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7 de março de 2005
O EUROCENTRISMO É DATADO
O pensamento fundamentado na ilusão de superioridade racial e histórica está com os séculos contados. Poderá durar ainda uns 200 anos, mas acabará sendo desmoralizado. Leio navegadores alemães, ingleses e franceses que visitaram a ilha de Santa Catarina nos séculos 16 e 17 e lá está o vírus mortal. Eles lêem o gestual dos negros como simiesco, para dizer o mínimo e prestam atenção apenas na floresta (o butim desejado), colocando o Brasil (o empecilho eterno) como algo descartável . Leio Pasolini sobre futebol no Mais! e lá está o vírus mortal: o futebol brasileiro é poesia, o futebol europeu é prosa, diz ele. Pasolini nunca me convenceu, apesar de ser considerado um cineasta e pensador importante. Seu cinema depende de algo externo, o texto que o justifique. Prefiro encarar o futebol, como aprofundei aqui no DF, como a tensão entre retas e curvas. A triangulação, que Pasolini coloca no colo exclusivo dos europeus, é a base das tabelinhas entre Pelé e Coutinho (que tinham um desfecho genial, a corrida para a linha de fundo e o atraso da bola para quem estava no centro do gramado). Isso não é poesia nem prosa, é solução de linguagem que atinge o estado da Arte.
FILÉ -Dizer que somos poesia quer dizer que somos ainda os mesmos macacos de sempre, intuitivos, jamais cerebrais. Não nos cabe o privilégio do raciocínio, que é coisa deles, europeus. O fato é que os brasileiros são inventores que usam todos os recursos, da lógica à imaginação, para superarem dificuldades. Só que não possuímos capital simbólico que nos identifique com o homo sapiens. É por isso que inventamos a máquina de escrever e a Remington roubou a patente. Inventamos a transmissão radiofônica e a telefonia sem fio, mas quem levou as honras foi o italiano Marconi. Inventamos o avião, mas os reis da catapulta e da patente linkada com o armamentismo, os irmãos Wrong, é que são os imperadores da cocada branca. Somos pentacampeões do mundo em futebol, mas continuamos os mesmos macaquinhos de sempre. Vencemos porque somos poéticos, patéticos e jamais seremos como, digamos, Beckham, que não é nada, nunca foi nada, mas à parte isso continua sendo a coisinha de Jesus do papai. Essa visão não é apenas estrangeira, é nacional: nós somos nossos principais algozes. Evitamos todo o ensaismo realmente inovador e criativo para inundar as universidades de redundâncias bem comportadas, que reproduzem teses acadêmicas dos doutores e cuidam do pensamento clone e marginal ao pensamento eurocêntrico. Um Roland Barthes, o maior ensaísta do mundo, autodidata, foi recebido com honras na universidade francesa. Aqui geraria risotas. Olha o cara que fez ensaio sobre o filé com fritas, que panaca. Pois o filé com fritas, segundo Barthes, faz parte da nacionalidade francesa. A França acolhe os inventores. Acolheu Santos Dumont, que venceu em Paris e suicidou-se em Santos.
GESTOS - Vejo o cartola mafioso às gargalhadas com seu novo parceiro, o execrável técnico argentino (o futebol argentino é uma correria de pernas de pau com a precisão de relógico cuco). De que riem? Riem dos macaquinhos brasileiros. O Passarrola chegou com o desprezo típico do seu país ao Brasil (fruto da inveja e da falta de cascudos) fazendo piada de que ia raspar o côco de todos os jogadores. Como ninguém riu, fingiu que falava sério. O mafioso está à vontade. De camiseta e jeans gargalha diante do seis a um do Corinthians contra o União São João. De que ri? Logo depois do jogo, seis atletas do União fizeram queixa na polícia contra o juiz, que os teria destratado durante o jogo. Então é assim? Como surge uma goleada dessas, do nada? Antes da partida entre Palmeiras e Santos, gangs verdes rivais se enfrentam numa luta de vida ou morte. A juventude quer lutar, disso entendiam os antigos, que inventavam uma guerra a cada vinte anos. Colocavam a testosterona no campo da batalha e quem sobrava voltava mutilado ou pai de família. Acabava assim com as arruaças. Como superamos essa fase, por que deixar a juventude por sua própria conta, inventando guerras para exercitar os seus hormônios mal resolvidos (se trepassem direito, não sairiam matando)? Jogam a massa jovem no crime e no subemprego e depois querem falar em democracia. Fechem o país para todas máfias, repatriem o tosco Tevez, devolvam o Corinthians ao povo brasileiro, enfrentem a violência das gangs nas ruas e depois conversamos.
RETORNO - O casamento de araque no castelo virou barraco puro e simples. Para isso existe a moda hoje. Para a disputa de alpinistas pagas a peso de ouro para usar roupas descartáveis e atirar-se aos bons partidos (as estrelas cevadas pela má distribuição de renda). A televisão só se concentra nisso. Haja.
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