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9 de janeiro de 2008

CENSURA E FEBRE AMARELA


É recorrente: toda vez que a censura se manifesta de maneira mais explícita, voltam os argumentos de que isso parece uma ditadura. Não parece, é. E é não porque o juiz proibiu jornais e televisões de citarem o nome dos meliantes que surraram uma empregada doméstica sob a justificativa de que ela era uma prostituta. Ou porque foram para cima do Roberto Requião. É porque a censura é total na mídia. O espírito livre (o jornalismo sem amarras nem interesses) está proibido de se manifestar. As honrosas exceções, as reportagens premiadas de denúncia, são apenas um detalhe. O que temos é um gigantesco cala-te boca, que permite coisas como óóó surpresa!, a volta da febre amarela ou o abandono escolar no primeiro e segundo grau, conforme pesquisas divulgadas hoje.

A febre amarela foi erradicada por Oswaldo Cruz, pelo presidente Campo Salles, pela Fundação Rockfeller e por Getúlio Vargas. Nos anos 40, o país todo estava protegido. Voltou porque vivemos sob a ditadura, em que não há denúncias de verdade, de maneira intensa e que cubra todo o território nacional. Temos o foco em algumas capitais, em alguns lugares exóticos do interior e o resto é uma grande área de sombra e instabilidade política. Os coronelões são donos da política e dos jornais e televisões. Um terço do Senado faz parte das composições societárias de meios de comunicação. Assim fica difícil dizer: ei, o rei está nu, tem febre amarela no pedaço.

Como houve um caso detectado, então todo mundo corre para se vacinar (o que deveria ser política pública permanente), enquanto os bem remunerados burocratas vão para frente as câmaras colocar a culpa em quem não se vacina e dizer “com certeza, está tudo sob controle”. Está um bom caceta. Ditadura é pura instabilidade. Vejam o caso da evasão escolar. Fizeram tudo errado para manter os índices de escolaridade. Passaram os pobres as alunos por decreto, entre outras mumunhas. Claro que não arrumaram o esgoto das escolas, nem passaram uma boa mão de tinta, nem cuidaram da infra-estrutura, nem implantaram bibliotecas ou laboratórios de informática.

Ao mesmo tempo, o governo federal, por meio de seu representante máximo, bate no peito, orgulhoso da sua falta de escolaridade. Não me consta que tenha lido algum livro. Não precisa. Veja onde ele chegou, costuma dizer. Depois, as profissões disponíveis não precisam de escola: passeador de cachorro, ambulante, jogador de futebol, modelo, prostituta. Quem consegue escapar da máquina de moer carne acaba sendo capturado pelo Exterior. Os outros países valorizam um quadro bem formado. Nós jogamos fora. Colocamos engenheiros a vender refrigerante, professores com uma sobrecarga brutal de trabalho a troco de nada e assim por diante.

Qual a essência dessa ditadura? Negar o país, enganar o povo, destruir a soberania, entregar as riquezas, transformar o território em espaço globalizado. Para isso trabalham dia e noite. Não cuidam da educação nem da saúde nem dos transportes, coisas que são lembradas nas campanhas eleitorais, e esquecidas logo depois da posse. Se não fosse uma ditadura, teríamos estradas boas, trens modernos e velozes, professores bem remunerados, cientistas em pencas, e a presença constante em todas as mídias de artistas de alto nível, o que não ocorre não por falta de talentos, mas porque a ditadura não deixa.

Aí o presidente almoça ou janta com esses dois gritões, o Di Luciano e Cagardo, que tem suas goelas reproduzidas em tudo que é sistema de som. Chega, porra!

RETORNO - 1. Imagem de hoje: Oswaldo Cruz em ação, pesquisando. Já fomos melhores.

2. Recebo a edição número 15 do Caderno de Literatura editado pelo jornalista Carlos Alberto de Souza e patrocinado pela Ajuris, Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul. Fui prestigiado com a publicação de três poemas meus, Outubro, Tornei-me Passos e Lição de Travessia, este estampado na contracapa junto com foto de Eduardo Tavares. Uma bela publicação, com destaque para o artigo "Populário Musical do Sul II", de Irineu Mariani. É bom fazer parte de uma cultura, ter sesse sentimento poderoso de pertença, saber que meus poemas foram acolhidos no coração das pessoas e hoje fazem parte do patrimônio do Brasil soberano. É bom ser poeta em qualquer circunstância. Melhor ainda quando nos vemos honrados com uma homenagem tão significativa. Além dos três poemas, também foi publicado um texto sobre o livro Outubro.

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