulo pela primeira vez.

Quando eu era guri, mesmo.

RETORNO - Imagem de hoje: eu, eterno guri, encostado na parede da minha casa em São Paulo. O que vale é a versão, não o fato.

NOTÍCIAS DE BEBETO ALVES

"Caros, O novo disco Devoragem já está á disposição em seu formato digital no hotsite Devoragem contido na home do meu site oficial . O site passou por algums transformações em função do novo trabalho, como muitos já sabem. Agora, com uma secção especial para imprensa e para as pessoas poderem acessar o que esta sendo falado pela própria imprensa sobre o trabalho. Um texto muito bacana do Arthur de Faria, novas fotos, incluindo algumas feitas por mim outras coisinhas, surpresas e etc.
No hotsite Devoragem, vcs podem acessar um pedacinho de cada musica clicando no nome delas, o link para a venda digital, as letras das musicas, um video sobre o projeto e um ensaio fotográfico.

O formato digital do disco facilita o acesso para muitos que tem dificuldades de encontrar o disco fisico. Ali se pode comprar uma faixa isolada, ou o disco cheio por um preço extremamente acessivel, razoavel. Bom, se vcs forem a fim, divulguem este trabalho, passem adiante essa informação. Valeu!! bjão. BAlves."

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