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9 de maio de 2005

INSATISFAÇÃO NA TROPA




Reveladora a entrevista concedida pela sra. Ivone Luzardo, presidente da União Nacional de Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa) aos jornalistas do programa Canal Livre, da Band, nesta virada de domingo para segunda-feira (o que é importante fica sempre para os últimos horários). Segundo as próprias palavras da entrevistada, ela assumiu a liderança do movimento porque teve coragem, porque deu a cara para bater, por dizer o que realmente pensa, representando assim fielmente o clima atual de insatisfação da tropa. O que deixou os entrevistadores de cabelo em pé foi a participação (muda, segundo a sra. Ivone, mas crescente) dos militares da ativa nas reuniões. Se a situação continuar como está, advertiu, um comandante não segura mil homens. O que querem os militares: o aumento prometido de 23%? Ou principalmente o crédito de serem os guardiões do país e suas instituições, e de terem assumido, sempre que a nação os convocou, a espinhosa função de resguardar a República, que fundaram, a Pátria, que idolatram, as fronteiras, sempre ameaçadas? O que mais contundente foi dito na entrevista é que o atual governo é revanchista e abandonou as reivindicações da farda para se vingar de uma época em que, segundo a sra. Ivone, tudo funcionava (o regime civil-militar de 1964 a 1985). É como já disse aqui: é tanta incompetência e irresponsabilidade política que um cabo e dois soldados poderão a qualquer hora dar conta do recado, em socorro da nação exausta. Golpe, dirão. Salvacionismo militar, lembrarão alguns historiadores. Deus nos guarde.

PODER - Quando se referia aos militares, Getúlio Vargas tinha o cuidado de definir as Forças Armadas como gloriosas. O que não é um ato de demagogia do grande presidente, mas a exata noção que ele tinha do meio militar, que está orientado por um conjunto de idéias e percepções sobre o país e o papel que desempenham na História. Coisas que passam ao largo do atual governo, que se afunda cada vez mais na ineficiência e abre o flanco para que tome forma não um retrocesso, mas um avanço dos equívocos que levaram o país à situação onde atualmente se encontra. No fundo, os militares foram usados várias vezes. Em algumas delas, chegaram a exercer poder real, mas em nenhum momento governaram sozinhos. Sempre houve ao seu lado ou acima deles o poder discricionário ditatorial do estamento político e econômico, que se lixa para patriotismo ou fronteiras resguardadas. O internacionalismo financeiro hoje anda de braços dados ao internacionalismo dito de esquerda, pois a união dos povos sonhada pelo pseudo-marxismo acabou virando a globalização que só serve para fortalecer o Império americano. Não se pode ter Brasil soberano se a maioria os militares não atinge o patamar mínimo para a sobrevivência (e se endividam no sistema da pirataria financeira; 70%, segundo a sra. Ivone, estão nessa sinuca) , se os filhos não conseguem fazer a faculdade, se não há perspectivas de uma carreira promissora. A má remuneração da farda faz parte do sucateamento do serviço público federal, que está sendo desmontado desde Collor e FHC, com a ajuda da televisão, que cuida de desmoralizar a confiança que a população devotava aos serviços públicos desde a era Vargas (como foi o caso da execrável série Os Aspones). O buraco é bem embaixo e é lá que vamos parar.

CUBA - Outra expressão assustadora usada pela sra. Ivone, que reivindica o direito de uma luta democrática pelo soldo dos maridos, é que vivemos numa pseudo-democracia. O que ela entende por isso? Um governo que libera 560 milhões de dólares para a Angola como perdão da dívida tem dinheiro para pagar melhor os seus servidores, lembrou. Se não paga melhor, fechando os ouvidos ao clamor da tropa, é porque não estamos numa democracia, deduz-se. O modelo dos governantes atuais é Cuba, foi insinuado na entrevista, a ditadura castrista. Democracia é uma palavra muito usada pelos militares. Eles são os guardiões do regime, portanto estão atentos ao seu desvirtuamento. Há ressentimento, há pressão e por enquanto existem advertências. Há tanta incompetência que deixa-se algo fundamental como as Forças Armadas para uma próxima reunião. Vimos como o Palácio do Planalto se diverte diariamente. Várias licitações, divulgadas na internet, falam em toneladas de alimentos gordurosos e super calóricos (sem falar nas bebidas) para o consumo interno. Um líder exerce o poder pelo exemplo. Um chefe supremo das Forças Armadas precisa ser respeitado pelo que faz. Mas a presidência acaba sendo julgada pela única coisa que faz de verdade: falar pelos cotovelos, dizer pelo menos uma grande abobrinha por dia. Levante seu traseiro e vá falar com seus comandados, presidente. Dê atenção a eles, homens de palavra, que desde 1985 se submetem à ditadura civil que nos governa.

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