Blog de Nei Duclós. Jornalismo. Poesia. Literatura. Televisão. Cinema. Crítica. Livros. Cultura. Política. Esportes. História.
Páginas
▼
11 de outubro de 2005
A CRISTALEIRA DA DITADURA CIVIL
Hebe Camargo é a falsa inocência da tirania, a cristaleira onde se colecionam gracinhas, ou seja, os artistas do Brasil. No programa de ontem, Maria Rita foi recebida como um bibelô, coisinha de Jesus mais engraçadinha do mundo. É a maneira eficiente de colocar a grande intérprete, e seu repertório, na vitrine das coisas inócuas, onde tudo cabe, desde que se mantenha o arrocho do atual sistema. Hebe malufou por décadas, fazendo campanha descarada do sujeito que hoje está na prisão. Faz sempre a apologia da moral e dos bons costumes, reforçando agora a velha campanha contra o PT, partido que fez o serviço sujo: colocou a esquerda e os movimentos populares na vala comum da corrupção e da ineficiência. A campanha petista do jovenzinho que foi correndo se filiar ao PT logo que viu as denúncias é exemplar da cara de pau da cúpula do partido, que quer continuar usando o povo para seus propósitos, escancarados nas CPIs. A longevidade de Hebe representa a eternidade da ditadura que nos governa e a capacidade de adaptação aos tempos. Ela faz parte da galeria de personalidades famosas que reiteram o papel da arte: o de ser uma louça na cristaleira do sistema que exclui a maioria o tempo todo.
MODELO - Mas por que tanta amargura contra uma pessoa tão simpática, que todos adoram? Porque não foi por acaso que ela foi mantida tanto tempo no ar. Tudo vira pó naquele sofá. O pior é que serve de modelo para outras apresentadoras, todos clones de seus maneirismos e seu jeitinho de fazer televisão. Hebe é a velhinha de Taubaté da extrema direita, que se vangloria de suas riquezas e sente a maior pena dessa pobre gente que fica tentando ganhar remédio de graça nas filas do SUS. Existem pobres porque existe super concentração de renda e Hebe é um exemplo dessa distorção. Sustentada pela publicidade milionária, coberta de jóias nos eventos sociais, ela exibe a prepotência justificada dos que se locupletam com a grana expropriada da população (da qual, claro, sente pena). Mas isso é só amargura, claro. Precisamos nos submeter ao arrocho e ao deboche daqueles discursos tão corretos, aplaudidos pelo conservadorismo medieval. Estamos cercados pelas trevas. Saio para caminhar e três senhoras me cercam para me deixar uma mensagem de Jesus. Escapar desse tipo de situação é ser acusado de tinhoso, de que está contra a Bíblia. É uma sinuca de bico. Mais mil anos de ditadura.
NÃO! - A galeria dos artistas que adoram o Sim do desarmamento é o sinal de que fracassamos miseravelmente, como diria Mucio Borges da Fonseca. Todos são unânimes em apoiar o governo e a rede Globo na campanha para deixar as armas na mão das quadrilhas. E gravam seus testemunhos com aquela cara de politicamente correto, como se tivessem o direito de nos advertir contra o perigo na esquina. Ora, Chico Buarque, Maitê Proença et caterva: vão plantar batatas na estufa do autoritarismo. E preparem-se, porque o Não vai ganhar. Preparem-se para um resultado acachapante, idêntico ao de 1950, quando Getúlio Vargas, contra todos os prognósticos, deu uma lavada em todo mundo. Não brinquem com o povo do Brasil soberano, o mesmo que derrotou em dois plebiscitos, o parlamentarismo, pois sabe o quanto o Parlamento pode significar ditadura em nosso país e quanto um só presidente pode mudar tudo, para melhor. Arrumem bem suas caras lambidas e depois da derrota não me venham com a conversa de que este povinho não sabe votar. O povo vai votar em massa no Não. Vai todo mundo votar 1, Não ao desarmamento e os artistas de plástico vão ficar chupando cana. Mas você é a favor das armas, credo!? Sou contra o desarmamento, pois esse governo não tem moral nem garante a segurança de ninguém para obrigar toda a população a desarmar-se. O referendo será primeira resposta, o primeiro sinal do grande repúdio à ditadura civil. O Não não é de esquerda ou direita. O Não é o dedo em riste do povo que não quer mais se submeter ao hediondo sistema que nos governa.
RETORNO - Literatura e memória em ritmo de frevo na revista Cronópios: Urariano Mota abre o baú e nos brinda com o conto " Domingo na casa do Gordo" .
Nenhum comentário:
Postar um comentário