TV SENADO - Dorva Rezende, editor de Variedades e Cultura do Diário Catarinense, me telefona para comentar minha entrevista (vinte longos minutos sem interrupção) no programa Leituras, da TV Senado. Pergunto sobre seu trabalho de mestrado e ele está bastante animado. Por enquanto guardo segredo para não atrapalhar sua intensa atividade intelectual, que renderá belos frutos. Na entrevista, gostei da maneira como Maurício Melo Júnior orientou o programa, me deixando à vontade para falar não só sobre o romance, mas sobre literatura em geral e sobre o movimento atual das editoras. A conversa foi gravada em abril, na Bienal do Livro de São Paulo e consegui abordar minha preocupação com a permanência das linguagens produzidas no Brasil e a forma como a literatura consegue realizar essa ampla inclusão de personagens que estariam soltos e sem espaço. Cada vivência é única e nosso testemunho é fundamental para que nada se perca, para que não só a minha geração, mas a meninada, saiba o que passamos realmente, longe dos holofotes da História ou mesmo dos livros de autores consagrados. É gratificante ver como as pessoas se sensibilizam com esse resgate e como identificam no livro a gama de pessoas com quem conviveram. Todos possuem amigos que cabem nos perfis expostos, que trafegam por quatro cidades ? Sampa, Floripa, Portinho e Uruguaiana ? cruzando o tempo e trabalhando a própria humanidade. O romance é uma chance diferente da poesia de colocar tudo isso em pauta. A poesia é bem mais transcendente e implica num conhecimento prévio das situações em que os poemas foram criados. Marco Celso e eu produzimos poesias irmãs, que foram criadas juntas, mas se diferenciam pelas identidades próprias. As duas possuem esse rasgo fundo do mito do poeta que anuncia em praça pública seu desencanto e sua luta. O reencontro (há décadas não vejo Celso pessoalmente) será um momento importante para nós e, espero, para as pessoas que vão participar do evento (conto com todos!).
PALAVRAS - Tenho recebido palavras maravilhosas de incentivo pelo trabalho desenvolvido aqui no Diário da Fonte. Jorge Freitas, do Rio de Janeiro, Regina Agrella e Luciana Felix (que estréia seu blog ), de São Paulo, Virson Holderbaum e Marlon Assef (que foram encarregados de fazer um churrasco aqui em casa no último sábado, com excelentes resultados), de Floripa, entre tantos outros, tornam esse ofício muito mais prazeroso e gratificante. Ultimamente, uma série de envolvimentos e contratempos me impedem de postar todos os dias, mas aos poucos o Diário da Fonte voltará ao normal. O importante é essa sintonia com o que há de melhor entre nós. Escrever faz parte da transscendência. Precisamos encxergar muito além do horizonte (sem dele esquecer nada) para continuar indo em frente no país que fecha o cerco sobre nós. Mas como diria aquele líder chinês (acho que o terrível Lin Piao), nos momentos decisivos é que se conhecem as pessoas. Cada momento é decisivo e não podemos nos deixar abater pela quantidade de problemas. O que me deixa feliz é saber que o poeta Caramez lançou seu livro (prefaciado por mim), que Juarez Fonseca e Clovis Heberle querem se encontrar comigo em Portinho, que lá em Porto reencontrarei o grande poeta Oliveira Silveira, que Bebeto Alves, da secretaria de Cultura de Uruguaiana, me convidou para a Feira do Livro da cidade agora nos dias 26 a 28 de novembro. Tudo isso faz parte da nossa militância a favor da literatura e da amizade. Viva o talento brasileiro para a vida gregária, solidária e esperançosa!
TIETA - Cacá Diegues, o cineasta do Brasil profundo, nos deslumbra em Tieta do Agreste, que foi ao ar esta madrugada na Globo (o horário nobre foi reservado para os horrores do sub-cinema americano, claro). Sônia Braga está magnífica no papel da cafetina que volta à sua terra botando banca de viúva de industrial, mas a performance maior fica a cargo de Marilia Pêra, que interpreta a irmã que ficou, Perpétua. Todos somos iludidos, junto com Tieta, que a viuvez de Perpétua é puro carolismo de mulher mal resolvida, coisa que Marília faz com perfeição. Mas chega um momento em que Tieta estoca Perpétua sobre a vida conjugal dela com o falecido major. Nesses poucos minutos, a atriz se transforma. Entre dentes, ela fala da sua felicidade como mulher ao lado do marido que se foi, deixando-nos grudados na cadeira e colocando Braga contra a parede. Para Marília, bastam poucos minutos. Em Pixote, uma pequena seqüência foi suficiente para que ela ganhasse um monte de prêmios e quase levasse o Oscar. Mas quem brilha mesmo é Cacá, que já nos deu obras-primas como Chuvas de Verão. Os presépios vivos, colocados em cena como se fossem uma projeção de slides, é deslumbrante. O conflito entre o pré-capitalismo, encarnado por Tieta e os mandões do lugar, e o picareta que pretende instalar uma fábrica poluente (interpretado, como sempre, magistralmente por Daniel Filho, esse grande ator de escassas aparições na tela) traça o perfil do Brasil que muda aos trancos. A maravilhosa paisagem do litoral baiano, que a certa altura torna-se cenário de um drama, é um grande personagem de Cacá, que segura quase sozinho uma linhagem da cultura brasileira que foi erradicada, mas sobrevive ainda porque temos esse tipo de criador, abraçado à nação única, o insuportável país que amamos.
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