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22 de janeiro de 2006

CONSULTORIAS, A MISSÃO





Fazer jornal ou revista é fácil, basta passar o comando a quem é do ramo, ou seja, jornalistas. Você não faz jornalismo chamando uma consultoria cheia de fumaças de pessoas que se dizem masters em comunicação e que no fundo apenas servem para tirar dos veículos o que eles têm de essencial, a informação, a independência e o talento. Se você for realmente bom, não vai ficar engravatadinho dando conferências com frasesinhas de auto-ajuda do tipo "a redação não é mais um reduto de loucos apaixonados, mas de gente que trabalha em sintonia com produção e marketing", como li ontem ao pesquisar sobre este tema. O problema é que as consultorias continuam fazendo estrago e não perdem as chances de continuar faturando alto enquanto os jornais e revistas viram essa pasta uniformizada, que apenas reproduz o Mesmo, jamais ousa de verdade, abandona o que há de mais importante (pessoas do ramo e leitores) e usam como massa de manobra a quantidade de recém formados que, desesperados, batem em todas as portas. Depois de destruírem os grandes jornais e revistas, agora as consultorias pegaram os jornais médios regionais. É um assunto complicado, que precisa ser abordado com todas as garras. Basta de picaretagem.

INOVEICHON - Qual a verdadeira missão das consultorias, especialmente as multinacionais (com sede para a America Latina em Puerto Rico, olé!), que adoram palavras como inovation, que nada mais é do que o verniz que eles passam por cima do sepulcro caiado em que transformam a comunicação? Servem para consolidar o sucatamento do jornalismo brasileiro, proibido de existir depois que o país perdeu a soberania para a pirataria internacional. Você não destrói um país mantendo vivo o jornalismo. É preciso acabar com a profissão, como já fizeram. Para isso, é preciso desmoralizar o jornalismo. Como se faz isso? Simples. Primeiro, usa-se os lucros gerados pelo bom jornalismo para acabar com os lucros da empresa. Isso vem da incúria do gerenciamento. Nos veículos mais importantes, graças ao envolvimento dos grandes grupos de comunicação com a privataria, quando se meteram em ramos como telefonia e derram com os burros nágua. Nos menores, graças à destruição da credibilidade do jornal médio ou pequeno, que vende sua tradição em troca de dinheiro em época de eleição. Feito esse serviço, coloca-se a culpa nos jornalistas. Eles seriam uns loucos apaixonados que ficam jogando tudo fora. Então chama-se a consultoria, que ganha por pessoa demitida. Eles enxugam as redações, ou seja, derrubam os veteranos, impõem a censura e colocam um monte de jornalistas recém saídos do forno para usá-los de maneira torpe, ou seja, explorando sua energia e boa vontade para fazer um monte de bobagem.

MANIPULEICHON - Depois, é só manipular os resultados. Quando o projeto fracassa redondamente, depois de dois anos, o veículo, pela tradição, tende a continuar, mesmo capengando. Pois coloca-se esse projeto fajuto no currículo da consultoria e parte-se para outra vítima. O jornal que adotou os consultores acaba perdendo a forma e continua se arrastando, como puta maquiada que ainda sonha em faturar. Como não há oposição, esses safados tomaram conta da mídia desempregando milhares de pessoas preparadas e talentosas. E continuam dando as cartas. Depois de fazerem a cagada monumental de destruir a revista da Editora Globo, Pequenas Empresas, Grandes Negócios, que tem um titulo magnífico, mudaram o nome para PEGN, impronunciável. Demitiram Manuela Rios, a maravilhosa jornalista que, sorte minha, depois de 12 anos como diretora de redação , veio fazer reportagens para revista que eu editava na Fiesp, a Noticias Fiesp/Ciesp. No lugar dela, colocaram um monte de pessoas sem preparo. Você vê o quê hoje nas banca? O velho título da revista, que é um achado e influencia um monte de outras marcas. A revista voltou com seu título tradicional. Perdeu tempo e dinheiro com os falsos entendidos.

PADRONIZEICHON - Na Gazeta Mercantil (que afundou graças à má gestão do sr. Luis Fernando Levy, segundo fontes fidedignas) e no Estadão (que perdeu seu carisma em favor de uma padronização), as consultorias deitaram e rolaram. Quando estava na Fiesp, grandes jornalistas me telefonavam contando tudo. É assim que as consultorias fazem. Implantam o terror, demitem sem dó, acabam com a alma dos jornais e revistas e depois saem lampeiras em busca de outros pescoços. E fale mal deles para ver. São intocáveis, com seus textinhos de auto-ajuda.

RECEITA - Como salvar um jornal? Restaurando sua credibilidade. Basta chamar um diretor de redação (cargo que está sendo extinto) e dar-lhe autonomia. Agüentar o repuxo das denúncias, viver de leitores, separar jornalismo de publicidade, reinvestir os lucros na própria empresa de comunicação, pensar a médio e longo prazo, demitir os colunistas que vendem notinhas, não servir de veiculo para a bandidagem, especialmente a do dinheiro público, montar equipes talentosas, permitir que desenvolvam seu trabalho sem interferências sacanas. Fácil, não? Claro que tudo isso causa horror à maldade que tomou conta dos jornais e revistas. Eles preferem esses profissionais de oclinhos redondos, boquinha túmida, cabelinho espigado, terninho da moda, dedinho em riste, masterizado, bestializado e cheio de dizidas. Pois esses você joga no lixo. E traga de volta o velho lobo do mar. É disso que o leitor gosta.

RETORNO - A imagem deste post é mais um quadro da mostra "Un orizzonte poetico", do pintor belga Jean-Michel Folon (1934-2005), divulgado na revista Sagarana (link ao lado).

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