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14 de janeiro de 2007
O FANFARRÃO DESASTROSO
O socialismo é a fase posterior do capitalismo. Capitalismo bem resolvido gera, por força da luta e do engenho humano, o socialismo. Mal resolvido gera o imperialismo, que é o desvio de conduta, que se impõe pela força e mantém o perfil do velho mercantilismo monopolista da época colonial. Quando todas as forças sociais estiverem desencadeadas, a intervenção socialista regula a economia em proveito da população. Isso só pode acontecer por via pacífica (como acontece nos países ricos europeus). Lênin tentou por meio de um golpe de estado contra uma revolução burguesa vitoriosa (derrubou Kerenski, que tinha derrubado o Czar). Tentou remendar liberando o campo para a força produtiva da pequena propriedade, mas Stalin acabou com esse projeto, engessando a economia por setenta anos. A conseqüência todos sabem: a Rússia voltou ao estado inicial e caiu no gangsterismo a la anos 20. Fidel falhou por obra do boicote econômico: com a economia estagnada, continuou sendo dependente de produtos coloniais como cana e charuto.
PRESSÃO - No Brasil, tivemos um processo simultâneo: enquanto as forças econômicas eram desencadeadas pela implantação do parque industrial e pelas políticas sociais, o Estado se estagnava para se contrapor à pressão reacionária dos escravocratas. O estado que buscava o equilíbrio entre capital e trabalho (idéia de base socialista) acabou sendo derrubado depois de sucessivos golpes de estado: 1945, 1954 e 1964 e foi enterrado de vez nesse sub-produto de 1964 que é 1985, a posse de um vice-presidente sem que o presidente, eleito indiretamente depois da derrota das Diretas-Já,tivesse assumido antes. A esperança era reverter o quadro por meio do voto. As lutas populares desaguaram em Lula, o presidente dos banqueiros. O fosso anti-socialista se aprofundou, enquanto se disseminou o discurso pró-socialismo, que aqui ficou apenas no discurso.
LIBERDADE - O slogan de Chavez, socialismo ou morte, é um desastre. Você não implanta o socialismo pela força, ainda mais num país atrasado, dominado pelo imperialismo mercantilista e com forças sociais e econômicas engessadas. Você precisa liberar essas forças por meio do capitalismo, como ensina a cultura marxista clássica. Chavez não sabe o que é socialismo. Ele simplesmente aproveita a situação de exaustão popular diante do terror e a miséria, gerada pelo imperialismo e a traição reacionária interna, e confunde tudo, trocando as bolas. O vilão não é o capitalismo, mas o imperialismo. A solução não é a luta armada, mas o socialismo que é construído a partir de um projeto econômico e social que faça as forças produtivas atingirem o seu auge. Você não vai à praça pública levantar o punho fechado e dizer slogans obscurantistas. É preciso se dar o respeito, respeitando contratos internacionais, primeiro, e negociando a mudança deles por meio da força do Estado de Direito e não pela fanfarronice desastrosa.
EXÉRCITO - Chavez está criando um exército de 500 mil jovens, dando treinamento militar e chamando esse sujeito perigoso, o presidente iraniano , para visitar a América Latina. Está implantando aqui o pesadelo que existe há décadas no Oriente Médio. O imperialismo adora a guerra. O socialismo adora a paz. Ao optar pelo arsenal e o ilimitado exército disseminado pela sociedade, Chavez apostou no pior e vai nos levar junto para o buraco. Toda vez que ele exibe aquela cara metida a esperta em Brasília, me dá calafrios. Não pelos motivos apontados pela esquerda ou direita. Mas porque na sua alegria imbecil está contido um futuro de guerra total.
SOBERANIA - Nenhum estado poderoso poderá fazer o que fez na América Latina, a não ser que você dê motivos para eles. Não me entendam mal. Se você se impuser como Estado Soberano, os Estados Unidos ficam de mãos amarradas. Mas se você chamar o Irã para cá, se armar até os dentes e ficar fazendo discursos fanfarrões desastrosos, então os gringos terão a faca e o queijo na mão para intervir. Bush precisa de clones, de idiotas perigosos como ele, para reinar. Veja quanta munição Sadam Hussein, com sua fanfarronice sanguinária, forneceu para Bush disseminar o terror.
ERRO - A fonte do equívoco Chavez não está no processo histórico, mas no artificialismo das teorias de esquerda e direita. Quanto mais insumo houver para essa ilusão de que "venceremos, pátria o muerte, no pasarán", mais perderemos, mais teremos morte e mais eles passarão. Aliás, eles sempre passaram, por mais que no pasarán tenhamos dito.
CORAGEM - Para deixar de ser fanfarrão ou entreguista, é preciso coragem pessoal e gênio de estadista. Não temos nada à vista por enquanto. Temos no Brasil e na Venezuela dois desastres políticos, alimentados pela propaganda mentirosa e grotesca, que vai acabar colocando fogo na mata. Na hora que houver a grande tragédia, não digam que não avisei.
RETORNO - Imagem de hoje: pintura de Bosch.
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