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8 de dezembro de 2006



O JORNALISMO SOBREVIVE

Gostei do Prêmio Embratel. Marcelo Tavela, no Comunique-se, dá detalhes das premiações, a maioria delas para o chamado jornalismo investigativo. Todos sabem que jornalismo mesmo é o investigativo. É como diziam nas redações antigas: jornalismo é pau, o resto é propaganda. Para não dizer que o Diário da Fonte só bate na mídia (o jornalismo acabou, cheguei a dizer aqui, ao abordar a miséria do noticiário, o que, diante do volume de inutilidades, continua valendo), transcrevo a seguir o texto de Tavela, que revela as origens das denúncias feitas por jornalistas de primeira, dedicados e todos merecedores do prêmio. A reportagem sobrevive, mas ainda é muito pouco.

JORNALISMO INVESTIGATIVO VENCE PRÊMIO EMBRATEL

Marcelo Tavela


"Se algo une os principais vencedores do 8º Prêmio Imprensa Embratel é o jornalismo investigativo. Muitas das reportagens premiadas envolveram profissionais infiltrados e um longo trabalho de investigação e acompanhamento das pautas. A cerimônia, realizada na quarta (6/12) na casa de shows Canecão, zona sul do Rio de Janeiro, foi apresentada por Márcia Peltier e Ronaldo Rosas - reeditando parceria da antiga TV Manchete - e distribuiu R$ 166 mil em prêmios que variaram de R$ 5 mil a R$ 20 mil.

O Grande Prêmio Barbosa Lima Sobrinho, o principal da noite e último a ser entregue, foi para a reportagem As ambulâncias da fraude, publicada pelo Correio Braziliense, em dezembro de 2005. Escrita por Gustavo Krieger, Marcelo Rocha, Leonel Rocha, Luciene Soares, Ana Maria Campos, Lúcio Vaz e Ugo Braga, a matéria revelou o superfaturamento na compra de ambulâncias pelo deputado Nilton Capixaba (PTB), em Rondônia. Acabou virando uma série, que terminou somente em agosto de 2006, mostrando a ramificações pelo país do que ficou conhecido como Máfia dos Sanguessugas.

A equipe foi representada por Marcelo Rocha e Lúcio Vaz, jornalista gaúcho radicado em Brasília, que lembrou seu primeiro dia como estudante de Universidade Católica de Pelotas. "Um professor perguntou o que eu queria ali. Respondi, ingenuamente: Estou aqui para mudar o mundo. A tarefa é árdua, mas acho que tenho feito a minha parte", contou Vaz.

Tânia Lopes, irmã do jornalista assassinado Tim Lopes - "há 4 anos, 6 meses e dois dias" - entregou para o repórter Giovani Grizotti, da RBS TV, de Porto Alegre, o prêmio de Jornalismo Investigativo - Troféu Tim Lopes, pela reportagem A farra dos vereadores turistas. Infiltrado entre parlamentares, Grizotti flagrou o uso de verba municipal em uma viagem dos vereadores de Sapucaia do Sul (RS) para um curso sobre redução de gastos públicos em Foz do Iguaçu. Os políticos, na verdade, fizeram compras no Paraguai e visitaram as cataratas. "Graças à reportagem, 25 vereadores são alvos de processos", informou Grizotti.

Ainda em televisão, os jurados do Prêmio Embratel decidiram dar um prêmio especial, hors-concours, para Falcão - Meninos do Tráfico, especial produzido pelo produtor cultural Celso Athayde e pelo rapper MV Bill no Fantástico, da Rede Globo. "Eles podem não ser jornalistas registrados ou sindicalizados, mas se isso não é reportagem, eu não sei o que é", declarou o representante do Fantástico que recebeu a premiação.

Jornal, TV e Rádio
O prêmio de Reportagem em Jornais e Revistas foi para os repórteres Sérgio Torres e Raphael Gomide, da sucursal carioca de Folha de S. Paulo, por Exército recupera armas após fazer acordo com facção de traficantes, que evidenciou a negociação de militares com o Comando Vermelho para recuperar armas roubadas em quartel no Rio. O Exército negou o acordo.

