Crescer é bom, o problema é como. Aparentemente, não há saída: ou você se submete às chantagens do império financeiro e político – o mesmo que impõe um boicote de mais de 40 anos a Cuba – ou pasta. Quem se opõe a essa situação ou propõe alternativas é tachado de retrógrado, obsoleto, incompetente. O golpe de 64 foi dado para nos entregarmos totalmente ao crescimento perverso. O mais grave é que ele se instalou nas mentes dos tais formadores de opinião , que tiraram a máscara e celebram alegremente o que foi feito no Brasil, à custa de mais desigualdade e entrega de soberania. Neste domingo, na Folha (o único jornal que consigo ler, apesar de tudo), uma reportagem de página inteira justificava o ano em que “crescemos” 14%, no auge da ditadura Médici.
O custo desse índice é colocado em segundo plano pela reportagem. Os golpistas gostam de dizer que aquele tempo foi uma guerra. Pois bem, um criminoso de guerra, Delfim Neto, chamado de professor pelo texto, pontifica o tempo todo, como se fosse o guardião do segredo do cofre. “O país não se endividou coisa nenhuma”, diz Delfim, na maior cara de pau. “As coisas pioraram depois, com a crise do petróleo”. Essa é muito boa. No momento
Apostamos no cavalo errado, tivemos uma bolha de crescimento (ajudando a subornar a classe média), que explodiu logo
A situação que vivemos hoje, de total dependência dos tais investimentos externos (pura especulação financeira que despeja dólar aqui para ganhar com o juro alto, o que torna o dólar “barato”) é resultado dessa política desastrosa que nos colocou no mato sem cachorro. Perdemos a soberania no parque industrial (e estamos perdendo no resto). Os pólos petroquímicos, por exemplo, uma idéia do nacionalista Bautista Vidal na época Geisel, caiu toda na mão de estrangeiros, como japoneses e alemães. Em nichos onde pretendemos saber alguma coisa, como foi o caso de Alcântara, o da indústria espacial, foi para o espaço com uma explosão mal explicada. Não temos direito à cidadania no mundo. Entregamos tudo e hoje tem gente que acha a fase militar da ditadura com alguns méritos.
Os militares tentaram compor nacionalismo com entrega do país via política econômica. Fizeram ao contrário de Getúlio Vargas, que fez política econômica com soberania. Deram com os burros na água. Tiveram que entregar o poder para o coronelismo dos grotões e os novos nababos da especulação financeira. Os militares deram o golpe
Agora estamos entrando em nova fase de ilusões. O total engessamento da economia é confundido com estabilidade (na época de Delfim, a inflação de 12% ao ano foi decidida por decreto). Na coluna de Mônica Bergamo (sempre entregando todas, com todas as letras) o mercado de luxo faz concessões nos preços, descendo do patamar de um trilhão de dólares a bolsa de luxo para apenas 900 bilhões. Um descaramento total.
Os americanos, de tanto disseminar o crescimento perverso pelo mundo, esquecendo suas raízes do capitalismo endógeno e bem sucedido, engendrado pela migração e o mercado interno, caíram na mesma arapuca. O caderno Dinheiro deste domingo, que traz o texto de louvação a 1973, publicou a matéria sobre os novos bilionários americanos. Deve ser o despertar do tal espírito animal dos empresários, de que fala Delfim justificando seus crimes. A má distribuição de renda atinge o coração do Império. Será que daqui a pouco haverá uma nova guerra de libertação por lá?
O que mais irrita é que economia, com a sacanagem geral do crescimento perverso, se transformou em matéria para iniciados. Você, como leigo, não pode fazer sua análise. Os formatrizes de opinião vão dar gargalhadas. Eles são modernos, eles são a coisinha da mamãe. Eles sim estão a serviço de uma ideologia. O que queremos apenas é o nosso país de volta.
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