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25 de maio de 2005
VÉSPERA DE VIAGEM
Migrar é sentir saudade do insuportável lugar que abandonamos. Migrei muitas vezes porque não aguentava mais a cidade que me aprisionava com suas rotinas, imposições, hábitos, ruídos, poderes, empregos, perspectivas. Você simplesmente vai embora e de repente se pega dançando a dança do pezinho ou fazendo algo que jamais fez, tomando mate. Aí você volta e os grilhões continuam lá, como se estivessem à sua espera. Mas é claro que isso é uma ilusão, você só não pertence àquele lugar. Nunca pertenceu a lugar nenhum. Seu sentimento de exclusão, na volta, é dobrado, pois tudo o que você tinha plantado antes se esfumou ou alguém se apropriou. Visite os terrenos baldios da sua memória e encontre-o cheio de pragas. É melhor virar-lhe novamente as costas. Mas para onde ir agora, quando você já palmilhou a maior parte do país e o Exterior se fecha com seu arsenal de bombas e de paranóias? Você simplemente refugia-se em si mesmo. Ou melhor, migra para o terreno sagrado da literatura, onde encontra teus pares e os leitores que se emocionam com tuas palavras.
FRANÇA - Já que nada vi na imprensa, transcrevo o seguinte acontecimento neste mês de maio: "Montpellier: uma praça para a literatura brasileira/ O salão Comédia do Livro de 2005 abre com show de Gilberto Gil/ Uma feira de livros ao ar livre é realizada há vinte anos na cidade de Montpellier. Ela ocupa por três dias a praça da Comédia, onde mais de 300 escritores são convidados para divulgar suas obras. Este ano, uma delegação literária brasileira veio participar do espetáculo cultural para mostrar o que o Brasil lê e canta. Chico Buarque, Milton Hatoum, Luiz Fernando Verissimo encabeçam o grupo de convidados que prestigiam, nesta noite de inauguração, o show musical do Ministro da Cultura, Gilberto Gil. Da comitiva fazem parte também a antropóloga paulista, Betty Mindlin, e o romancista gaúcho, Tabajara Ruas. Uma curiosidade do salão Comédia do Livro é o bondinho-biblioteca, onde os passageiros vão encontrar sobre os bancos cerca de trinta livros diferentes. Durante a viagem, eles podem folhear, ler e mesmo levar as obras para casa. O bonde serve para o transporte físico, mas também para o transporte intelectual, disse Henri Talvat, sub-secretário de cultura de Montpellier". A entrevista do Taba, ao vivo na rádio francesa, está na internet. Taba autografou a primeira tradução da sua literatura na França. Trata-se do noir O Fascínio, ambientado em Uruguaiana, e que foi muito mal recebido pela imprensa pátria. Já os resenhistas franceses se deslumbraram. É sempre assim. Vivemos cercados pela mediocridade.
MINUANOS - Delmar Marques me liga de Porto Alegre, onde está de plantão na boca da gráfica aguardando seu mais recente livro, um romance que conta a saga dos desaparecidos indios charruas e minuanos. O lançamento será dia 10 de junho, uma sexta-feira, na Livraria Cultura de São Paulo, onde estarei presente, a convite do autor, já que sou responsável pela apresentação da obra. É sempre fácil me encontrar: estou onde os livros estão, ou melhor, onde os autores estão. Delmar será protagonista de O Último Minuano, documentário que será produzido e divulgado pela TV Educativa do Rio Grande do Sul. Ele conseguiu a publicação graças ao patrocínio permitido pela Lei Rouanet. Delmar, como diria Rubens Montardo Junior, também não se apicha. Lembro o dia em que o convidei a participar de um almoço para a imprensa na Fiesp. Tinha acabado de sair do Diário do Grande ABC, onde levantara a lebre dos remédios falsos, um furo que foi apropriado pelos grandes veículos, que jamais lhe deram o crédito. Ele chegou de terno branco, contrastando com a escuridão têxtil ambiente. Chegou para valer e sentou-se na mesa central, junto com os maiores. Era o mais animado, estava em casa. Aqui é o Delmar Marques, diz para os seus entrevistados, e todos precisam saber de quem se trata. Ele é o cara, alguém tem alguma dúvida? Prêmio Esso de jornalismo pela sua reportagem denúncia sobre o Montepio da Família Militar enfrentou ao vivo, na televisão, uma pessoa que o destratava: deu-lhe um soco. Escapou de um atentado à sua vida quando parou num sinal de trânsito. Dois assassinos o tocairam. Dentro de um fusca, um deles atirou a cabeça para trás para o outro apontar um revólver. Montado em sua moto, nosso herói manobrou agilmente e foi parar num condomínio, onde um militar aposentado defendeu-o dos perseguidores. Easy Rider é fichinha. Delmar rules.
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