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6 de outubro de 2006
OLHAR OS CONTEMPORÂNEOS
O Mal está na falta de empatia, diz o personagem psicólogo da série produzida para a TV, Nuremberg, de 1999, de Yves Simoneau. Sentir-se desconfortável entre as pessoas gera maldade, segundo essa abordagem. É o que vemos diariamente. Não enxergar quem está ao seu lado ou à sua frente, preparar o bote quando ele se mostra vulnerável, apostar no pior quando se fala de alguém, são posturas recorrentes que tornam o país insuportável. É tão explícito que falar disso chega a ser insumo para mais maldade. Precisamos abrir mão de uma série de preconceitos para ver o que vai sumir com o tempo. Não adianta lamentar depois a oportunidade perdida, a de não ter lançado alguma ponte com alguém. É difícil manter a integridade quando a má-fé toma conta dos debates, e a falta de diálogo nos empurra para o isolamento. O mais difícil é que o estoque de frustrações coloca uns contra os outros. O tempo passa e nada restará a não ser ruínas. A não ser que a empatia que temos por algumas pessoas se estenda para todo o gênero humano.
IMAGENS - Outra observação importante do filme (que tem muita bandeirinha americana para o meu gosto, enquanto os russos, que decidiram a guerra, são apresentados como fanfarrões) é que o nazismo foi viabilizado graças à comunicação moderna. As imagens da coesão das tropas em desfile, a oratória insana do líder, os signos tomando conta das mentes, o espírito coletivo sendo conduzido para o ódio e a guerra. Como antídoto, os filmes impressionantes sobre os campos de concentração decretam a condenação dos algozes. Li montes de relatórios sobre os acontecimentos, diz o promotor interpretado (mal) por Alec Baldwin, mas só depois que vi esses filmes soube do que se tratava. A diferença entre Baldwin e um ator de primeira, que é Anthony Hopkins , é brutal. Hopkins faz apenas uma cena importante em Amistad, de Steve Spielberg. É advogado de defesa dos negros. O discurso tem bem menos impacto do que o dito por Baldwin em Nuremberg. Mas enquanto Baldwin se esganiça, deitando tudo a perder, Hopkins segura a cena de maneira magistral. Um grande ator faz a diferença.
FRASES - Um filme vale quando todos os seus elementos estão bem resolvidos. Os que citei acima e mais O Assalto, de David Mamet, deixam vários pontos em falso. Mamet é um roteirista fantástico, autor de frases ótimas. Vou citar algumas desse filme: "Sou tão silencioso quanto uma formiga mijando em algodão. Todo mundo precisa de dinheiro, é por isso que se chama dinheiro. Ele era bom antes de você nascer. O cara foi salvo de uma bala porque carregava uma Bíblia no peito. Se levasse também outra Bíblia na cara, estaria hoje contando a história". Mas seu roteiro intrincado e cheio de furos estraga o filme, que tem excelentes atores, a começar com Gene Hackman (tem ainda Danny de Vito e Sam Rockwell). Assim mesmo, gosto de selecionar o que me agrada e e de me debruçar sobre obras que ficam pela metade. Tudo o que é imperfeito chama a atenção. Mas é claro que nada substitui uma obra-prima.
NAVIO - Talvez essa seja a saída para o convívio com tantas pessoas ao nosso redor. Enxergar o que melhor nos agrada, relevar as partes fracas, ser generoso nos detalhes, apostar no sucesso alheio e esperar reciprocidade. Se ela não vier, paciência. Você está no lugar exato: na amurada de um navio, tentando ver quem se aproxima na neblina. São as pessoas, com seus defeitos e qualidades. Bem-vindos todos a bordo. Mas não usem o que nos aproxima para aprofundar o que nos afasta.
RETORNO - Imagem de hoje: Gene Hackman, Danny de Vito e Sam Rockwell em "O Assalto": os contemporâneos se dão as costas.
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