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16 de novembro de 2006

COMO RESOLVER PROBLEMAS





A garota é assassinada pela indústria pedófila da moda, a que reduz o corpo das meninas a dimensões trágicas, para evidenciar sua fragilidade e assim representar o corpo humano totalmente à mercê da ditadura do dinheiro. Se sentia gorda com 46 quilos. Tinha 40 quando morreu. A culpa é de quem? Da internet, segundo estudo de uma ONG (sempre elas), que detectou uma série de sites e blogs de garotas entre 13 e 17 anos que encaram a anorexia como algo normal. É assim que se detectam problemas para resolvê-los. Basta censurar a internet e tudo ficará bem. No jogo do Brasil contra a Suíça, Galvão anuncia a participação dos internautas e aposta qualquer dinheiro (as palavras são dele) que a pergunta é sobre o quadrado mágico. Ele coloca a internet embaixo do braço, no seu devido lugar, o de mídia subalterna ao grande monopólio. Antes era todo o Brasil ligado na coisa, agora é todo o mundo, segundo o Presença Hegemônica das Transmissões Esportivas. É assim que se resolve tudo: a culpa é da grande rede de computadores, o único lugar realmente democrático que existe. Até quando?

GANGORRA - Há um pânico generalizado na mídia com a perda de leitores e espectadores. A culpa, claro, é da internet, que rouba preciosas horas dos cidadãos, que preferem ser protagonistas do que escravos da publicidade nos programas audiovisuais e nas matérias impressas. Que importância tem se o Michel Temer se insurgiu com o Lula e o PMDB está negociando alto sua adesão ao novo governo? Isso dá bocejo desde a primeira sílaba. Como costumam mentir o tempo todo, o que vemos são contradições, pois a gangorra do mal se reveza em análises opostas, em perspectivas que se anulam, em profecias furadas, em análises pífias. E a cara dos colunistas de política e economia, como se acreditassem ser formadores de opinião? Ninguém faz a cabeça de ninguém. As pessoas pensam por conta própria e a prova são os milhões de espaços virtuais criados diariamente. Ninguém precisa do cronista ou do lúcido analista ou blogueiro cada vez mais oficial. O que existe é tédio e revolta.

RECEITAS - Por que estão preocupados tanto com gordura e magreza? Todo santo dia tem gente falando nisso. Por que não criam políticas públicas para a alimentação, em vez de entregar tudo na mão dos piratas, que deitam e rolam nas distribuições, preços, produtos? Você quer algo natural? Pague muito caro. Para perder peso é preciso ter dinheiro. Pobre engorda. Mas isso ninguém fala. É como se todos os males fossem culpa da população, que está completamente presa ao que decidem por ela. Importamos trigo, consumido pela população, e exportamos soja para os porcos da Europa e Ásia. Vejo um caminhão natureba: estão ricos, vendem verdura sem agrotóxico. Pois deveriam proibir veneno em todo o território nacional e deixar que a população plante e venda alimento sem pagar imposto. Mas nisso nem se fala. O importante é mostrar receitas, balanças etc. E ainda ter de ouvir apresentadoras vacas aconselhando o povo como se fossem a própria Sinhá do tempo colonial.

CABIDE - Osso, pele e gordura (sim , as magérrimas são pura gordura) servem de cabide para roupas exóticas, mas o principal objetivo é mostrar como as mulheres podem ser desfrutáveis na passarela, para encanto dos velhos corocas que perderam a tesão e tentam recuperá-la olhando criaturas indefesas (que são chamadas, claro, de poderosas). Vi uma supertopplusmodel se fantasiando de cocar e pena num anúncio e fazendo gesto de nativa hispânica indígena. É triste, lamentável. Ninguém reclama.

RETORNO - Imagem de hoje: Scarlet Johansen em "Canção de amor para Bob Long" (2004). Uma atriz de verdade, dona do seu corpo, muito longe da obsessiva magreza estúpida das manequins. A propósito, vi Gisele Bünchen num filme fazendo papel de bandida brasileira. É de explodir a paciência.

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