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7 de janeiro de 2008
BRICOLAGENS DOS BLOGS
Agora todo mundo tem blog. Alguns são bons, como o de Luiz Carlos Merten, do Estadão, que fala à vontade sobre os bastidores do cinema e do seu próprio ofício, de uma vida dedicada à análise dos filmes. Ou de Luciano Trigo, no Globo, que entregou as falcatruas dos prêmios literários. E vários outros, linkados de maneira permanente aqui ou não, e que gosto de ler. Mas tem muito blog de bundão.
Ou é blog de paga-pau da política engessada e corrupta, fazendo o jogo dos ditadores da mídia, ou de quem nada tem a dizer e resolve (ou resolveram por ele) ter um blog. Milhares desses coisinhas pipocam nos sites dos jornalões e tevezonas. O objetivo é esvaziar a ferramenta blog, que poderia ser mídia tão poderosa quanto as oficiais. E transformá-la numa coadjuvante, num aplique, numa bricolagem.
Blog é pau, o resto é decadência. Ou você ficou calado a vida toda, engolindo a ditadura de 64 que continua no poder, a troco de nada? Não vai dar o troco? Vai continuar querendo produzir pensamento corretinho, equilibradinho, bem-feitinho, carismático de araque, pisando em ovos, se insurgindo contra o câncer, aplaudindo os bons sentimentos? Tens a liberdade do blog para continuar mentindo? Queres um blog para cumprir enfim teu destino de colunista social? Não vai queimar os navios? Vai engolir em seco?
Num blog bundão, anexam-se as mais diversas inutilidades, tradicionais e emergentes. Um artiguete lamenta que não estamos mais no tempo de Pixinguinha, que foi poupado pelos assaltantes, e sim no tempo de Paulinho da Viola, que sofreu a violência de um chega-pra-lá da bandidagem. Puxa nem respeitam o Paulinho, lamenta o arti-cu-lista, que coloca toda a culpa do narcotráfico. Pus um comentário, dizendo que a fonte da violência não é o narcotráfico, mas o sistema que permite a atuação impune do narcotráfico. Pois deletaram. Não é permitido emitir opinião. Só comentariozinhos água-com-açúcar.
Descobri tardiamente que as pessoas, de tanto mentir, acabam fingindo também quando conversam contigo. Falam o que você quer ouvir, pois fizeram isso a vida toda. No fundo, continuam os cagões de sempre, usufruindo daquelas certezas que fazem a vida mansa e corroem por dentro como um ácido de bateria. Sabemos que ninguém faz a cabeça de ninguém. As pessoas pensam o que querem, como querem. E atribuem frases que você nunca disse ou escreveu. Ou será que eu disse e esqueci? Este blog é tão antigo, está fazendo seis anos, que tudo é possível.
Já disse alguém que o objetivo dos indivíduos que se rendem moralmente ao mundo transformando em mercadoria não é vencer, mas fazer com que todos os outros fracassem. Um dos motivos que impulsionam essa sacanagem é a inveja, que é negar aos semelhantes o acesso a qualquer tipo de vitória. Não existe inveja boa, isso é álibi de invejoso pego em flagrante.
Por mais promessas de solidariedade e amor que exista, o fato é que a maioria das pessoas se detestam. No atacado, todos somos uns doces de côco. No varejo, sobram motivos para nos excluir mutuamente. É insuportável aturar a arenga alheia sobre qualquer assunto. As cabeças estão cheias de entulho, que despejam sobre você. Isso não pode ser dito de um blog, que é gratuito e só é acessado por quem quer. Estamos acostumados a falar sozinhos.
Um blog não tem (ou não deveria ter) por objetivo o prestígio, a grana, o alpinismo social. Tua essência não é mercadoria. Alma não se vende. Isso soa falso, não? É verdade, tudo parece uma grande mentira.
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