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11 de setembro de 2004

A ROSA DE HIROSHIMA


Invoco Vinícius de Moraes no título (dele) acima para rebater a afirmação que ouvi ontem no Jornal da Globo, a de que hoje, 11 de setembro, relembra-se o maior atentado terrorista de todos os tempos. Não foi. O maior foram as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, que destruíram a população civil das duas cidades num momento em que a guerra já estava ganha. Foi apenas demonstração de força e vingança americana pelo ataque japonês a Pearl Harbour. Esse ciclo de vinganças precisa acabar. De paz e perdão trato na minha estréia como cronista na mídia impressa. Já está nas bancas (e amanhã, na Internet) meu texto no caderno Donna, do Diário Catarinense, que tem como título O Mensageiro de Bronze.

PODERES - Não dou mais detalhes porque a mídia impressa deve puxar o cordão. Só quero destacar a recepção maravilhosa que me proporcionaram o editor Dorva Rezende e o editor-chefe Cláudio Thomas, do DC, além da força que recebi do jornalista e amigo de longa data, Clovis Heberle, da Zero Hora. Como também acabo de fazer o fechamento da minha primeira edição da revista Empreendedor, do meu amigo Acari Amorim, fica registrado que o Sul me recebe com muito carinho e consideração, o que enche de alegria o coração do escriba veterano. Ficou acertado que um texto meu, de página inteira, será divulgado mensalmente no DC. Pela primeira vez, agradeci o fato de o jornal de domingo sair no sábado. Aproveitei para comprar a Folha de S. Paulo deste sábado, que traz na capa da Ilustrada entrevista com o historiador Marc Ferro, o que é uma grata coincidência, pois no meu artigo abordo a relação entre imagem e História. Estou portanto bem acompanhado neste dia em que me debruço entusiasmado no noticiário, pois fazia tempo que o jornalismo impresso não publicava um artigo meu, assinado. É o fim de um longo exílio, que não lamento pois decidi fazer como Vanderlei Cordeiro de Lima (assunto principal do meu artigo no DC) e me concentrei na missão. No meu caso, a de escrever sempre, de compor o texto, o tecido de palavras, profissão que ocupavam na Antigüidade aqueles abnegados ancestrais especializados na escrita e que por muito tempo foram relegados ao último escalão dos impérios. Parece que não mudou muito, a não ser que agora o texto pode servir de libertação e não de reiteração de podres poderes.

DITADORZINHO - Zé Dirceu pisou na bola ao investir, contra militares e promotores públicos, seu autoritarismo originado na ditadura do movimento estudantil de 1968 e desenvolvido no exílio em outras ditaduras. No sete de setembro, diante das reivindicações das famílias de militares que exigiam o cumprimento da palavra do governo, de dar aumento de 30 e não dez por cento, como aconteceu, o novo Golbery zombou dos homens de palavra ao dizer que estamos numa democracia, portanto esse tipo de reivindicação é muito natural (sem dizer se o governo federal cumpriria o acordo com os militares). Não estamos numa democracia, estamos numa ditadura comandada pelo sistema financeiro internacional e a política imperial americana. Os fantoches que ocupam o governo federal adoram o arbítrio que diziam combater. Querem acabar com o poder do Ministério Público de investigar. Isso contraria uma evidência: não fosse os promotores, especialmente os das novas gerações, nada saberíamos sobre o que rolou de verdade nestes últimos anos. A ditadura se manifesta em todos os sentidos. Querem regular tudo. Querem proibir programas de televisão no lugar de entregar as concessões públicas a empresas identificadas com a cultura e não com a baixaria. Inundam as eleições de dinheiro e a mídia de falsas notícias de crescimento (tão falsas, que Lula se assustou e mandou baixar a bola, dizendo que é preciso não ficar eufórico demais; erraram na dose). Zé Dirceu argumentou o seguinte: o que disse sobre os promotores não faz parte do pensamento dele. Cortou as palavras depois de dizê-las com todas as letras e ainda fazendo gestos incisivos com a mão. E ainda teve o desplante de dizer que não pediu desculpas.

PLATAFORMA - Conheci essa canalha em 1968. Eram os reis da cocada preta. Exigiam que pensássemos como eles. Impunham estratégias suicidas. Acabaram com o movimento estudantil ao fazerem o jogo da ditadura da época. Tornaram-se heróis dos seus erros estratégicos. Assumiram o poder porque são confiáveis aos olhos de Bush, que, parece, vai ganhar as eleições. De que adiantou toda a pregação de Michael Moore? É o círculo de giz da América: não há oposição no Império, é o consenso do pensamento único. Para que escolher Kerry para fazer o que Bush já está fazendo? Oposição seria assumir que retiraria as tropas do Iraque e do Afeganistão, que pressionaria Israel para sair dos territórios palestinos ocupados à força, que apostaria em energias alternativas para escaparmos das armadilhas do petróleo, que reconheceria a existência de outros povos e países, que renegociaria as dívidas das nações acabando com os juros escorchantes, que colocaria os bilhões gastos em guerras na consolidação da paz e da alimentação mundial, que faria uma rede internacional a favor da disseminação da cultura de qualidade e de mídia independente. Pronto, aí está um bom cardápio para um candidato de verdade no miolo do Império.

RETORNO - O acordo de José Dirceu com Maluf, conforme noticiou o jornalista Kennedy Alencar, da Folha, coloca o atual Chefe da Casa Civil como o mais surpreendente rebento do regime de 64. Enquanto isso, o Rio de Janeiro tem a oportunidade de eleger para a prefeitura a mais brilhante parlamentar do país, Jandira Feghali, do PC do B. Articuladíssima, preparada e inteligente para além das comportas da política brasileira, Jandira tem sido atacada por César Maia, que tenta ironizar sua fala, sua contundência e sua aparência. Acusada de bruxa que assusta os netinhos de Cesar Maia, Jandira deveria ser o nome da volta por cima do eleitorado carioca, que colocaria no poder municipal a capacidade que faz falta na vida pública do país. Vote Jandira, vote Brasil.

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