BANQUETE EM CANNES
Reproduzo o banquete cinematográfico dos resultados do Festival de Cannes, divulgado pela da France Presse, e publicadado na Folha Online. Num país em que 90 por cento dos cinemas exibem o Homem Aranha 3, e que a TV aberta nos massacra com velhos filmes repetidos de Sylvester Stallone, é bom saber que existe vida inteligente na Sétima Arte contemporânea. Até quando suportaremos a ditadura cultural? Walter Salles (foto) já tinha denunciado essa situação. Qual a saída?
"O filme "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" ("4 Luni, 3 Saptamini si 2 Zile"), do romeno Cristian Mungiu, 39, conquistou neste domingo a Palma de Ouro do 60º Festival de Cannes. O filme, um relato direto de um aborto ilegal na Romênia nos anos 80, é o primeiro capítulo da série "Contos da Idade de Ouro", que Mungiu pretende realizar a partir de suas experiências da juventude.
A cineasta japonesa Naomi Kawase levou o grande prêmio do júri com "O Bosque de Mogari" ("Nogari no Mori"), uma parábola sobre duelo. O filme narra o encontro de dois personagens marcados pela morte, encerrados em sua própria dor. A diretora japonesa foi premiada por uma obra sublime, um momento de pura linguagem cinematográfica, sem recursos supérfluos nem artifícios narrativos.
O russo Konstantin Lavronenko recebeu o prêmio de melhor ator por "Izganie", de Andreï Zviaguintsev. O ator de 46 anos ficou conhecido com "O Retorno", primeiro longa de Zvyagintsev, premiado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2003. O prêmio de melhor atriz foi para a sul-coreana Jeon Do-yeon, por sua atuação em "Secret Sunshine", de seu compatriota Lee Chang-dong. A atriz interpreta uma viúva cujo filho é assassinado por um homem que o seqüestrou. O filme narra o calvário dessa mulher, que não consegue superar a perda do filho.
"As Medusas" ("Les Méduses"), do israelense Etgar Keret, 40, obteve a Câmera de Ouro, que recompensa uma obra-prima apresentada em uma das diferentes seções oficiais ou paralelas do festival. Keret, um dos escritores israelenses mais populares de sua geração, traz em seu filme um registro do absurdo, com histórias paralelas de homens e mulheres da Tel Aviv atual.
O cineasta americano Gus Van Sant foi reconhecido com o prêmio especial do 60º Aniversário do Festival de Cannes, concedido pelo juri para "coroar toda uma carreira, mas também por um belo filme Paranoid Park". Como em "Elephant", inspirado no massacre de Columbine (Palma de Ouro em 2003), Van Sant explora em "Paranoid Park" a angústia de viver de adolescentes que não se comunicam bem com os adultos.
O mexicano Carlos Reygadas e a iraniana Marjane Satrapi receberam o prêmio do júri por "Luz Silenciosa" e "Persépolis", respectivamente. "Luz Silenciosa", terceiro longa de Reygadas (após "Japón" e "Batalla en el Cielo"), se passa em uma virtuosa comunidade menonita do México e era neste ano o único filme latino-americano presente na competição oficial de Cannes. "Persépolis" conta a infância e a adolescência de Satrapi no Irã da Revolução Islâmica.
O americano Julian Schnabel foi premiado pela melhor direção, por seu filme "Le Scaphandre et le Papillon", realizado na França. O filme é uma adaptação do livro do jornalista Jean-Dominique Bauby, ditado após ficar tetraplégico. A diretora mexicana Elisa Miller, com "Ver Llover", levou a Palma de Ouro de curta-metragem. Em 13 minutos, Miller conta a história de um casal de adolescentes em dúvida sobre se deve ou não abandonar seu povoado no México.
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