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11 de junho de 2004
POR QUE A IMPRENSA É ASSIM
No seu romance O Castelo de Âmbar, Mino Carta explica como funciona a imprensa no Brasil e mostra porque os principais veículos são desse jeito. Ele optou pela fabulação, com exceção da sua passagem pela Veja, que é apresentada com todas as letras e nomes reais - e assim mesmo, esse relato é batizado de conto, escrito pelo personagem Mercúcio Parla.
NEGÓCIOS - Os acontecimentos na Veja são por demais conhecidos, pois Mino repete a história em todas as suas entrevistas. Podemos elencar algumas revelações sobre a imprensa contidas no romance e que podem ser sintetizadas em alguns itens: 1) A Editora Abril (ou Foresta, no romnce) tinha uma dívida de 50 milhões de dólares, contraída com investidores estrangeiros, e queria consolidar esse passivo (epa!) em moeda nacional. Para isso era preciso o aval do governo. O empecilho era Mino na diretoria da Redação. Depois que Mino foi defenestrado, a operação foi realizado com êxito; 2) A traição a Mino foi feita pelos patrões dele e por alguns colegas, que o entregaram para o governo militar, acusando-o de ser o motivo de o veículo ir contra o regime; 3) A IstoÉ foi negociada para um banqueiro e Mino foi demitido porque seus colegas de redação o acusaram do ditador, irascível etc.; o motivo principal é que a IstoÉ estava destacando Lula e isso não era bom para o PMDB, que queria o poder, como afinal conseguiu no governo Sarney; 4) Mino descobriu e revelou Lula, mas foi traído por este (que ganha o nome de Tosco no romance); Lula o achava falso e esnobe e implicou cada vez mais com ele à medida em que foi crescendo na carreira política; aliás, a descrição que Mino faz de Lula, o eterno candidato perdedor que dava chances para a direita ganhar sempre (até converter-se nela para poder ganhar a eleição), é profética, especialmente quando descreve a pose do sujeito e seu esgar de pretensa superioridade, que no fundo, segundo Mino, seria recalque; 5) Mino ajudou o empresário Dilson Funaro a ser ministro e quando isso aconteceu, foi esnobado pela nova autoridade; se a IstoÉ não tivesse revelado o motorista Eriberto, tudo iria se acomodar entre políticos, empresários e Collor; o livro Noticias do Planalto (ou o Deserto Fala) de Mario Sergio Conti (ou Soslaio), distorce os fatos, segundo o romance. E por aí vai. Só lendo tudo para tomar pé da quantidade de coisas ali descritas.
PLÍNIO MARCOS - O pivô da briga de Mino na Veja foi Plinio Marcos. Conheci Plinio logo depois desses acontecimentos, na redação da Ilustrada, da Folha. Era chato até o osso e não punha acento em nenhuma palavra, o que me dava trabalho diário no mais duro dos ofícios, o de copy-desk. Mas sempre admirei Plinio e a sua obra. Tinha visto Dois Perdidos numa Noite Suja com o Emiliano Queiroz e o Nelson Xavier, no teatro, e foi um baita impaco. Mas implicava com Plinio que, como cronista, vivia se repetindo e se achava o rei da cocada preta. Um dia brigamos porque ele me encontrou numa palestra do Luiz Carlos Maciel e no dia seguinte, na redação, quis se justificar, negar que tinha interesse por temas fora do denuncismo vigente. Malhou Maciel e por via transversa, a mim, que acrediava naquelas coisas de que Maciel tratava. Estava já por conta e mandei-o àquele lugar. Me chamou para briga lá fora , mas apartaram, às gargalhadas. Não foi sério. Depois que o vi como leitor de tarô achava graça daquela nossa briga, que foi mais um bate boca entre as docas de Santos e a rua Bento Martins, de Uruguaiana. Conheci também Claudio Abramo, o grande renovador da imprensa, outro que não punha acentos nos seus textos porque tinha uma máquina de escrever européia. Cabia a quem? A mim, claro, o eterno copy. José Onofre avisava: coloquem todas as cadeiras (ou assentos)perto do Nei, que ele vai passar a caneta no Claudio Abramo. Quem implicava com Abramo era João Antonio, escritor marginal e boquirroto, que foi várias vezes na redação da Ilustrada, um centro de atração de loucos, a começar pelo seu editor, Tarso de Castro. Lá trabalhavam pessoas como Sergio Gomes (que descia do carro ligado e o deixava no meio da rua, ligado, para conversar com alguém que cncontrava na calçada)e Jairo Ferreira, este recentemente falecido e especialista em cinema brasileira underground. Nas piadas que eu colocava no mural, inventava resenhas de Jairo assinando Jandir Ferreiro. Ele não tinha muito senso de humor, mas me tolerava, pois sabia que eu jamais sacaneava ninguém, o que não acontecia nmormalmente com os que detinham o poder sobre o texto alheio. Sou do tempo da ditadura do copy. Tempo em que contávamos com a verve impagável de Claudio Pucci, o criador da Súcia, movimeno anarquico-humorista que fez sucesso naquela época. Pucci, claro, era o maior incentivador das asneiras que eu colocava no mural.
RETORNO - Gostaram das histórias? Então me contem uma. Cansei de falar sozinho aqui. E adianto: tem mais Mino daqui a pouco. Vamos abordar sua maestria literária, já que Mino escreve como ninguém.
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