Martin Scorsese não é um cineasta, é um açougueiro em pleno exercício do seu ofício. Ao criar seu pastiche de um filme chinês (Infernal Affairs, 2002) , Os Infiltrados (2006), ele celebra o Mal como única realidade do humano e se dispõe a deixar um rastro de sangue em cada cena. A primeira frase do filme diz tudo: o personagem não é produto do meio, do ambiente, antes quer que o meio seja produto dele, do indivíduo imerso na crueldade. É virar do avesso uma evidência que nos legou o humanismo marxista, a denúncia de que somos fruto do que nos cerca. Scorsese faz a contrafação de que a sociedade é o resultado do horror que existe dentro dos indivíduos.
Como cada pessoa humana carrega a maldição decretada por Scorsese, a realidade nada mais é do que uma sucessão de assassinatos, já que o único objetivo do filme é ensinar a matar. E matar tudo, sem dó nem contemplação, pois para isso viemos ao mundo, para nos entregarmos ao império da morte. Não há dignidade, nem princípios, apenas o pragmatismo inspirado pela cultura do dinheiro e da violência. Scorsese cumpre assim seu papel de fingir ser um cineasta-autor, quando não passa de instrumento da desertificação geral, imposto pelo imperialismo e acatado por ele como se fosse a palavra final sobre nosso destino.
O macartismo destruiu o melhor do cinema americano, expulsando principalmente os autores da produção cinematográfica. Nesse vácuo surgiram sujeitos como Scorsese, Oliver Stone e Tarantino. Eles clonaram a função de autor, que cabia antes a Arthur Penn e Nickolas Ray, entre outros cineastas da denúncia e da transgressão, para provar que a direita pode exibir seus dotes com um verniz do falso talento. Scorsese se contrapõe a todo o grande cinema que está sendo concretizado hoje por cineastas importantes, como Clint Eastwood, entre outros, e roteiristas e produtores esclarecidos. Levou o Oscar talvez por insistência ou por algo sinistro sobre o qual nada sabemos. Porque seu novo filme é vazio, tosco e sem sentido.
Ele consegue acabar até com grandes atores, como Jack Nickolson, que não consegue devencilhar-se da comédia e faz um vilão exacerbado e inverossímel, com sua filosofia barata sobre a realidade da bruta situação dentro do império. Matt Damon, também um bom ator de outros filmes interessantes, torna-se um marionete nas mãos do açougueiro. E temos Leonardo de Caprio, canastrão ex-imberbe que agora faz cara de mau, no melhor estilo dos grandes maus atores que ele idolatra. Notem o papel ridículo que cabe às mulheres no filme: a psicóloga que se entrega aos dois galãs, a prostituta que se submete ao velho safado, a policial filmada em seu traseiro.
Isso é Scorsese, que tanta gente gosta. Eu abomino. Vi o filme porque está celebrado, premiado e tudo o mais. Mas quando chegaram finalmente os créditos, me senti vazio e furioso. E não se trata de condenar a violência dos seus filmes. O Álamo tem violência o tempo todo, mas esta faz parte de um trabalho de resgate histórico e de atualização dos mitos que construíram o perfil da América. A violência, em Scorsese, está a serviço da maldade elevada à categoria de verdade irreversível. Scorsese é um infiltrado no cinema de autor. Merece repúdio.
RETORNO - Imagem de hoje: cena de "Os Infiltrados", com um desperdiçado Matt Damon e um Leonardo de Caprio fazendo cara de mau.
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