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18 de maio de 2005

A DITADURA INVENTOU O PT




Dois repórteres do jornal O Globo (José Casado é um deles) levantaram, no último domingo, a história do início do PT. O Partido dos Trabalhadores surgiu de conversas secretas entre o ministro do Trabalho de Figueiredo, Murilo Macedo, o governador Paulo Egydio Martins, de São Paulo, e Lula, que na primeira grande greve dos metalúrgicos, na Scania, nem tinha tomado conhecimento do movimento, segundo a reportagem. Chegou a rir quando lhe disseram que haveria greve na fábrica. Golbery do Couto e Silva avisou que Lula seria perigoso no sindicalismo, mas fatalmente se perderia na política. Era preciso levá-lo para o estamento e foi o que fizeram. Os dois lados tinham algo comum: o ódio ao trabalhismo. Paulo Egydio diz textualmente que ajudou Lula (compareceu na sua posse) porque acreditava num sindicalismo moderno longe do dito peleguismo getulista. O que eles chamam de modernidade vemos agora. O sindicalismo, com a doença infantil do grevismo, perdeu a força e hoje é mais pelego do que nunca. O arreglo entre elites criou esse monstro que nos governa hoje. Enquanto isso, a sigla histórica do PTB foi jogada no lixo e Brizola sofreu cerco total até morrer. Simples assim. Mas antes de deixar Lula tomar posse, o cozinharam em fogo lento. Colocaram na frente um queridinho da elite política, Collor de Mello, que destruiu o país, e mais tarde o arrivismo vindo da universidade, FHC, que entregou a sucata para os estrangeiros. Lula hoje completa o serviço, enchendo a pança de licor e azeitona no Palácio. Usou todo mundo, inclusive os verdadeiros revolucionários, que se iludiram com um proletário no poder. Lula foi fundo: desmoralizou as legítimas aspirações populares. Viram? É tudo a mesma coisa, não adianta, professam os fascistas.

HEBE - No maior visual fashion, as personalidades nulas do sofá da Hebe discutem drogas, sob o ponto de vista da extrema direita. Cabelos produzidos, maquiagem até o osso, roupas de boutique e lá estão as figuras dando conselhos para a juventude, dizendo que há falta informação sobre drogas, é por isso que as pessoas entram nessa. É o contrário: sobra informação e campanha contra as drogas. Por que não acaba? Primeiro, porque virou um negócio multimilionário, com envolvimento profundo dentro das instituições públicas e privadas. Segundo, porque a droga é um caminho perfeito para desestabilizar qualquer veleidade democrática, porque a bandidagem atiçada pelo contrabando de armas (manipulado de cima da pirâmide social) mantém a população na linha, na base do terror. É permitido matar pobre a esmo e a encarcerar a classe média para tungar-lhe o que resta do patrimônio. Assim todo mundo fica refém desses covardes que na maior cara de pau pedem propina para suas negociatas, como mostrou a TV nos últimos dias. O que irrita é a postura moralista de pessoas que colocam o microfone na boca para simular gargalhadas (o gesto mais imbecil da produção audiovisual) e fazem caras e bocas de que estão no caminho do Bem. A população continua se drogando pesado, porque a culpa não é a falta de informação nem é o falso moralismo dos sepulcros caiados que vai evitar o desastre. A coisa pega em outro departamento.

AGLUTINAÇÃO - As pessoas se drogam porque precisam se desvincular da percepção da realidade imposta pela ditadura, seja ela qual for (a da riqueza a qualquer preço, a do vazio cultural, o da falta de solução política e econômica). É para mexer o ponto de aglutinação, segundo o conceito básico dos ensinamentos de Don Juan para Castaneda, aquele ponto em que se reúnem as forças externas ao ser humano e as internas. Se drogam porque precisam enxergar outros mundos (mexer com a estabilidade dos feixes de energia que interagem no ovo luminoso que somos nós). Querem ver o universo com outros olhos, descobrir o que se esconde por trás das aparências de tanta miséria. Claro que é uma isca: as pessoas não conseguem, a não ser por alguns momentos, entrar em outra e acabam intensificando as suas próprias contradições (o ponto de aglutinação só se mexe para provocar fantasias, auto-suficiência, alucinações e delírios, o que é uma continuidade da prisão mental), o que rebenta em mais violência e desespero. Mas isso nem passa pela cabeça dos imbecis que tomam de assalto os microfones da nação para deitar abobrinhas em horário nobre. Gasta-se milhões em publicidade duvidosa, aumentando o fosso entre os drogados e a vida saudável e normal. Depois vai todo mundo depositar dinheiro em clínicas, gerando mais renda para o status quo. É lapidar a lição de O Poderoso Chefão III, em que o mafioso tenta entrar no mundo formal e descobre que este é uma máfia ainda mais poderosa. É o que ocorre: quem vive às custas do dinheiro público gosta de aparentar decência. Mas as pessoas decentes estão com pés e mãos amarradas e o traseiro grudado na imobilidade da escravidão. Assistem, pasmos, a luxúria desenfreada. Um dia desses ouvi um jovem suspirar de saudade da ditadura, pois reclamava da greve de ônibus aqui em Floripa, que prejudicou a população. É isso que está em jogo: rebentar com a aparência de democracia, que está sendo desmoralizada, e retornar à vaca fria. Fim do recreio, diria Antonio Callado, que sabia das coisas.

RETORNO - Qual a solução? Derrubar a ditadura, expulsar o imperialismo, resgatar a soberania, distribuir a renda. Como? Lutando, não há outro jeito. Lutar como? Confiar nos contemporâneos, confrontar a mediocridade e a violência, posicionar-se publicamente contra a situação. Não aceitar imposturas. Unir-se e ter paciência. Estender a mão e abraçar o que há de melhor entre nós. Dizer com todas as letras. Não perder um só segundo. Utopia? Tudo é imaginação. Imagine-se fundando o Brasil soberano.

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