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7 de abril de 2005

AS APARÊNCIAS EXCLUEM



As aparências são as embalagens de pessoas ou grupos tratados como produtos comerciais. Por exemplo: sarado, no caso do indivíduo, é alguém com licença para fazer sexo; galera é uma coletividade liberada para a celebração. Quem não tiver o corpo ou o comportamento ideal, está fora. Vá numa loja de roupas e veja, se for mulher, os modelos todos voltados para pessoas com corpo de 14 anos que precisam deixar tudo de fora e assim ficar disponível para dar sem limites (gravidez? o que é gravidez?). E se for homem, agüente o sorrisinho dos vendedores quando você entrar. Seu número? Procure um alfaiate. O mesmo serve para a chamada superestrutura, o imaginário, a cultura, a qualificação profissional. Hoje, cursos ensinam como ser competitivo, ou seja, como pisar no pescoço da véia e achar isso lindo. Para tanto, é preciso vestir-se adequadamente, tanto para pedir emprego quanto para mantê-lo. Vista-se com a aparência adequada, ou seja, assuma aquele ar de quem não precisa de trabalho para que possa conseguir um. Não vá dar bandeira da sua carência, da sua humanidade, da sua necessidade, da sua gana, da sua força de vontade, do seu amor, da sua esperança. Mostre para eles e apresente-se como um objeto comestível, pronto para ser devorado pela corporação. Assim você estará no jogo e poderá parar de pensar em cruzar a fronteira atrás de um pedaço qualquer de vida.

MISSA - Depois de 45 anos, Fidel foi pela primeira vez à missa, para homenagear o Papa (a quem chamou de amigo dos pobres no livro de visitas da igreja), nos informa o Diário Catarinense. O ateísmo está fora da Constituição cubana desde 1991, coisa que eu ignorava. Já a Folha dá uma página inteira sobre os laços indissolúveis de João Paulo II com a temível Opus Dei, que teve seu fundador canonizado por Woytila. Nenhuma linha sobre Fidel. A dialética em João Paulo II assim se manifesta na mídia. Para meditar sobre ela, é preciso ter acesso a todo tipo de veículo. Não ser fiel a uma só fonte de informações, não deitar raízes de leitura e zapear o olho é fundamental para não engessar a percepção e assim evitar de tornar-se mais um fundamentalista. Tenho pensado demais sobre o Papa. Sua obra, que se projeta para o futuro com uma enormidade de vetores, precisa ser desvelada pela meditação e o estudo. Há uma corrida por livros sobre ele em Porto Alegre, nos diz a RBS. Aos poucos, ou subitamente, cai a ficha do mundo para o que ele fez. O acesso à santidade, por exemplo, é um dos seus grandes feitos. Ele desentrolhou a agenda das santificações e criou em cada comunidade a possibilidade de um paradigma santo e, portanto, colocou à disposição dos fiéis a chance de mirar-se no exemplo alheio, muito próximo. É um caminho para levar a vida fora das amarras das aparências. O que tem me irritado é o pouco caso de articulistas que acham ter descoberto a pólvora, a de que o Papa é pop e outras asneiras. Foi a televisão que usou o Papa e não o contrário. Foi a mídia que encontrou nele um assunto sem fim e sem igual e não o contrário. Dizer que ele beijou os aeroportos para provar que ele era um relações públicas de uma multinacional, como saiu no Comunique-se, é de uma grossura infinita.

SEXO - O modelito corporal não define a qualidade do sexo. Recente matéria na revista dominical do jornal O Globo mostra como a nova geração de sarados tem usado o viagra como apoio para performances na cama. Sexo é sensibilidade, imaginação e independe da musculatura adquirida em academias ou lipoaspirações. No fundo há uma grande ignorância sobre sexo e as maternidades ficam atulhadas de crianças grávidas, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Acho que em toda sacudida coletiva das genitálias, como acontece na época do carnaval, por exemplo, mereceria a informação paralela sobre a gravidez. Links nas maternidades seria uma boa. E aí, o que deu tudo aquilo? Aquilo deu nisso, dirá a pobre menina. Enquanto profissionais das aparências enchem a canastra de dinheiro fácil (muito dele, dinheiro público desviado para os espertalhões), a população se exaure numa ilusão alimentada permanentemente pela mídia. A volta do Casseta& Planeta (bleargh!), por exemplo, encheu o saco com barrigas e sarados. O tal Drauzio Varela é outro. Deixem a barriga das pessoas em paz. Vão cuidar dos seus respectivos traseiros.

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