O cansaço em relação aos escassos frutos da indignação tem feito as pessoas tomarem posição um pouco mais clara em relação ao mercado de horrores que nos é oferecido. Para desovar essa atitude existe a Internet, a mídia das mídias, que há tempos canaliza a verbalização pessoal diante dos pesadelos públicos e coletivos. Mas foi-se o tempo em que a rede estava circunscrita aos marginalizados da opinião. Hoje, blog é ferramenta de uso das empresas, dos grandes interesses e dos grandes capitais. Há uma tendência em centralizar tudo para que não haja defecções. O importante é enfeixar o maior número da audiência e nos deixar falando sozinhos em nossos espaços pioneiros.
Como todo mundo é agora blog desde criancinha, resolvi não dispensar mais a mídia impressa, numa reaproximação que levou anos. Costumo ler a Folha de sábado e domingo e o Diário Catarinense praticamente durante a semana toda. O DC tem sido eficaz na sua leveza noticiosa, concentrada nos assuntos mais candentes, dando bom tratamento aos temas locais, e nas suas reportagens maiores, normalmente veiculadas nos domingos. Inovou ao tratar a seção Obituário, traçando perfis principalmente sobre os idosos que se vão todos os dias. Apesar da perda que significa a notícia, o texto costuma ser encantador pelas inúmeras ações que as vidas longevas desenvolveram ao longo do tempo. Além disso, o DC mantém excelente time de aritculistas e cronistas, além de cadernos como o Variedades e o Cultura, sempre bons de ler.
Na Ilustrada deste domingo, Daniel Filho explica porque costuma fazer grande sucesso com seus filmes. À parte deter a poderosa rede Globo como difusora do que produz ou dirige, Daniel Filho se destaca como um artista de primeira, por mais esqueletos do armário que possamos apontar na sua longa trajetória a serviço do monopóplio global. É um ator excelente, como comprovam alguns filmes que proagonizou, a começar por Chuvas de Verão, de Cacá Diegues. E tem uma receita infalível para não afastar o público: ele diz que segue à risca o conselho do pai de Eça de ujeiroz, que tinha optado pelo realismo. “Não faça corar as senhoritas” disse o velho.
Como temos, na maioria, bundas pulando em frente às câmaras, revelando uma nação adolescente que ao descobrir o sexo acha que só ela trepa, fica claro porque as comédias de costumes de Daniel Filho ultrapassam a faixa de um milhão de espectadores. Ele cita o caso do Baixio das Bestas, que felizmente não vi, que pode levar o espectador ao desespero. Vi, ou tentei, ver, Cidade Baixa e para mim bastou. Nem cheguei perto do óPaió, ou algo parecido. Pelo trailer vi que o negócio era putear sem parar, em seqüências subsidiadas pelo dinheiro público.
Quando acharam exagerada a publicidade em torno do Banco do Brasil, uma autoridade argumentou que a concorrência no sistema bancário é muito grande e é preciso fazer propaganda para peitar os grandes bancos. Então pergunto: a Petrobrás concorre com quem? E os Correios? Já sei, eu vejo a propaganda maciça dos Correios e só uso os Correios. Não vou usar o correio da Venezuela ou o dos Estados Unidos. Faz sentido.
Mas Daniel Filho agora quer filmar os últimos dias do Getúlio Vargas. Pode fazer merda, já que Getúlio é consenso na História, na direita, na mídia, em tudo, de que foi alguém execrável e que só nos trouxe dissabores. Pode ser que não, que saia algum filme decente. Vamos esperar. O problema é que Daniel Filho detém o poder de distribuição da Globo filmes. Só o que ele gosta é distribuído, acredito. Isso pode engessar a produção. Se você faz algo que desgosta a Globo Filmes, ou uma das grandes distribuidoras do mercado, pode estar ferrado. Outro problema é o marketing excessivo em cima de porcarias, como foi o caso de Os Dois filhos de Francisco (quem se lembra hoje dessa joça?).
Na insurgência, é importante não deixar passar os assuntos que nos chamam a atenção ou nos incomodam. É preciso criar grande massa crítica que possa algum dia influenciar a cultura brasileira.
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