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25 de agosto de 2005
A ECONOMIA NÃO PODE
Você pode derrubar presidente, mas não toque na política econômica. Esta foi formatada fora das fronteiras e serve para tungar a população e adonar-se do território nacional (mantendo a nação, pois para quê eles vão querer gerenciar mato e praia e serra se tem caboclo aqui que faz isso?). Você diz o que quiser em rede nacional, mas jamais implique com o pagamento dos juros da dívida externa, do uso do solo para plantar o deserto verde da soja, da exportação de proteína enquanto a população se mantém sobre gambitos, feixes de gravetos que até parecem pernas humanas. Escreva o que bem entender, mas jamais impeça que o país sirva de brinquedinho multinacional, que concentre toda a renda na mão de poucos (dá menos trabalho para a expropriação do país, e ainda se mantém uma casta cruel no domínio na situação).
CADEIRAS - Deixe que as denúncias façam a dança das cadeiras no Parlamento e no Executivo, isso não importa. Podem desviar recursos à vontade, tudo isso é troco diante do que se leva para fora. Convoquem o cachorrinho da madame, a madame, o ajudante-de-ordens para depor, mas não toquem no doleiro, que dá problema. Tudo isso vai passar, o PT acabou, o PDT agora tem mais chances, o tucanato poderá voltar ao poder total, mas o que vale é que as veias continuam abertas. Não estanque a hemorragia, nem a denuncie. Fique na sua, brasileirinho. Continue dançando. Participe das gincanas homens versus mulheres em horário nobre. Equilibre ovo na testa, melancia no alto da cabeça. Se vira nos trocentos. Não distribua a renda de jeito nenhum. Onde houver qualquer indicio de sobra, de poupança, faça uma campanha de solidariedade e tire do bolso dos trouxas o que eles poderiam economizar. Todos se sentem culpados. Muitos intelectuais resolveram calar o bico, obedecendo assim aos ditames da situação. Parece tudo muito estranho, mas é assim que deve ser. A verdade é que não se produz pensamento por aqui. Quase todos pensam conforme regras estipuladas. Esse sistema granítico de pensamento gerou a ilusão Lula, que faz parte da linhagem histórica das ilusões da esquerda. Cinco são os pecados da esquerda: não participar da revolução popular vitoriosa de 1930, tentar dar o golpe de estado em 1935, radicalizar artificialmente a imagem do governo democrático de João Goulart em 1964, optar pela guerrilha na época do regime militar e colocar todas as fichas no PT e em Lula. A esquerda colhe o que plantou.
OSTRACISMO - Coloque essa grana preta em quem lançou livro com todo o apoio milionário do marketing e deixe o resto dos escritores no ostracismo. Para isso servem os estímulos, as premiações: para reiterar o Mesmo, mantendo todos sob o jugo da economia do arrocho. Enquanto isso, vemos o testa-de-ferro da política econômica com seu sorrisinho anódino, completamente blindado. Ele tem apoio da oposição, e do poder de verdade. Autoridades vão para os Estados Unidos dar explicações, fazer o relatório do butim, para que não haja ruído. O secretário de Tesouro dos gringos vem para cá dar o recado: brinquem de democracia, mas continuem fabricando riquezas para nós. E liberem mais mulatas e quadris rebolantes. O mundo precisa do Brasil, o rabo do mundo. Cuidem para que essa brincadeirinha de criança, os blogs, não ameace esse sistema perfeito. Onde já se viu blog com um milhão de visitas por mês como o do Noblat? Olho neles. E reassumam logo o poder, passou da hora. Usem o janotinha com cabelinho igual ao que se usava na República Velha, o ocludo irado que chama presidente de idiota, o entregador de país que posa de rei da cocada preta, o governadorzinho que se deixa filmar de chapéu de operário em construção visitando obras e apontando para o horizonte. E não deixe escapar aquele prêmio. Frete um jatinho e fique surpreso que exista alguma coisa nos grotões. E volte imediatamente para o banho de mar. Não importa que ele esteja cheio de merda.
FUTURO - Não esqueça de proteger a aposentada que por dois anos filmou o crime da sua janela, com crianças se drogando o tempo todo. Elogie sua coragem, prenda os suspeitos de sempre, mas permita que continue a bandalheira. O Brasil não pode dar certo. Se der, o que será dos países poderosos que vivem à custa dos erros de Pindorama? Sem nossa porção do planeta arduamente conquistada por gerações, eles não terão futuro, já que não possuem natureza, água. Eles são o deserto, prenda minha.
RETORNO - 1. A revista Bestiário publica meu conto O Cotovelo de Vidro. É a estréia, fora dos limites dos sítios pessoais do autor, do Cabo Adão como personagem literário. 2. A revista Maquina do Mundo publica dois poemas meus, Caixa Coral e É bom o mar. Eles fazem parte do meu livro ainda inédito, Partimos de Manhã, que aguarda confirmação de uma editora.
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