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25 de junho de 2004
CAUDILHO É QUEM NOS CHAMA
No momento em que Leonel Brizola era enterrado com toda a pompa, abraçado ao povo que chorava sem parar, como mostraram as imagens da televisão que acompanharam o cortejo, alguns coveiros sinistros escreviam suas torpes catilinárias contra o herói nacional, hoje escancaradas nos jornais. Dois depoimentos são lapidares. Um do golpista José Sarney, que por anos foi líder da Arena, o partido da ditadura civil-militar no pseudo Congresso, e que empalmou a presidência, por voto indireto, num gesto de traição política. Outro é da notória Bárbara Gancia, uma obscurantista de carteirinha.
CAUDILHOS SÃO VOCÊS - Vocês sabem os nomes dos que tentaram dar o golpe de 1961 e não conseguiram, porque nosso herói não deixou? E sabem quem derrubou o presidente eleito pelo voto direto, João Goulart, e fechou o Congresso em 1964? Tenham os nomes que tiverem, esses são os caudilhos. Chegaram ao cúmulo até mesmo de fechar temporariamente um Congresso manietado, como aconteceu com o Geisel em 1976. Pois quem leva a fama é o Brizola, exatamente o político que foi expulso pelo caudilhismo de farda e paletó. Vejam o que destila Sarney na página 2 da Folha: "Brizola tinha na alma a herança dos caudilhos irredentos do Rio Grande do Sul, como Bento Gonçalves, Davi Canabarro e tantos mais, indormidos, de lança em punho, prontos para a peleja e a degola." Além do texto manco e tosco, salta o preconceito e a mentira. Logo adiante, a mentira maior: "Presenciei sua pregação para fechar o Congresso..." Pois quem fechou o Congresso foi a ditadura implantada pela UDN de Sarney, e por uma parte das Forças Armadas. Foi ele que fechou o Congresso e não Brizola, que era o deputado mais votado do Brasil e teve que fugir para não morrer! Sarney, que é latifundiário num país de miseráveis e senador pelo Amapá - outra das suas manobras políticas de última categoria - e que há 40 anos não larga a teta gorda dos sucessivos governos (porque disso depende o seu enorme olho-grande, a sua fome de poder e proventos), se acha muito civilizado ao recitar o seguinte: "Conheci também o outro Brizola: não o guerreiro, mas a personalidade moldada nas raízes rurais, da simplicidade da sua infância". Certamente a infância de Sarney não teve simplicidade nenhuma, ele era sofisticadíssimo de nascença! Quem conhece uma infância que não tenha simplicidade? E quem disse que raízes rurais tem a ver com simplicidade? Claro que, para Sarney, simples quer dizer pobre. Mas como não domina as palavras, ele acaba se traindo.A sabedoria de Brizola, seu talento, podem ser notados pelos textos enxutos que publicou, diretos, super bem escritos, ao contrário de Sarney, que não sabe escrever - e disso temos a prova dada por Millor Fernandes, num antológico ensaio sobre um dos "romances" desse indigitado. O idiota termina sua catilinária entendendo menos ainda: "Brizola conseguiu um milagre. Passou a vida construindo inimigos e guerreando. Morreu cercado de homenagem de todos". Mas que imbecil! Se o cara passou a vida construindo inimigos, como disse, como poderia morrer cercado de inimigos? Vejam o caso de Carlos Lacerda: morreu cercado da mais completa indiferença popular, pois esse sim era uma pessoa cheia de ódio. Brizola também não passou a vida guerreando. Passou a vida fazendo política, quando deixaram. Compôs, seduziu, convenceu, liderou e quando foi preciso, se insurgiu contra os caudilhos golpistas. Esses é que são os inimigos, uma minoria usurpadora, como o próprio Sarney. Brizola usava a cultura popular para se expressar, pois essa cultura era respeitada por ele e contém ensinamentos que servem para todos. Já Sarney usa a expressão nordestina "velho arretado" para não dizer coisa nenhuma sobre a pessoa que ele decidiu abordar no seu artiguete. Usa mal e porcamente o que o povo lhe oferece em palavras.
