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12 de dezembro de 2006



CHILE, O VERDADEIRO LUTO

O ditador morreu de velho. Nada há a celebrar. Chile está de luto desde a derrubada do governo eleito de Salvador Allende, um golpe que acabou levando também Pablo Neruda. Para eles dediquei dois poemas, que foram publicados no meu livro "No mar, veremos" (Ed. Globo, 2001). Quando falam em democracia, lembro que presidentes democraticamente eleitos foram derrubados pela barbárie dos ditadores e dos imperialistas. Não me falem em democracia. Ela foi assassinada, junto com milhares de pessoas que se insurgiram. Nós, que vimos pelos jornais, que fugimos, que lutamos precariamente, que sobrevivemos, que nos tornamos invisíveis, devemos render-lhes tributo. Quando alguém citar Allende ou Neruda, é preciso que todos fiquem de pé.

SALVADOR

Salvador Allende morre combatendo
O seu corpo dói e está atento

O doutor vestido de soldado
me digam onde está enterrado

Salvador Allende não se entrega
e morre, como a esperança, em La Moneda

Alguém bate no Chile e não atendem
Estão matado o presidente

Quem me devolve Salvador Allende
com a arma na mão e o rosto tenso?


PABLO

Da cordilheira desce a lava que fecundou as ilhas
o sêmen das águas profundas
a mão que alimentou o arco-íris

Da cordilheira desce Neruda, o passageiro noturno
pai que nos jogou no meio do mar
braço possante colhendo a mínima flor

Do Chile desce o diamante que força o túnel
magia da clara mina onde o sol resiste
duro perfil de pássaro ferido

Das cidades sagradas da América desce Neruda
coração a serviço diário do futuro
ninho de um povo que ainda será livre.

RETORNO - Quatro autores já estrearam no blog coletivo NovaKlaxon: Marco Celso Hufel Viola (de Porto Alegre), Emanuel Medeiros Vieira (de Brasília), Eduardo Sanmartin (de Nova York) e eu (de Florianópolis). Falta ainda José Fonseca e outros que virão. O objetivo é debater poesia, literatura. O nome, dado por Sanmartin, é uma referência à revista modernista Klaxon. Vai correr bala.

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