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12 de julho de 2006

BALANÇO DA FOSSA



O título é um trocadilho com o célebre livro "Balanço da Bossa", de Augusto de Campos. A idéia é pedir a cabeça dos responsáveis pelo papelão do Brasil na Copa, e já adianto: o papelão não foi da seleção brasileira, mas do monopólio que a domina, incluindo aí a publicidade. Ei, para onde foram aqueles comerciais do banco poderoso, que tratou nossos craques como micos de circo? Pagaram uma baba para os caras fazerem piruetas com a bola (vejam os macaquitos!). Como se trata de um banco estrangeiro, que comprou um banco público, e dos maiores, aqui do Brasil, e ganha os tubos com a atual política econômica que enriquece banqueiros e empobrece a população iludida, deveria entrar também no ralador deste balanço da fossa.

O monopólio não é apenas a rede Globo, que é sua mais vistosa vitrine.Onde já se viu todas, mas todas mesmo, as revistas darem capa com o Ronaldinho Gaúcho antes do desastre? Até foto sexy conseguiram (ou acharam que conseguiram) fazer com o sujeito. Não que os jogadores que se prestaram a esse circo de horrores (estavam em todos os espaços da mídia) sejam inocentes. Mas um sistema político e econômico que compõe essa sujeirada deveria ser punido, ou no mínimo analisado e criticado. Não podemos é simplesmente embarcar na canoa furada da sacanagem geral e achar que a seleção pentacampeã é um saco de pancadas para tanto herege que surgiu por todo o lado.

CANASTRA - Entre um filme e outro, dou uma zapeada para ver o que há na TV aberta. Numa dessas escapadas, fiquei seis segundos na nova novela, Páginas da Vida. O José Meyer estava na cama! Isso sim é uma profissão. O imbatível canastrão (aquele que arregaçava as mangas na hora de fazer sua coluna, quando desempenhou papel de jornalista) é o retrato falado desse monopólio sem contestação, que ampliou seu poder quando a ditadura civil se consolidou a partir de 1985. Nada muda na telinha porque assim é que está bom para eles, que fazem gato e sapato do país. Dominam a vida nacional sem que ninguém levante a voz e quando levanta é ignorado: eis a arma fatal de quem detém o poder na mídia, poder que nos deu a troupe do Galvão Bueno, o asqueroso que enterrou a seleção depois que perdemos por um a zero para a França, esse timinho de merda que saiu estropiado da primeira fase e alcançou a glória quando fez um gol em Dida, o goleirão que fechou o gol a maior parte do tempo (nenhum elogio a Dida? Ou os elogios são só para dizer que não jogamos nada, por isso ele teve de jogar tanto; vejam o que aconteceu com os outros goleiros, inferiores a Dida: tinham compatriotas a seu favor e saíram cobertos de louros e loas ).

MELIANTE - A troupe global, capitaneada por Galvão, que fez a mais longa babação de ovo da história do mundo, em Zidane, o meliante que se despediu do futebol dando uma cabeçada no adversário, é formada por: comentaristas ridículos metidos a superiores (o songa monga do Casagrande e o incompreensível fast-food Falcão, que adora fazer gestos de elegante, pois meteram na cabeça dele que é um elegante); os juízes guindados a jornalistas comentadores, que passam o tempo todo justificando os árbitros ( tudo o que os corporativos comentaristas da arbitragem dizem pode ser resumido no seguinte: "o macaco está certo!"); os repórteres espetaculares, que confirmam a cobertura pífia, sem contestação, ao perguntarem sempre a mesma coisa e a fazerem materinhas de jornalismo de breque, aquele suspense falso no meio das frases, o que torna tudo sincopado, monótono e muito cretino. A troupe, que deveria ser imediatamente apeada do poder, é complementada por Pedro Bial, do Fantástico, que declarou seu amor a Zidane chamando-o de sedutor, e vingou-se de Ronaldo, achincalhando o grande craque que nesta Copa foi um dos goleadores e bateu o record histórico de 15 gols nas Copas que disputou. Vingou-se sim, ou alguém esqueceu 1998? O título de 2002, com dois gols de Ronaldo na final, estava atravessado na garganta de Bial.

ARMADILHA - Toda novela tem um nicho de, digamos, povo. É sempre uma casarona, ou um boteco, ou uma rua, ou tudo isso junto, onde o tal povo faz sua performance. É o contraponto aos elegantes, os sofisticados, os ricos corruptos da trama. O chamado povo é espalhafatoso, sacana, mas tem lá seu charme. Uma coisa é certa: o núcleo popular é sempre totalmente desprezível, pois é para desprezar o povo que a novela faz esse tipo de coisa. O álibi é o seguinte: precisamos colocar povo, pois é disso que o povo gosta (a jararaca, a putaça, o aproveitador, o engraçadinho, a empregadinha, personagens que ao longo da novela vão sendo revelados, alternadamente, pela mídia de suporte, como a grande sensação da história toda). Pois esse tal de povo não é para retratar o povo real, mas para fazer com que o povo real se sinta superior a esse povinho da novela. É um apelo ao sentimento aristocrático do povo real, que ao viver num país de tanta desigualdade, precisa se iludir que é alguma coisa na vida, é superior pelo menos a essas criaturas pobres que a novela reproduz. Haja nós.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: concentração de renda na Avenida Ipiranga, de Marcelo Min.2. 1. Miguel Duclós informa sobre as atualizações do site Consciencia: "A arte como poesia essencial em que um povo diz o Ser, por Maria Isabel Rosete, doutoranda em estética na Universidade de Lisboa, Portugal; O espelho da guerra - a virtu na visão renascentista de Maquiavel, por Mariano de Azevedo Júnior, graduando em História na UERN e bolsista do PET - Programa Especial de Treinamento. "

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