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4 de fevereiro de 2007

DIÁRIO DA FONTE



SE EU FOSSE PRESIDENTE

Não é megalomania, é exercício de imaginação, muito comum entre nós, brasileiros, já que não fomos bem servidos, nas últimas décadas, por estadistas na capital da República. Bastava que um desses ocupantes do Planalto fizesse o mínimo, construir uma ferrovia, como fez Dom Pedro II. Mas como não fazem nada, a não ser produzir papel, planos que jamais são cumpridos a não ser no marketing, então sobra para o pobre cidadão comum sonhar em fazer melhor. O que é preciso decidir se você ocupar a cadeira número 1 do país? Eu começaria fazendo um up-grade na malha ferroviária. Deixaria nos trinques, pronta para ser usada para passageiros e carga. Nem precisaria cair na armadilha das licitações.Como a rede já existe, ou existiu, é só caprichar em cima dela, refazendo tudo com ajuda de mão de obra fixa, contratada e os serviços de voluntários. Duvido que não existam milhares de brasileiros dispostos a ajudar na reconstrução da ferrovia do país continente.

Uma das coisas que me invoca é como qualquer meliante consegue acesso ao dinheiro público. Intervir na boca do caixa não me parece tão complicado assim. Ou seja, você corta no varejo a grossa bandalheira do atacado. O cara pode fazer a estripulia que quiser, mas na hora de sacar, receber, transferir dinheiro para sua conta, não conseguiria. Por que? Acho que nem precisa da tal vontade política, um software seria suficiente. Vai sacar? O sistema não permite, só com ordem direta da presidência. Nos Ministérios, não haveria políticos exercendo cargos, mas técnicos qualificados com vocação de estadistas. Isso daria um rolo federal com o Congresso, você não poderia governar, dirão. Poderia sim. Tirar a palavra negócio da política é moleza, basta não receber os negociadores. Vão negociar a véia. Querem trocar apoio por verba? Filmo tudo e coloco no You Tube. Mas aí não liberariam as verbas. Só a grana grossa que rola na presidência sem que precise prestar conta nenhuma, que dá para comprar um tonelada de azeitonas e creme de leite, ou remodelar os móveis do Palácio, já daria para fazer um monte de coisas.

A idéia é governar por um só mandato, nada de reeleição, que você não terá chance depois de contrariar tanta gente. Mas uns quatro ou cinco anos bastam. Você acaba com a besteirada na educação, por exemplo. Acaba com a aprovação compulsória e traz de volta o primário e o ginásio. Quem não estudar, será reprovado. Quem reprovar duas vezes, fora. Outra coisa que não entendo porque não fazem é saneamento. Construir uma rede de esgotos em todo o país não me parece grande coisa. Desde que você não terceirize, não coloque na mão de empreiteiras. Aliás, eu nacionalizaria as grandes empreiteiras. Acabava assim a dívida que se tem com elas. Já faturaram demais. Tem empreiteiro trilionário, para quê? Você implanta a rede de esgotos e institucionaliza o bom e velho DLP, Departamento de Limpeza Pública, em todos os municípios. Acaba com a farra do lixo. Gera empregos fundamentais na Limpeza e nas ferrovias. Emprego de massa, em rede, de verdade, com carreira profissional nelas. Linha terceirizada de metrô? Pára com isso. Só serve para inventar crateras.

Na segurança, basta coragem. Você corta o fornecimento de armas, contrabandeadas ou não (haveria intervenção obrigatória nos arsenais disponíveis da União e dos Estados) e cerca a bandidagem com a pertinácia militar que é o abastecimento perene de armas, munições e retirada de feridos (como se faz com a guerra) nos campos de batalha. Você não dá moleza também para consumidor. Não adianta perseguir traficante se os boyzinhos querem consumir. Você dá um cagaço na gurizada. Precisa assustá-los com a presença marcante de um Estado soberano e fundado na ética. Faz uma limpa nas polícias e em comum acordo com o Judiciário, faz também uma reformulação dos quadros nos tribunais e cadeias. Limpa os presídios, investe no espaço físico e nas políticas públicas de reinserção social.

E te cerca de bons elementos, de gente capaz, brilhante, hoje atirada aos quatro cantos. Governe para o andar de cima das capacidades intelectuais e morais. Não faça concessões à mediocridade, hoje reinante. Não faça concessões aos idiotas. Desmoralize-os. Não permite que o dinheiro público financie a putaria na cultura. Implante em todas as regiões um grande estúdio para produzir cinema de qualidade, garantido por um esquema de distribuição que passe ao largo da atual situação, em que tudo está na mão de quem adora disseminar porcarias. E bata forte na programação da TV. Pelo menos, não sustente com grossa dinheirama um esquema que faz pregações religiosas na TV aberta, bigbrothers , programas de auditórios e outras baixarias. Não, nada de Chávez, que quer fazer a televisão obra da sua ideologia fajuta. Simplesmente impeça que a mediocridade tome conta de tudo. Estoque os imbecis num canto. Amedronte-os. E gere um novo paradigma para o país em ruínas.

E proteja-se, porque eles não vão deixar barato.

RETORNO - Imagem de hoje: ferrovia na Finlândia. No Brasil, o imaginário em relação às ferrovias é o mesmo que existia no século 19, quando o Império brasileiro implantou a rede, destruída a partir de JK. Imaginar algo novo fica difícil quando tudo vira ferro velho.

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