Blog de Nei Duclós. Jornalismo. Poesia. Literatura. Televisão. Cinema. Crítica. Livros. Cultura. Política. Esportes. História.
Páginas
▼
19 de fevereiro de 2006
MEMÓRIAS DA LIBERDADE
Virou moda baixar as calças para a China. Depois de décadas sucatando indústrias de países pobres e vendendo a ilusão para os mercados subdesenvolvidos de terem acesso às grandes griffes, depois de imitar cada produto transformando tudo em quinquilharia descartável (como podemos ver em qualquer birosca), depois de invadir os países com seu gigantesco contrabando e pirataria (como não cansam de repetir os noticiários) e implantar máfias poderosas no varejo da parte indefesa do mundo (como atestam denúncias e prisões) , os chineses agora viraram coisa. Todos acham uma beleza.
O melhor da China é a oposição à ditadura, como atestam os maravilhosos filmes que a partir dos anos 90 encantaram o mundo e que produziu pelo menos uma grande estrela, a atriz Gong Li. Sua cultura antiga, seu pioneirismo em inúmeras invenções, da pólvora à impressão gráfica, são alvo de admiração. Mas isso não pode ser vir de álibi para essa contrafação que é uma ditadura que usa trabalho escravo competindo com países escravos. A última da China é que tirou do ar um blog, com a concordância do Bill Gates (é o que diz o noticiário). Vai ser assim: um dia vamos estudar esta época em que fomos livres na internet. Tudo vai virar documentário, igualzinho ao que temos hoje sobre os anos 60. Todos, claro, vão concluir que o sonho acabou. Dessa não nos livramos.
ORKUT - Entrei finalmente no Orkut e fiquei impressionado. Tirando as baixarias e idiotices, que existem em qualquer lugar, vi pelas comunidades que existe um enorme público, segmentado (como gosta a publicidade) discutindo de tudo. Em algumas entrei para aprender, como as de Pierre Bourdieu e Guy Debord. Em outras, para compartilhar informações, como as de João Gilberto, Kurosawa, David Lean e Tenentismo. E em outras por pura sintonia, como a que se dedica a curtir o Saint-Exupery. Existem espaços hilários como a que odeia o livro Vidas Secas. A meninada está com a razão. Empurrar Graciliano na flor da idade, obrigando a comer areia, é dose.
Acho Vidas Secas o máximo, mas descobri por mim mesmo, ninguém me indicou ou me obrigou a ler. É um livro para ser descoberto e não para ser imposto. Deveriam oferecer livros deliciosos de leitura, ou pelo menos oferecer um espectro mais amplo de leituras, não apenas os brasileiros. Levar pela mão os estudantes até Terra dos Homens (Saint Exupery), Moby Dick, Robinson Crusoé ou Monteiro Lobato é bem melhor do que impor pedreiras. Não se trata de facilitar a leitura, mas de jogar democraticamente com os estudantes. Eles chiam com razão e o Orkut é o fórum que precisa ser visitado pelos professores.
O que acho uma pena é que existem muitas boas idéias atiradas, sem atualização, comunidades abandonadas. Interagir é bom. O perigo é a facilidade das opiniões superficiais, das agressões. Mas no geral vejo que há um esforço para debater o que pega na cultura e no comportamento. E o que mais dá retorno são os anônimos que metem bronca contra os ídolos das comunidades, provocando reações em massa. O que não pode é resvalar para a agressão e para o perigo. Mas tenho prestado atenção no humor. A comunidade que defende o hábito que comer sanduíches antes de dormir é ótima. Serve para desintoxicar o excesso de informações metidas a corretas.
RETORNO - A foto deste post é a imagem de Gong Li. 2. A foto nova do blog foi tirada hoje, em casa. Mais apropriada à claridade do verão e às boas conversas na varanda em dia de chuva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário