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10 de setembro de 2007

FILME CULT NA PRATELEIRA


Numa locadora que há tempos não visitava, descubro por acaso um tesouro: filmes cult dos quais jamais tinha ouvido falar e que são simplesmente de primeira grandeza. Sei que hoje é segunda-feira, dia de se falar sobre coisas práticas, ainda mais depois do feriadão. Aliás, estes dias da Pátria inauguraram a praia por aqui. Montes de gente assistiram mais uma demonstração no domingo de uma baleia, dessas retardatárias que não querem mais sair da beira das baías da ilha. Baleia também é cult.

Mas vamos aos filmes, pois todo dia é dia de cinema. Meio na base da resenha, o que não é comum no Diário da Fonte, que dá de barato que todo mundo viu e portanto está livre para criar o que bem entender em cima do já visto. Como acho que pouca gente notou, já que há massacres inomináveis de porcarias no mercado que fazem sombra às preciosidades que jamais são adquiridas pelas locadoras, vou de plano geral. Ou será que todos viram e chovo no molhado? Tanto faz. O importante é colocar na roda.

GHOST WORLD – APRENDENDO A VIVER - As sinopses se repetem: duas adolescentes completam o segundo grau e precisam enfrentar a vida, trabalhar e morar separado das famílias. Mas é algo mais. É sobre o descompasso que há entre criaturas habitadas pela cultura e a arte em confronto com o massacre da indústria do lazer. Cena hilária é a do aficcionado por blues, que foi ver ao vivo um remanescente da boa e velha música, e acabou expulso por um conjunto metido a bluseiros que faziam um pop-rock de última categoria, com letras que tentam convencer a platéia que eles vieram mesmo numa safra de algodão.

As duas adolescentes são Scarlett Johansson (o filme é de 2001) e, que todo mundo já conhece graças ao gênio de Sophia Coppola, e Thora Birch (na foto acima, com Steve Buscemi), atriz precoce que se destacou em Beleza Americana e que neste filme bate firme no topo da interpretação. Há também Steve Buscemi, que era bombeiro nos anos 80 e se revelou no filme de Tarantino, o Cães de Aluguel. Steve tem uma estampa freak, outsider e quando quer, assustadora. Consta que ele trabalhou anonimamente como bombeiro voluntário na tragédia de 11 de setembro, a das Torres Gêmeas. Ele, aqui, faz o apaixonado pelos blues que não consegue mulher.

SOB O CÉU DO LÍBANO - Filme curto sobre relações complicadas das pessoas na fronteira entre Israel e o Líbano. Uma aldeia dividida pela guerra, com guarda cuidando da vida de todos, em que uma jovem de 16 anos, prometida para alguém do outro lado, decide se insurgir contra as imposições sociais da gerontocracia (a velharada manda no Oriente Médio) e se apaixona exatamente pelo guarda israelense que faz a ronda, alguém de uma etnia um árabe que sofre preconceito dos seus superiores.

Flavia Bechara (foto), no papel de Lamia, transparece o grande conflito interno de pessoas divididas pela guerra. O filme transcende pois a trama só se resolve, de maneira escassa, mas poética, por meio do delírio e do sonho. Personagens como o sargento filósofo, o fardado cheio de amor para dar, as mulheres que se comunicam por alto falantes, aos berros, as crianças e suas pipas (objetos que não respeitam fronteiras), tudo faz parte desta bela produção da França e do Líbano de 2003.

BUENOS AIRES 100 KM - Mais um excelente filme argentino. O que me encanta nas cidades interioranas da Argentina é que são idênticas à minha cidade, Uruguaiana. Em cada calçada, cada esquina, cada prédio antigo, vejo minha infância. Neste, de Pablo Jose Meza, que fez roteiro e assumiu a direção, é sobre um menino que resolve ser escritor enquanto se desenrolam os eventos normais da adolescência, ou seja, toda aquela trama de disparates, horrores e frustrações que fazem parte do doloroso rito de passagem para a vida adulta. Assim mesmo, com toda essa barra, o filme é, como toda a produção argentina dos últimos anos, maravilhoso.

RETORNO – 1. Quem quiser saber ficha técnica e tudo o mais é só teclar no Google: adorocinema + o nome do filme. 2. Faltou comentar mais dois filmes argentinos, "O mesmo amor, a mesma chuva", de Juan José Campanella, e "Valentin", de Alejandro Agresti, mas estes eu incluí numa resenha feita há alguns meses sobre o cinema dos hermanos. O texto atualizado está no site. 3. E vi mais um Woody Allen (como esse cara filma!): "Dirigindo no escuro", de 2002. Ótimo, como todos os outros.

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