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31 de dezembro de 2006

O ANO VIRA A PÁGINA






O Tempo é o livro onde estudamos. Não podemos nos desconcentrar. No meu colégio, havia uma intervenção do professor, uma frase que considero insuperável: "De pé quem está conversando!", dizia ele quando a bagunça tomava conta em algum canto da sala. E os culpados se levantavam! Essa era a glória da nossa civilização, que perdemos. Havia responsabilidade de quem errava, autoridade de quem chamava a atenção. O exemplo assim se destacava. Não se tratava de uma acusação fora de quem cometia o deslize. Era um chamamento para a consciência. Praticávamos o exercício do livre arbítrio, em favor da ética, pois a bagunça atrapalhava os estudos, que estava em primeiro plano.

REPETÊNCIA - Soube que em São Paulo, onde os alunos passam por decreto, que o horror tomou conta das salas de aula. Para que se comportar se a aprovação está garantida? Só tem um jeito de reprovar: por faltas. Assim mesmo, sei de casos em que o sujeito faltou quase o ano todo e foi aprovado. O diretor da escola disse para os professores: dê tantas presenças para ele, porque precisamos aprovar. É para efeito de estatística: desse jeito os governantes se orgulham da falta de repetência e ficam de boca aberta esperando verbas para sua grande competência.

DESTAQUE - O crime maior é que a juventude de hoje só pode se destacar pelos esportes. Quando eu era estudante, não jogava nada. Mas todos me respeitavam, desde os mais marombados aos mais frágeis, pois eu fazia parte do grupo que tirava notas altas. Quem jogava o fino no futebol, que tinha corpo de atleta, invejava o bom aluno. Esse era o parâmetro: o cara que estudava, o resto vinha a reboque. Hoje quem se aplica nos estudos é punido. Se o companheiro de sala, que não está nem aí, bagunça o tempo todo e ainda é brindado com a aprovação, para que estudar então? Precisamos resgatar a meritocracia, sob pena de afundarmos ainda mais no poço onde nos metemos.

EXEMPLO - Vejo o mau comportamento na praia onde vivo. Os invasores chegam com seus corpos sarados, bêbados, querem todos os espaços das ruas e calçadas. Berram, tocam som alto. Estão à vontade, no não-país. Não existe exemplo dos que estão no poder. Se a autoridade não se comporta, não tem consciência, então tudo pode. Uma garota explodia a baba do seu chiclete na minha cara, no ônibus. Perguntei se ela queria cuspir em mim. Sim, respondeu ela e continuou mastigando sua gosma horrenda. As férias perdem o sentido se elas se transformaram numa continuidade das aulas. Se todo mundo brinca em classe, o que fazer na folga? Atacar os outros, claro. Vejam quem detém uma bola na praia: o objetivo é acertar o semelhante. Enquanto não te acertam, não descansam.

ESCOLA - O poder no Brasil foi tomado pelos últimos da classe e, pior, pelos que não freqüentaram a escola. Somos o país do "nóis vai". A escola é demoralizada pelo humor escroto das televisões. Vejam a ironia. A escolinha fajuta, de falsos conhecimentos, é uma invenção do tempo em que a escola imperava. Então ficava engraçado um professor lidando com alunos burros, todos humoristas. Agora, que a coisa degringolou, fica sendo apenas insumo para a barbárie.

MARIA - O ano vira a página e estamos em plena época de vigília e oração. Queremos proteção, Senhor, para nossas vidas tão expostas. Queremos te celebrar, Senhor, pelas inúmeras graças. Rogai por nós, Maria cheia de graça. Dai-nos a paz.


RETORNO - Imagem de hoje: meu colégio Santana em 1932, foto de Theodor Preising.

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