Reportagem em Emissora de TV foi para a série Célula-tronco, de Luiz Carlos Azenha e Maria Cândida, veiculada na TV Globo. Os jornalistas mostraram médicos que receitavam medicamentos não-autorizados com falsas células-tronco. Os remédios eram prejudiciais à saúde.

O jornalismo infiltrado voltou à cena na categoria Reportagem em Emissora de Rádio. Cid Martins, da Rádio Gaúcha, ganhou com Nazistas sulinos, que acompanhou os encontros de grupos neonazistas em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. "O que mais me impressionou não foi só a participação dos jovens, mas também de seus pais e avós", comentou Cid.

Casal vencedor
Nos prêmios sobre imagens, dois flagrantes da violência em São Paulo. Wilson Araújo, da TV Globo, levou Reportagem Cinematográfica por São Paulo punguistas, que mostrou uma estratégia em grupo para furtos de carteira na capital paulista. E Marcos Fernandes, fotógrafo do Diário do Comércio, ganhou Reportagem Fotográfica com Os meninos da luz vermelha, que flagra menores quebrando vidros de carros parados no semáforo vermelho na Avenida do Estado para roubar bolsas.

E outros dois prêmios ficaram em família. Vandeck Santiago, do Diário de Pernambuco, ganhou, pela segunda vez consecutiva, na categoria Reportagem Cultural com Vauthier - A história que a França desconhece e o Brasil esqueceu. Caderno especial de 12 páginas, o trabalho abordou a atuação do engenheiro francês Louis Léger Vauthier em Pernambuco, no século XIX, tanto nas obras públicas como na noite de Olinda.

Esposa de Santiago, Silvia Bessa, repórter de política do Diário de Pernambuco, recebeu o prêmio de Reportagem sobre Telecomunicações em Veículo Não-Especializado por Nordeste conectado. A série de reportagens mostrou como regiões pobres do sertão estão encarando a internet. "Vi crianças trabalhando em plantação para poderem pagar LAN houses e acessar o Orkut. De certa forma, elas fazem a inclusão digital que o governo não consegue", relatou Silvia.

O prêmio de Reportagem sobre Telecomunicações em Veículo Especializado foi para a dupla Ana Paula Oliveira e Ceila Santos, da revista Computerworld, com O futuro das telecomunicações. O Prêmio Embratel é a única forma de reconhecimento para a mídia especializada, disse Ceila.

Açougueiro e bibliotecário
Solange Calmon, da TV Senado, recebeu emocionada o prêmio de Responsabilidade Social das mãos de Zuenir Ventura. Ela concorria com duas reportagens na categoria, Casa Paulo Freire e Biblioteca T-Bone, e ganhou pela última, sobre a biblioteca montada por um açougueiro de Brasília. Lemos muito pouco. E eu ouvi isso de um açougueiro alfabetizado aos 18 anos, relata.

O prêmio de Reportagem Esportiva foi para Lúcio de Castro, repórter do Sportv que percorreu o Brasil exibindo diferentes formas de torcer durante a Copa do Mundo na série ?Os passos da paixão?. O escocês Andrew Downie, do The Daily Telegraph, recebeu o prêmio de Correspondente Estrangeiro com a reportagem Guardian of the stone age tribes.

Os prêmios regionais abordaram dramas sociais, em cidades grandes e no interior. Para a Região Norte, ganharam Orlando Farias e Castelo Branco, do Correio Amazonense, por O delírio da morte - os dois não conseguiram comparecer graças à crise nos aeroportos. Na Centro-Oeste, o prêmio foi para Ana Beatriz Magno, que já recebera o mesmo prêmio em 2003, do Correio Braziliense¸ por Órfãos de guerra.

Para a Região Nordeste, foram contemplados os jornalistas Ciara Carvalho, João Valadares, Cláudia Vasconcelos e Verônica Almeida, do Jornal do Commércio, de Pernambuco, com a matéria Retratos da infância. No Sul, ganharam Carlos Etchichury e Nilson Mariano, do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, com O retrato do Pampa. E no Sudeste, venceu a série 21 anos depois. As lições dos Cieps, de Selma Schimidt, Paulo Marqueiro e Ruben Berta, do jornal O Globo."

RETORNO - Imagem de hoje: Dustin Hoffman e Robert Redford no clássico "Todos os homens do presidente". Precisamos de filmes sobre as fraudes.

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