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15 de julho de 2007

O OLHAR E O CONCEITO ENQUANTO COISA


A única coisa que dá pé no Brasil é o discurso, a linguagem em ruínas. Fonte de múltiplas granas, o discurso serve para as licitações, as campanhas de marketing e de política, o jornalismo rastaqüera, a narrativa escrita e oral das televisões. Na academia, apesar de tantos trabalhos importantes, o que se destaca é o discurso recorrente e auto-alimentador, que garante preenchimento de vagas, exposição privilegiada e presença garantida em publicações especializadas, além do charme possível de se fazer na mídia.

Dois pilares sustentam a linguagem em ruínas: o olhar e o conceito. O olhar é aquela coisa enquanto viés, entende? Não importa o monte de excremento acumulado, o importante é o olhar sobre a coisa em si. Isso até daria samba se não fôssemos tão brutos. Mas como vivemos na proto-história, toda essa história do olhar é conversa para boi dormir. Quando é alguém como Walter Firmo, que falou do olhar colonizado quando essa palavra, olhar, nem estava na moda (lá pelos anos 80), aí se respeita. Mas quando vira modinha, e centenas de eventos são promovidos para debater o olhar sobre a coisa como um todo, então chega.

O conceito é aquele troço que só se segura enquanto você acredita que esse mundo fajuto que nos governa se baseia em conceitos, entende? O conceito de cabeça de rede no sistema televisivo, entende, está ultrapassada. Mas não é o conceito o foco, é o chuncho, a caixa dois que manipula a coisa. Você tem uma emissora que manda em todas as outras, impõe por exemplo a voz do Faustão para desespero dos lares brasileiros, isso lá é conceito? Isso é sacanagem e com sacanagem não se faz firulas. Para acabar com a mania do conceito só metralhando tudo. Aí vamos ver esse teu olhar sobre tantos conceitos.

O que comanda é a força bruta, a grana preta, a testosterona vencida (a senilidade mental dando as cartas sobre a putaria em todos os níveis da vida pública). Não é o olhar enquanto conceito, entende? Toda a produção literária e acadêmica do nosso tempo é pura perda de tempo se não temos como impedir que um bando de cretinos idiotas manipulem a percepção pública, como acontece em todos os espaços da mídia. Agora você vai se emocionar. Veja como o atleta está contrariado, dá para ver daqui. Você verá tudo isso depois dos comerciais e mais...Ou: e muito. E mais / e muito: haja saco.

Quando, por acaso, conseguimos ler algo que preste, ou ver algo que não é pura perda de tempo, abrem-se as comportas do choro convulso. Não pela emoção que sentimos ao entrar em contato com um autor de verdade, mas porque lamentamos desesperadamente a grande falta de tempo que é a atual vida brasileira. O mais insuportável é saber que isso é exclusivo nosso, que os outros países mantiveram algumas coisas. Eles tem revistas de informação decentes, por exemplo, jornais com credibilidade, canais de televisão com cultura de verdade, cinemas nacionais de ponta, alunos que conseguem estudar. Claro, existe miséria, corrupção, em toda parte do mundo. Mas nós extrapolamos.

O presidente do Senado está sob suspeita e investigação e o Congresso entra em recesso. O presidente é vaiado de maneira brutal e definitiva por uma massa de pessoas que chegam a noventa mil pessoas, vindas de todos os estados, e dizem que é manipulação orquestrada. É bilhão de reais para cá, bilhão para lá. Qual olhar, qual conceito, que poderá peitar essas barbaridades?

RETORNO - 1. Imagem de hoje: foto de Regina Agrella. 2. A Folha deste domingo incensa o golpista Lincoln Gordon, embaixador americano que insuflou o golpe de 1964, e que atualmente escreve suas mentiras em forma de memórias em cima de uma mesa de mogno brasileiro, o que lhe dá saudades do país que ele ajudou a destruir. A matéria dá destaque a algumas declarações bandidas desse artífice da operação Brother Sam, que iria incendiar o país caso houvesse aqui resistência ao golpe. Uma delas diz que Brizola fatalmente seria um ditador de esquerda e que Goulart era fraco para isso, mas tinha admiração por Perón. Lincoln Gordon deu um golpe que colocou nosso país sob pesada ditadura por vinte anos e por mais ditadura a partir de 1985. Para se justificar, acusa as pessoas que prejudicou com seu golpe ditadorial de estado contra um governo legítimo, eleito nas urnas e confirmado por pelebiscito. Além do mais, fica caindo de amores pelo Carlos Lacerda, achando-o brilhante, como acontece hoje em inúmeras reportagens que adoram o Corvo. Quer dizer que a ditadura era do trabalhismo, seu pé-sujo? E não a tua ditadura, que venceu e destruiu o Brasil Soberano?

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