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4 de agosto de 2005
FACES VERMELHAS E LÍNGUA SOLTA
O mal que Lula fez ao País extrapola qualquer balanço que possamos fazer agora. Mas ficam evidentes algumas medidas do estrago. Uma delas é a desmoralização das lutas populares, que depois de décadas não só se frustram, como se imobilizam e acabam se reduzindo a alguns nichos corporativos. É patético ver os carros sindicais barulhentos (o som com volume excessivo é uma das pragas do Brasil da ditadura, que se espalham por todo o canto) falando em mobilização enquanto o povo passa indiferente. Há imobilidade, pois as lideranças já tiveram sua oportunidade, toda ela depositada em Lula. Outro estrago pode ser percebido a partir da fala presidencial de ontem, em mais um evento do populismo petista, onde o ex-operário assume a personagem que construiu (junto com o obscurantismo acadêmico) para Getúlio Vargas, mas que cabe direitinho nele: o de pai dos pobres (na ilusão de que o povo é analfabeto e portanto não está a par das falcatruas). De faces vermelhas e língua solta , Lula se espalhou no palanque: disse que votou contra a reeleição, mas quer mais um mandato e todos terão, segundo suas palavras, que engoli-lo. Não, não vamos engolir. Vamos jogar fora essa contrafação ditatorial que assumiu o poder e não quer mais largar o osso que rói com tanta volúpia. O estrago a que me refiro é a idiotia que senta hoje no trono querer perpetuar-se, para desgraça geral.
TRAGÉDIA - As derrotas dos anos 60 repercutiram nas décadas seguintes, seguindo a indicação de Marx no 18 Brumário de Luis Bonaparte (a obra-prima que não cansamos de reler): uma História que se e repetiu em tragédia e depois como farsa. A tragédia é plural, foram as sucessivas derrotas para a ditadura. Primeiro, a anistia, que perdoou os torturadores, ao contrário da Argentina, onde até hoje estão indo para a cadeia. Segundo, a dos movimentos estudantis, que na seqüência da grande derrota de 1968 reafirmaram a obsolescência desse tipo de mobilização e que desaguou em lideranças como a do lindinho Berg, do Rio de Janeiro. Terceiro, a dos partidos políticos, que se transformaram em siglas mistificadoras, a começar pelo PTB, que excluiu os quadros trabalhistas verdadeiros. Segue-se o PP, que nada mais é do que a velha direita troglodita disfarçada de progressista. Depois o PPS, o novo nome do Partidão velho de guerra, que precisou se esconder para não dar bandeira, já que o comunismo foi considerado enterrado e morto depois do fim da Guerra Fria. Verdes, vermelhos, amarelos e azuis fazem parte dessas bandeiras sem povo, já que o eleitor, que não gosta de mentiras, prefere votar em personalidades e jamais em projetos ou plataformas. A farsa é o governo Lula. Uma cortina de fumaça para o imperialismo (nada como velhas palavras para iluminar realidades eternas) apossar-se ainda mais do país. Além de criar mais uma camada do Estamento, que as malas abarrotadas de dinheiro tornaram nobre. Por isso é que o tratamento que dispensam entre si é a de nobre colega: com tanta nota preta, viraram tudo sangue azul.
MALINHAS - O dinheirão que se gasta em marketing fajuto deveria ir para obras de infra-estrutura (trens e redes de esgoto, preferencialmente). Seríamos um exemplo de eficiência se no lugar de enriquecer os galinhos de rinha e os malinhas espertos tivéssemos estradas de ferro modernas e regulares que integrassem de verdade o país. Hoje a integração se faz virtualmente, por meio da publicidade oficial na televisão e outras mídias. Quanto custa para a nação a liçãozinha de moral de que devemos ser gentis uns com os outros? Quanto se gastou no Fome Zero? O Banco Popular gastou mais em propaganda do que em empréstimos para a população, que é o objetivo para o qual foi criado. Outra coisa que se deve mexer são as licitações. Quadrilhas dominam esse nicho. Como resolver? Ainda vai rebentar uma guerra grande neste sertão, profetizou Antonio das Mortes em Deus e o Diabo na Terra do Sol. Glauber sempre soube onde estava metido. Nós é que nos enganávamos, achando que iríamos ludibriar o destino.
CALAFRIOS - Quando ouço o presidentinho de faces vermelhas e língua solta dizendo barbaridades, me dá calafrios. Não só por ele, mas pela empáfia da direita corrupta guindada ao patamar do moralismo público, graças à incompetência das esquerdas e a fragilidade dos líderes que deveriam assumir responsabilidades, e não apenas cargos, e cumprir com a palavra que empenharam em praça pública.
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