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26 de novembro de 2003

TATIANA PARTE PARA O OUTRO LADO

Repórter de primeiro time, Tatiana Palombo foi-se embora para sempre aos 28 anos, sem se despedir. Para resgatar um pouco sua presença, sempre tão doce e séria, que nos envolvia com o bom humor da inteligência, dedico a ela a coluna de hoje. Perder a amiga e colega significa inaugurar nossa missão de recordá-la, desejando que seu espírito encontre paz.

MENSAGENS – Tatiana me escrevia para falar sobre a matéria que fazia para o projeto da revista Vocare, desenvolvido este ano por um grupo de jornalistas (além de Tatiana e eu, participam Sylvia Leite, Luiz Moraes, Luciana Felix, Daniel Del Fiore, Ida Duclós, Marcelo Min, Hélcio Toth, Anderson Petroceli, Adriana Maricato, Mônica Serrano). Tatiana fez a matéria sobre a Embrapa, a meu pedido: “Já experimentou ler alguma revista nacional focada na área de pesquisas? Geralmente são meras cópias dos modelos americano e europeu, coisa que acredito não funcionar por aqui... pelo menos não de uma forma que amplie o número de leitores e, claro, beneficie a propagação da notícia. /Só para informar que eu não morri nem sumi com a matéria. Estou apenas aguardando as respostas do entrevistado que mais teve contato com a pesquisadora. O entrevistado participou ativamente da pesquisa que desenvolveu a soja com qualidade elevada e que é responsável pela economia de milhões de reais a cada ano no Brasil. Espero que ele resolva responder logo para que eu possa, enfim, enviar a matéria./ Segue arquivo anexo contendo a matéria a respeito da pesquisadora Johanna Döbereiner. Procurei falar dos benefícios de suas descobertas e um pouco da vida da agrônoma tcheca naturalizada brasileira. Não sei se era bem isso que vc tinha em mente... qq problema, por favor, ligue ou me mande um e-mail./” Depois de eu elogiar a reportagem: “ Ufa... confesso que abri o e-mail com reservas. Ainda bem que está dentro do que vc esperava. Que tudo dará certo, isso eu sei... deu pra sentir só pelo projeto que vc me mandou. Espero, em breve, ver o lay-out da revista./ Fico feliz com o bom andamento dos trabalhos, se bem que eu já esperava mesmo por isso... Ah, muito bacana também o apoio do seu amigo de Uruguaiana. Fiquei sem Internet por uns dias e só agora pude ver as muitas mensagens - e, claro, spams - que recebi./ Antes de mais nada, peço desculpas por não poder comparecer à reunião de quarta-feira. Moro do outro lado do mundo (São Bernardo do Campo) e o horário complica a minha vida. Por outro lado, não seria justo transferir horários por causa de uma única pessoa. / Tendo esse probleminha em vista, me coloco à disposição de vcs, mentores da revista, para qualquer coisa. Vou pensar e ver se chego a alguma boa idéia de patrocínio para as próximas edições. Aliás, seria viável apresentar o projeto a uma editora? Recentemente, uma emissora de rádio de SP conseguiu o relançamento de sua revista através da parceria com a Sisal Editora... não sei, mas seria o caso de buscar algo nesse sentido? Bom, também vou colocar o cérebro para funcionar com o objetivo de criar uma pauta decente - aquela do cupuaçu, descobri que já é produzido na Unicamp o cupulate (chocolate à base de cupuaçu), o que não torna o assunto exatamente uma novidade. Se bem que é algo inovador... vc acha que vale a pena?/ Nossa, me excedi de novo... tentarei, um dia, ter maior poder de síntese.Um abraço, Tatiana/ Estou curiosa para ver o boneco da revista.Vida de frila é flexível (grazie a Dio); marque o dia que ficar bom pra vc e eu dou um jeito na minha agenda.Por hora, é isso.Boa reunião para vcs./ “

ADIVINHOLOGIA - Depois, Tatiana fez outra matéria, sobre astrofísica: “Nei, peço desculpas. Fiquei de entregar a matéria na quinta-feira passada mas fui internada na noite anterior e só tive alta hoje de manhã. Entrego a matéria o mais rápido possível." Preocupado com sua internação, transmiti meus receios e ela respondeu: “ Então, Nei... não sei exatamente o que eu tenho. Cada médico fala uma coisa (até parece que são todos formados em adivinhologia). Não se preocupe: tendo como base a teoria de que vaso ruim não quebra, posso me considerar quase eterna. (rindo) Só contei da internação para te dar um parecer da situação, explicar mesmo a não entrega da matéria no dia em que me comprometi. Comecei a escrevê-la hj à tarde e acho que termino logo mais, à noite. Despreocupe-se./ Segue anexo arquivo contendo a matéria sobre astrofísica. Li, reli e li mais uma vez... mas como ainda estou meio grogue por conta do antibiótico, peço para que vc dê uma boa lida e me mande de volta caso haja coisas sem pé nem cabeça./

Eis a abertura da sua matéria para a segunda edição da Vocare, texto que é um exemplo da sua doçura, do banho poético das suas palavras, ela que sempre sabia sorrir e me fazia visitas rápidas, cheias de consideração e alegria:

Olhos voltados para o céu

O Brasil está entre os cinco países de ponta em astronomia e astrofísica

Tatiana Palombo

Passar as noites acordado, com os olhos fixos no telescópio para observar e contemplar as estrelas e a Lua... Ainda hoje há quem pense que a vida de um astrônomo se resume ao trabalho noturno. Ciência antiga, a astronomia só não antecede o desejo do homem de descobrir o que se passa no céu. Ao conhecer melhor os movimentos do Sol, da Lua e da Terra foi possível criar os calendários, e assim programar as épocas ideais para plantio e colheita. O homem descobriu uma ligação muito próxima entre os ritmos celestes e aqueles que acontecem aqui na Terra. A coincidência entre a época do plantio do milho, por exemplo, e a posição de determinadas estrelas ajudou na criação dos calendários.
Entre os anos de 1800 a 400 a.C. já se desenvolvia na Babilônia (uma das principais cidades da Mesopotâmia, região onde hoje fica o Iraque) estudos muito rigorosos, que calculavam os movimentos do Sol, as fases da Lua, já previam eclipses. Tudo isso porque os estudiosos registravam sempre suas observações e comparavam acontecimentos terrestres e celestes. Isso em uma época em que não havia telescópios ou qualquer outro instrumento óptico sofisticado, mas apenas instrumentos simples como transferidores e compassos. As primeiras lunetas para observação do céu surgiram só a partir do século XVII, com o filósofo, matemático e astrônomo Galileu Galilei (1564-1642).
A partir do século passado, os telescópios se aperfeiçoaram cada vez mais. O Universo ficou aparentemente mais próximo de nós. Com a ajuda de modernos instrumentos e teorias matemáticas aplicadas à prática, o homem começou a conhecer melhor não só as órbitas e as massas dos corpos celestes, mas também suas temperaturas, composições e estruturas. Nos anos 50, Estados Unidos e a antiga União Soviética (hoje Rússia) começaram a brigar para ver quem desenvolvia a melhor tecnologia para chegar na frente na conquista do espaço. O Brasil, considerado obsoleto tecnologicamente durante muitos anos, é atualmente uma das cinco potências mundiais em tecnologia e grau de conhecimento de seus profissionais, cada vez mais reconhecidos no cenário internacional por suas importantes descobertas e projetos.

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