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20 de setembro de 2004

A BANDIDA BRASILEIRA

É tudo muito divertido: a estréia de Gisele Bünchen no cinema coincide com seu papel de bandida brasileira. Fizeram o mesmo com a Sonia Braga, que sempre desempenhou , nos EUA, a prostituta chicana ou algo parecido. Fizeram com La Braga, que é grande atriz, imagina o que farão com uma bonequinha de luxo, que ficou rica e famosa andando daqui para lá, na passarela. Sempre me pergunto: o que há nessas passarelas da moda? Por que tanta festa para algo que não é arte (rebolar de um lado para outro?), nem cultura (consumo que ostenta status) nem nada (tanto não é nada que a modelo sempre quer ser outra coisa, principalmente atriz). Ora, é a Gisele Bünchen, me falam. Grande coisa. A não ser que seja apenas a representação do país-fêmea a exibir seus dotes para o mundo sedento.

INVASÃO - O que tenho contra a graça e a beleza? Nada. Podem até enriquecer cruzando as pernas diante da mídia. O que me espanta é que o Império não perdoa e transforma toda mulher não-americana em algo desfrutável ou escroto. Desfrutável em todos os sentidos: tanto na vida fácil quanto no abandono pelos machos locais, bandidos toda a vida, dos quais precisam ser salvas pelos gringos com sua macheza ética. O cinema é o braço mais poderoso dos imperadores do Mal. É ali que eles formataram a cabeça do mundo. Tenho ouvido e lido em vários lugares que o bom mesmo é entregar tudo para os americanos, já que não somos de nada. É uma espécie de surto coletivo. Desistiram do Brasil, como se isso fosse possível. Uma matéria ontem no SBT mostrava que as pessoas não entendiam as palavras em inglês que dominam o comércio. Sale no lugar de venda, delivery em vez de entrega, e outros quetais, como shine confundido com palavra chinesa, mostram o quanto é impossível nos adaptar totalmente à escravidão, já que somos seres de outra espécie, civilização e cultura. Na Globo, depois de uma matéria que mais parecia um briefing do FBI, dois repórteres recém formados provavam o quanto as instituições públicas importantes em Brasília eram vulneráveis a bombas. Como se estivessem atraindo bombas para o TSE, o Congresso, o Ministério da Justiça. Querem terceirizar a segurança desses locais para o FBI, esse é o recado? Brasília é totalmente exposta. Paredes de vidro, prédios no descampado, sinal de que nossa proposta é outra, totalmente anti-americana. Nossa força não vem de muros ou paranóias, vem da nossa idéia e experiência de civilização: aceitamos o que o mundo oferece para devolver modificado tudo o que eles nos entregam, seguindo a lógica de Oswald de Andrade. Jamais poderemos ser escravizados, a não ser que o entreguismo triunfante insista que nos invadam para sempre. Contra essa idéia é que existe a Semana Farroupilha, atualmente em vigor, que é afirmação de nacionalidade guerreira, por mais precária que sejam nossas condições de defesa. O importante é ter o espírito desarmado, mas atento. A guerra é cultural, comportamental e política. Venceremos.

ESPINHA - O blog Espinha ,de Hélcio Toth, é um espetáculo (ia dizer show) de cultura brasileira antropofágica. O que o cara faz com uma câmara digital é inacreditável. Não apenas reporta o que há de mais contundente nos eventos oficiais (como a posse da nova presidência da Fiesp, por exemplo), e nos bastidores desses eventos (as fotos da campanha política em Sampa são de arrepiar), como cria em cima do que existe de vivo na megalópole, no interior e no litoral do Brasil. A foto do pequeno arbusto preso na calçada é impressionante. Sobre essa foto fiz o seguinte poema: O que está vivo resplandece. Mesmo amarrada pela fita, mesmo emparedada a céu aberto, mesmo sufocada no concreto, o que sempre será árvore se equilibra. Amparada pelo olhar, ela promete ficar ali, até crescer para além da paisagem de pedra que a mantém cativa. Mas há muito mais. Seu ensaio sobre as praias de Ilha Bela, as imagens do Rio das Pedras, o farol (diz-se por aqui sinaleira) contrapondo-se ao sol do crepúsculo, a composição do piso florido com os tênis e tantos outros flagras geniais fazem do trabalho de Toth um dos mais importantes e contundentes da fotografia brasileira. Contratei Toth um belo dia quando ele ligou para a Fiesp pedindo frila. Até hoje ele não se conforma de eu ter saído de lá. Paciência, Toth, o caminho se faz ao andar, como prova teu magnífico e imprescindível blog Espinha.

CHINA - Somos o novo brinquedinho do mundo. Veja o que diz Lúcio Flávio Pinto direto do Estado do Grão Pará: Atividades eletrointensivas, que consomem grandes quantidades de recursos naturais e que são poluidoras estão deixando de ser praticadas na China para serem desenvolvidas na Amazônia. Até o final da década, uma fábrica de chapas de aço do consórcio CVRD-Baosteel-Arcelor estará produzindo 9 milhões de toneladas, após um investimento de 1,5 bilhão de dólares. A meta, nesse setor, é reduzir dos atuais 70% para 60% a dependência chinesa de carvão. O Brasil é o alvo principal e a Amazônia, a meta específica. Hoje, 380 mil pessoas morrem prematuramente todos os anos nas 11 maiores cidades chinesas, por causa de problemas pulmonares, provocados pela fuligem e outras partículas em suspensão no ar. Essa poluição será transferida para a Amazônia? É o que aguarda São Luís, onde o coque será usado pela usina cuja implantação foi iniciada, sem falar no consumo de água, talvez representando metade de tudo que a capital maranhense precisará, mesmo com a polêmica duplicação do sistema Italuís.

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