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29 de novembro de 2006
CONCERTO INTERNACIONAL DAS NAÇÕES
O Brasil cavou o lugar que ocupa atualmente no concerto internacional das nações. No filme Simplesmente Amor, feito pelos ingleses, o destaque brasileiro Rodrigo Santoro faz um personagem de nome Carl e não é identificado como natural do nosso país. O enfoque é desviado para uma festa de solteiro, em que as mulheres são travestis brazucas. O evento é lembrado numa cerimônia de casamento, pontificada pelo que a Inglaterra tem de melhor, a música dos Beatles. Aliás, o filme é um auto de fé no modo britânico de ser. Somos lembrados pelos corpos disponíveis, a prostituição e, num outro lugar, o jeitinho, como destacou o jornalista Paulo Sotero numa conferência nos Estados Unidos. Nós é que dizemos para eles como somos. E temos cacife para sermos vistos de modo diferente. Num filme sobre o amor, porque não tocam "A noite do meu bem", obra-prima de Dolores Duran? "Ah, como esse bem demorou a chegar..."
SOBERANIA - E na palestra, em vez de nos condenar por nosso jeitinho ou nos absolver pelo quanto que temos ainda para entregar para os piratas internacionais, por que não se fala na soberania que nos foi roubada? É que desistimos do que realmente somos.Preferimos ser cama e mesa dos gringos. Por que? Porque sim. É por isso que os bancos deram dez milhões de reais para a campanha de Lula. Para o troço continuar como está, ou seja, vai piorar. Ontem conversei com jovem tomando chimarrão de manhã cedo no centrinho aqui do bairro. O rapaz está convencido que o mundo não dura mais 50 anos e por isso não quer ter filhos. Ele acredita que vivemos os últimos tempos, já que faltará água para todos e está tudo envenenado. Não é o primeiro guri apocalíptico que vejo. Descobri que a infância deles foi nos anos 90, bem no pico da certeza do Apocalipse. É uma geração criada para o fim do mundo. É natural que reajam assim e não acreditem que o mundo continuará, sempre em conflito, sempre "acabando de se acabar" como disse Garcia Márquez em Cem Anos de Solidão.
FRAGOSO - Enfim, os paulistas concordam que havia mercado interno no Brasil colônia, que o país não era essa plantation caribenha, como acreditavam. Só que o crédito não está sendo dado a quem de direito, ou seja, ao historiador do Rio de Janeiro, João Luís Fragoso, que escreveu sobre isso e publicou no livro "Homens de grossa aventura" (Civilização Brasileira, 1998). Na matéria sobre o novo livro de Jorge Caldeira, no Estadão, Daniel Piza atribui a Caldeira a descoberta de Fragoso (este, provou sua tese estudando o Nordeste, mas sua sacada serve para todo o Brasil). Lembro que falei em Fragoso na USP e ninguém sabia e quem sabia, saltou. É que ele não é das margens do Ipiranga.
GUERRA - Como se sabe, a Guerra da Independência foi enterrada pela historiografia focada em São Paulo, que elevou às alturas do Grito do Ipiranga. Três anos de luta na Bahia e em todo o Nordeste não serviram para nada. A entrada triunfal das tropas brasileiras em Salvador também não serviu para nada. Ficamos com a tese fajuta de que as Cortes Portuguesas entregaram oito milhões e meio de quilômetros quadrados de mão beijada. Milhares de mártires da Independência jazem esquecidos nos campos de batalha da Bahia, Maranhão, Piauí. Enquanto difundimos a tese de que não somos de nada, terra do jeitinho, apenas um não-país que merece gargalhadas. "Levantai-vos, heróis do novo mundo", como já dizia o poeta.
RETORNO - Diz um site baiano, de onde tirei a imagem de hoje: "A comemoração do dia 2 de Julho é uma celebração às tropas do Exército e da Marinha Brasileira que, através de muitas lutas, conseguiram a separação definitiva do Brasil do domínio de Portugal, em 1823. Neste dia as tropas brasileiras entraram na cidade de Salvador, que era ocupada pelo exército português, tomando a cidade de volta e consolidando a vitória".
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