PICOLÉ DE LIMÃO - A pseudo franco-pensadora Bárbara Gancia diz a quem serve ao chamar de "aviltante" o ato político, no Rio, que denunciou publicamente e aos brados a traição de Lula à plataforma que o elegeu. No artigo intitulado "Morte transforma Brizola em herói nacional", ela esquece que foi a vida dele que o transformou em herói, não a morte. Ela insiste no lado incendiário de Brizola. Repetindo: quem pôs fogo no país, que até hoje está queimando, foi o golpe de 1964. Ela fala na complacência com a bandidagem e os acordos selados com os bicheiros. Isso é de uma má fé a toda prova. Antes de o Brizola, via juíza Denize Frossard, colocar os maiores bicheiros da cadeia, estes viviam aparecendo na Rede Globo, na maior cara de pau. Foi Brizola quem os encarcerou, foi no governo dele que o charme dengoso dos castores sumiu das telas da pseudo-poderosa. Qual acordo com a bandidagem? Bárbara certamente se refere ao ódio que sente por Brizola ter colocado as favelas do Rio em linha direta com a orla da Zona Sul. Claro, a praia era só para turistas e abonados. É disso que se fala: ódio ao povo brasileiro, desprezo às instituições, calúnias contra um herói. Bárbara ainda tem a cara de pau de dizer que Brizola está na raiz da atual violência que assola o Rio. O que está na raiz da violência é a tua indiferença e teu reacionarismo, Bárbara, o teu alistamento permanente nas hostes da bandidagem milionária que transformou o Rio num lugar de ódio de classes e de deboche descarado contra o povo.
CHARADA - A verdade factual, de que tanto nos fala e prega Mino Carta, dança quando este tipo de intervenção pinta na imprensa sob a forma de artigo, para difundir a calúnia e o preconceito. Decifrar o que houve de verdade na História do Brasil, o que representam seus protagonistas, requer estudo, espírito livre e coragem. Temos isso bem claro em dois articulistas: Paulo Henrique Amorim, que detalha a falcatrua que quase destruiu a eleição de Brizola para governador em 1982 (e que lembra que foi desta época a criação do slogan "o povo não é bobo, abaixo a rede Globo"), fato negado no noticiário global; e Mauro Santayana, que ao fazer um ensaio sobre Lacerda e Brizola conclui o que é de fato verdade: que neste embate, há um vencedor, nosso herói que ontem arrancou lágrimas das pessoas, chamadas de "anônimas" pelos bonequinhos de luxo da televisão. Ninguém é anônimo, seus! Todos têm nome. Só porque vocês vivem repetindo o nomezinho de vocês na telinha não quer dizer que só vocês são dignos de ter uma identidade. Os velhos, os meninos, os adultos, todos aqueles que acenaram, choraram e gritaram o nome de Brizola, todos tem um nome a zelar. E esse nome está a serviço da verdade.
RETORNO - Não posso também deixar de comentar o que disse o jornalista Flavio Prado sobre Felipão: entre muitos elogios, de que ele é "tosco". Por que tosco? Felipão é um estrategista de primeira, um lutador, um vencedor, um treinador inteligentíssimo. Tosco porque é gaúcho? Até quando, meus Deus? É bom colocar aqui mais um trecho do desabafo de Elo Ortiz Duclós, que nasceu lá na Fronteira Oeste, numa cidade modelo implantada no vasto pampa: "Nos discriminam porque temos a sinceridade suicida dos bravos, que preferem desagradar os poderosos a ter que jogar a verdade para baixo do tapete e fazer de conta que este é um País pacífico, onde tudo acaba em samba, ou pizza. Nos discriminam porque nesta busca da verdade defendemos nossas verdades, com 'dizidas' que soam arrogantes e polêmicas.Nos discriminam porque nossa intransigência com a verdade incomoda um País inteiro que optou por chamar a vilania, a covardia e a pusilanimidade de 'jeitinho', de esperteza. E se orgulha dessa atitude submissa."
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