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24 de maio de 2006
A SÍNDROME DE ESTOCOLMO
A demonstração de força dos criminosos em São Paulo provocou pânico nas pessoas normais e admiração nas anormais. Há uma onda de paixão pelos líderes do movimento. Um deles foi chamado de galanteador pela Folha. Comentários do Comunique-se referem-se a ele como senhor. Arnaldo Jabor meteu sua colher torta para reforçar suas teses. Disse que o crime é globalizado, ágil, tecnológico e rico, o que é uma declaração de amor ao que nos ameaça. Jabor contrapôs esses maravilhosos criminosos ao estado pesadão e burocrático. O recado é claro, como a regra: esse estado pesado, herança, óbvio, da Era Vargas (quem mais seria o culpado?) não se modernizou como o crime, por isso paga agora o pato. Muitos reféns do presidente Lula, que ao trair as convicções e aspirações dos militantes deixou todos numa armadilha, vão votar nele de novo (desprezando assim a argumentação alheia e, o que é pior, tentando nos convencer que isso é muito natural). É pura Síndrome de Estocolmo, aquele vício psicológico que faz o refém se apaixonar pelo seu seqüestrador. Almodóvar abordou esse tema em Atame e inverteu o enfoque em Fale com ela, o primeiro de uma série de filmes que começo a ver, já que a redação foi brindada com um aparelho de dvd. A sétima arte voltou ao Diário da Fonte.
MATANÇA - A ressurreição dos matadores profissionais, que encheram as ruas de cadáveres, vingando-se nos inocentes (única explicação para não liberar a lista de mortos) da surra que levaram do crime, é típico dessa covardia que está no poder há 42 anos. Eles contam com nossa omissão e ainda gargalham da tesão que despertam na pseudo-intelectualia. Esta, usa a matança para justificar o ódio ao governo paulista, que está na campanha presidencial. Isso tudo é muito nojento. Perdemos a pista do humano. A única boa notícia é que o trabalhismo vai fechar com a presidência Simon, o que me dá razão ao fazer a escolha na primeira hora. Tinha lamentado que não votaria no trabalhismo, pois agora, se tudo dar certo, votarei. Há uma comoção nacional favorável a Simon, um nome à altura para resolver esse embrulho. Precisamos nos livrar desse circulo vicioso, essa república café com leite (petucanato de que nos fala Gilberto Vasconcellos). Precisamos virar esse jogo, para que nos respeitem. Pois estão tentando nos envolver com suas melífluas observações. Tem gente que estava próxima e que tentou me enredar na sua indiferença pelo que penso e defendo publicamente. Não se dão conta que estão prisioneiros, apaixonados pelo algoz. Adoram o traidor e querem espalhar o vírus para quem está perto e confiava neles. Meu recado é direto: afastem-se. Estou em pé de guerra. Não confunda meu abraço com capitulação.
SALVAÇÃO - Achei Fale com ela um filme e tanto. Pelas imagens, pelo ritmo, pela história trágica que se desenrola em sussurros. Pela música, a maioria brasileira, com uma performance inesquecível de Caetano Veloso. A história é conhecida: dois homens cruzam com o destino de duas mulheres que ficam em coma. A salvação virá da fé, não da ciência. Acreditar que a pessoa deitada escuta, sente e pensa poderá salvá-la. O enfermeiro responsável pela mulher prisioneira se apaixona por ela e a desperta com um filho, ato considerado crime pelos costumes oficiais. O jornalista que não sabia que a mulher reatara com antigo amor e ainda imaginava estar ligado a ela, não acredita que falar com ela mude alguma coisa. A falta de fé condena seu amor à morte. A falta de confiança condena seu amigo enfermeiro à morte. A tragédia é exposta em cenas fortíssimas, que deságuam na possibilidade de um novo amor. Gosto de Almodóvar, com todos os seus excessos. Alguns me incomodam, mas no geral é um cineasta forte e importante.
RETORNO - 1. A foto é da personagem Alicia, a bailarina que ressuscitou ao ter um filho, no filme de Almodóvar. 2. O esforço da ditadura para impedir a candidatura Simon dá bem a dimensão da importância do Senador nesta quadra decisiva da vida nacional.Sarney luta pela sua obra, a ditadura civil, da qual é representante máximo e fundador. E Renan Calheiros...não era aquele sujeito asqueroso envolvido com as barbaridades do Collor, ou estou enganado?
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