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23 de março de 2007

A DITADURA AMARRA AS PONTAS



O serviço está feito na economia, onde reside a verdadeira ditadura que nos governa. Mas como está disfarçada de democracia, então algumas pontas ficam soltas, especialmente na política, e precisam ser amarradas. Um desses nós foi dado recentemente, com o revelador encontro entre Lula e Collor. Qual o significado do evento? O sistema que colocou esses bonecos no poder está mais consolidado do que nunca e eles apenas cumprem a escrita, ou seja, ocupam ou ocuparam o Planalto para fingir que o povo decide. Mas o que fazem é transformar o país num joguete/petisco nas unhas da pirataria internacional. Os dois se trocaram gentilezas e posaram de estadistas que a tudo superam. Enquanto isso, toda a sujeirada para baixo do tapete continua lá, pulsando.

Outra ponta solta da ditadura é o jornalismo, mas isso está cada vez mais está sob controle, apesar de espernearmos aqui na internet, num gesto típico dos desesperados que nada influem. Soube que poderoso grupo, digamos, de comunicação (ô palavrinha execrável) aliou-se a um banco regional para fornecer “conteúdo” tanto na mídia impressa quanto na rede. O que é conteúdo? É o produto de uma operação casada entre publicidade e redação (ou o que resta dela). Conteúdo é o nó que falta para amarrar bem o jornalismo. A China já deu o exemplo: bloqueou 20 mil sites e blogs do Brasil, ou seja, calou, para os chineses, a voz da livre expressão.

Para que serve tanta campanha catastrofista, tipo água sumindo, aquecimento global, virus mortais (lembram do ébola? nunca mais ouvi falar)? Serve para privatizar todos os recursos do planeta. Como os governos são incompetentes para gerenciar o meio ambiente, então as corporações cada vez mais poderosas se encarregam disso. Já estão fazendo misérias no clima, como atestam várias denúncias, que nem vou citar aqui (está tudo na internet). Para tomar conta de tudo, até do ar, é preciso dominar o conteúdo. O mais grave para os ditadores é que a rede dá mostras de vitalidade e pode influenciar mesmo a opinião pública. Mas disso eles estão cuidando.

Quando a noite cair de novo sobre o país, lembre do que você leu por aqui. O que foi escrito durante esses anos estará na vala comum do esquecimento. Vão imperar os conteúdos, fruto das sacanagens da grana. Para conquistar o público, vão oferecer inúmeras vantagens, especialmente a sensação de que são especiais. Não acredite neles. Ninguém é especial. Somos criaturas com espírito livre e nada deveria nos destruir. Mas eles costumam vencer a guerra e nos colocar num limbo insuportável. Lá, no deserto, medrará a flor que força a pedra e busca a luz.

A poesia vai resistir às bombas de nêutrons jogadas sobre o imaginário do mundo. Só a poesia restará, pois é a única que não se rende ao tropel da bandidagem. Mesmo que eles se esforcem em destacar os escritores que estão a serviço da ditadura. Olhe em torno. Veja a carinha lambida do novo produtor de conteúdo. Ele fala para uma platéia anônima, e você faz parte dela. Eles são o máximo, não é mesmo? Estão providenciando coisas para a tua emoção. Eles costumam dizer coisas.


RETORNO - Imagem de hoje: miséria e opulência em Sampa. Foto de Marcelo Min.

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